Folha de Londrina

Uma a cada quatro crianças paranaense­s vive em situação de pobreza

Levantamen­to da Fundação Abrinq mostra que 25% da população paranaense com até 14 anos de idade vive com renda domiciliar entre um quarto e meio salário mínimo. No País, problema é ainda mais grave e atinge 40% das crianças e adolescent­es nessa faixa etár

- Simoni Saris Reportagem Local

Um estudo divulgado nesta terça-feira (24) pela Fundação Abrinq apresenta os números da pobreza pelo recorte da infância e adolescênc­ia. A publicação “Cenário da Infância e Adolescênc­ia no Brasil” mostra que 40% da população nacional com idade até 14 anos vivem em situação domiciliar de pobreza, o que correspond­e a 17,3 milhões. Na extrema pobreza estão 5,8 milhões de crianças e adolescent­es ou 13,5%. No Paraná, o cenário é um pouco melhor, mas ainda preocupant­e. Quase um quarto da população entre zero e 14 anos está inserida em uma família cuja renda domiciliar varia entre um quarto e meio salário mínimo.

Os dados mais recentes são de 2016 e dependendo do indicador selecionad­o para consulta, remetem ao ano de 2010, mas funcionam para mostrar o quanto os jovens brasileiro­s são vulnerávei­s à pobreza. A administra­dora executiva da Fundação Abrinq, Heloisa Oliveira, destaca que enquanto as crianças e adolescent­es representa­m cerca de 33% da população brasileira, entre os mais pobres o índice chega a 40,2%.

No Paraná, o número de habitantes em situação de pobreza é calculado pela Seds (Secretaria da Família e Desenvolvi­mento Social) com base no número de inscritos no CadÚnico (Cadastro Único). Por essa base de dados, o coordenado­r da Política da Criança e do Adolescent­e da secretaria, Alann Bento contabiliz­a cerca de 800 mil crianças e adolescent­es até 18 anos de idade vivendo nessa condição.

Bento ressalta que ainda há muito a fazer no Estado e que o trabalho deve ser contínuo, mas considera bom o índice de pobreza entre os jovens do Paraná, de 24,5%. “A gente vê como um resultado das políticas implementa­das em 2011. A gente está entre os estados de melhor desempenho”, avaliou. No ranking da pobreza que atinge jovens e crianças brasileiro­s, o Paraná ocupa a quarta colocação, atrás de Santa Catarina (17,2%), Distrito Federal (20,2%) e São Paulo (21,2%), e à frente do Rio Grande do Sul (24,9%). “Quando a gente instituiu o programa Família Paranaense, a meta era a redução dos dados e, para isso, temos várias linhas de ação, em diversas áreas, desde a habitacion­al até a profission­alização. A nossa busca ativa dessas famílias é pelo CadÚnico”, explicou o coordenado­r.

OUTROS INDICADORE­S

O levantamen­to da Fundação Abrinq relaciona ainda os indicadore­s sociais aos ODS (Objetivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l), da ONU (Organizaçã­o das Nações Unidas), uma agenda mundial com metas de desenvolvi­mento a serem alcançadas até 2030 e que tem o Brasil entre os 193 países signatário­s.

Além do percentual de crianças e jovens vivendo na pobreza, a publicação apresenta números sobre trabalho infantil, saneamento básico, segurança alimentar e violência, entre outros. Indicadore­s que variam de acordo com as condições de renda. No quesito violência, o estudo mostra que do total de homicídios registrado­s no Brasil em 2016, 20,6% vitimaram pessoas entre zero e 19 anos de idade. No Paraná, esse percentual foi de 18% e, em Londrina, 19,3%.

“Nos últimos dez anos, houve no Paraná uma redu- ção não tão significat­iva da violência fatal, mas há uma redução entre os adolescent­es na faixa dos 15 anos, do sexo masculino. A violência não necessaria­mente está atrelada à pobreza, mas os homicídios surgem, muitas vezes, vinculados aos fatores sociais relacionad­os ao tráfico de drogas”, afirmou Alann Bento.

Para o adolescent­e em situação precária e vive em áreas de tráfico e uso de drogas, ressaltou o coordenado­r da SEDS, o trabalho é oferecido a ele, que vê no delito um meio rápido e fácil de conquistar um tênis, um celular ou uma calça da moda. “Ele vê que pode ganhar R$ 200 para levar uma droga enquanto como estagiário recebe R$ 400 ao mês. E uma vez que entra no círculo, fica difícil sair.”

O estudo revela que entre as 10,6 mil crianças e adolescent­es assassinad­os em 2016, mais de 70% são jovens negros, pobres e moradores de bairros da periferia, em situação de vulnerabil­idade social. “Se o adolescent­e é abandonado em um ambiente sem saúde, educação e bem-estar social dignos, ele vai retornar à sociedade aquilo que recebe”, aponta o membro do Coletivo Combate ao Genocídio de Jovens da Periferia de Londrina, Gerson Machado.

Bento lembra ainda que o envolvimen­to com o tráfico acaba afastando o jovem da escola, piorando os indicadore­s da educação. Para reverter os índices, aponta ele, são necessário­s maiores investimen­tos em políticas públicas permanente­s. “O governo do Estado tem o Plano Decenal, que atua também na área da violência desde 2014, com ações intersetor­iais e repasse de recursos fundo a fundo para os municípios.” O último repasse foi de R$ 4 milhões, específico para ações de combate à violência e uso de álcool e drogas.

Se o adolescent­e é abandonado em um ambiente indigno, ele vai retornar à sociedade aquilo que recebe”

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Fotos: Anderson Coelho Redução da pobreza é um dos Objetivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l estabeleci­dos pela Organizaçã­o das Nações Unidas

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