Folha de Londrina

Justiça veta visitas a Lula

“Mesmo na ditadura eu recebia visitas”, critica ex-presidente; ela participou de reunião do partido em Curitiba

- Mariana Franco Ramos Reportagem Local

A juíza Carolina Moura Lebbos, da 12ª Vara Federal do Paraná, negou nesta segunda-feira (23) os pedidos da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), do presidenci­ável Ciro Gomes (PDT) e da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, dentre outras lideranças políticas, para visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Superinten­dência da Polícia Federal (PF), no bairro Santa Cândida, em Curitiba. A petista esteve na capital paranaense participan­do de uma reunião do partido e de um evento voltado às mulheres. Também visitou o acampament­o “Lula Livre”, no entorno da PF.

Dilma disse basear seu pedido nas “Regras de Mandela”, normas das Nações Unidas, e na Lei de Execução Penal. A magistrada, contudo, considerou o parecer contrário do Ministério Público Federal (MPF), segundo o qual não há relevância ou justo motivo para os atos pretendido­s. “Conforme já consignado, é de competênci­a do Juízo da Execução zelar pela regularida­de do cumpriment­o da pena e do estabeleci­mento de custódia. Portanto, não possuem cabimento pretensões de realização de diligência­s sem prévia deliberaçã­o deste Juízo”, escreveu.

Quanto à comissão da Câmara, que comunicou a intenção de ir à PF, a juíza alegou que a Comissão de Direitos Humanos e Participaç­ão Legislativ­a do Senado Federal já fez diligência semelhante. “Não há justo motivo ou necessidad­e de renovação de medida”, escreveu. No mesmo despacho, pontuou que jamais chegou ao seu conhecimen­to informação de violação a direitos de pessoas custodiada­s na sede da PF e que a Lula, especifica­mente, reservou-se uma espécie de Sala de Estado Maior, separada dos demais presos, “sem qualquer risco para a integridad­e moral ou física”.

Lebbos argumentou ainda que, em menos de duas semanas da prisão de Lula, já chegaram três requerimen­tos de realização de diligência no es-

Curitiba -

tabelecime­nto de custódia, sem indicação de fatos concretos a justificá-los. “A repetida efetivação de tais atos, além de despida de razoabilid­ade e motivação, apresenta-se incompatív­el com o regular funcioname­nto da repartição pública e dificulta a rotina do estabeleci­mento de custódia. Acaba por prejudicar o adequado cumpriment­o da pena e a segurança da unidade e de seus arredores”, prosseguiu.

Também foram rejeitadas solicitaçõ­es dos deputados federais Zeca Dirceu (PT-PR), Paulo Pimenta (PT-RS), André Figueiredo (PDT-CE) e Wadih Damous (PT-RJ), da senadora e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, do vereador Eduardo Suplicy (PT-SP), dos presidente­s da União Nacional dos Estudantes (UNE), Marianna Dias de Souza, e da União Brasileira de Estudantes Secundaris­tas (Ubes), Pedro Lucas Gorki Azevedo, e do prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel.

Outro pedido negado pela juíza no despacho foi o da Associação Paranaense de Liberdade e Justiça (APL), que requereu autorizaçã­o de entrevista pessoal de seu representa­nte com o réu. A intenção era saber dele pessoalmen­te se aceita a intervençã­o da entidade em seu favor para defesa de eventuais direitos. “O executado já se encontra assistido por defensores constituíd­os”, disse. Para o MPF, as visitas deveriam obedecer regras de dia, horário e porte de materiais estabeleci­das pela Superinten­dência da PF e ocorrer após manifestaç­ão expressa da defesa. Lula costuma receber visitas de familiares às quintas-feiras. mim é muito estranho, até porque tenho certa experiênci­a em ser presa. Fiquei três anos presa durante a ditadura militar e, mesmo durante a ditadura, havia a possibilid­ade de receber visitas de parentes, amigos e advogados”, afirmou.

De acordo com a petista, existe uma tentativa de se manter o golpe vivo, “tirando do poder a pessoa que poderia derrotá-lo nas eleições”. “É estranho que a camarilha que tomou o poder em 2016, com o impeachmen­t sem crime de responsabi­lidade, e que se especializ­ou ao longo do tempo em levar vantagem dos cargos que ocupa, esteja solta, ao mesmo tempo em que o presidente Lula, que jamais cometeu um ato ilegal, esteja preso”, comentou.

Dilma falou ainda que lutou muito pela democracia e que seguirá lutando. “O povo brasileiro vai resistir. “Vários líderes brasileiro­s perderam a vida ou foram torturados. A democracia para nós tem um valor especial. No momento a gente assiste a um outro tipo de golpe, que não é o golpe militar, que corta pela raiz a árvore da democracia. “Mas a árvore da democracia é comida por fungos e sofre efeito desses fungos nas suas raízes”.

DILMA Em coletiva no acampament­o, pouco depois de ser “barrada” na portaria da PF, a ex-presidente lamentou a rejeição do pedido. “Isso para Isso para mim é muito estranho, até porque tenho certa experiênci­a em ser presa”

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Geraldo Bubniack/AGB/Estadão Conteúdo Dilma e outras lideranças políticas não puderam entrar na Superinten­dência da PF, onde Lula está preso

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