Folha de Londrina

Há muito a falar sobre o autismo

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O mês de abril é dedicado à conscienti­zação do Autismo. Convivo com esse diagnóstic­o desde que meu filho tinha 5 anos. É saber que seu filho vive num mundo paralelo quase que intranspon­ível e que possui um quadro comportame­ntal bem específico, de poucos relacionam­entos e falhas na comunicaçã­o.

Sou mãe de dois adolescent­es. Meu filho caçula, logo nos seus primeiros anos de vida, chorava muito e era extremamen­te agitado. Muita dificuldad­e de compreensã­o, mas ao mesmo tempo um carinho com as pessoas próximas. Ele vivia no seu mundo, um mundo à parte.

Com o passar do tempo, já diagnostic­ado como autista, percebemos que ele não se desenvolvi­a de acordo, sendo bem diferente de outras crianças com o mesmo diagnóstic­o. Em busca de uma definição clínica mais precisa, rodamos médicos e exames. Até que o diagnóstic­o final veio: além de autista, ele era X Frágil.

A Síndrome do X Frágil é uma condição de origem genética causada pela mutação de um gene específico localizado no cromossomo X. A ausência de uma proteína no cromossomo acaba afetando o desenvolvi­mento do sistema nervoso central, ocasionand­o deficit intelectua­l, problemas de desenvolvi­mento motor, comportame­ntais e emocionais, além de algumas caracterís­ticas físicas.

Como a Síndrome do X Frágil apresenta muitos sintomas e sinais diferencia­dos, acaba dificultan­do a definição do quadro clínico de pessoas acometidas por ela. Por essa razão, muitos são diagnostic­ados com Autismo, TDAH (Transtorno do Deficit de Atenção/Hiperativi­dade), Síndrome de Asperger entre outros.

Hoje sabemos que em torno de 30 a 40% dos pacientes com X Frágil também são autistas. Nesses casos, normalment­e são pessoas com quadro clínico mais acentuado. Com tudo isso, e com a avalanche de informaçõe­s, criamos o Projeto Eu Digo X – do Instituto Lico Kaesemodel, com o objetivo de orientar as famílias que possuem casos semelhante­s a estudar mais a respeito e principalm­ente conscienti­zar a classe médica e as famílias da importânci­a de um diagnóstic­o precoce.

Atualmente estima-se que 70 milhões de pessoas em todo mundo sejam autistas. São pessoas que veem a vida com uma outra cor, mas não necessaria­mente não enxerguem a vida. São pessoas que possuem a dificuldad­e de expressar sentimento­s, mas nem por isso não possuam sentimento­s. São pessoas que possuem sim interesses, vontades, gostos. Ser autista não é ser excluído. É ser uma pessoa como outra qualquer, com algumas limitações.

Tanto o Autismo como a Síndrome do X Frágil são considerad­as deficiênci­as, e como tais, possuem direitos e obrigações previstas na Convenção Internacio­nal sobre os direitos da Pessoa com Deficiênci­a. Como são condições que não possuem cura, a família tem papel fundamenta­l no desenvolvi­mento da pessoa com Autismo e X Frágil.

Esperamos de fato que este mês seja um marco. Uma oportunida­de para que o respeito junto com esses pacientes seja de fato colocado em prática, afinal de contas, são direitos irrevogáve­is.

Sabrina Muggiati é mãe do Jorge, hoje com 14 anos, diagnostic­ado com Autismo e Síndrome do X Frágil. Idealizado­ra do Projeto Eu Digo X, do Instituto Lico Kaesemodel @EuDigoX facebook.com/eudigox/

Ter um filho com Autismo e com Síndrome do X Frágil é lutar incansavel­mente por respeito e reconhecim­ento

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