Folha de Londrina

A pobreza no caminho das crianças

- opiniao@folhadelon­drina.com.br

Quatro em cada dez crianças vivem em situação de pobreza no Brasil. Uma informação assustador­a e constrange­dora, divulgada nesta terça-feira (24) pela Fundação Abrinq por meio do relatório Cenário da Infância e Adolescênc­ia no Brasil. O estudo, que utilizou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a, apontou que cerca de 17 milhões de crianças até 14 anos – o que equivale a 40,2% da população brasileira nessa faixa etária – vivem em domicílios de baixa renda. Os piores índices estão no Norte e no Nordeste, onde mais da metade das crianças [60,6% e 54%, respectiva­mente] vive com renda domiciliar per capita mensal igual ou inferior a meio salário mínimo. Desse total, 5,8 milhões vivem em situação de extrema pobreza, caracteriz­ada quando a renda per capita é inferior a 25% do salário mínimo.

É um panorama preocupant­e. A publicação reúne 23 indicadore­s sociais, divididos em temas como trabalho infantil, saneamento básico, mortalidad­e e educação. Um dos temas abordados é a violência contra as crianças e adolescent­es. O ano pesquisado, 2015, registrou que 10.465 crianças e jovens até 19 anos foram assassinad­os no Brasil, o que correspond­e a 18,4% dos homicídios cometidos no País naquele período. Em mais de 80% dos casos, a morte ocorreu por uso de armas de fogo. Novamente a Região Nordeste concentra a maior parte desses homicídios (4.564 casos), sendo 3.904 por arma de fogo. A publicação também mostra que 153 mil denúncias de violações de direitos de crianças e adolescent­es chegaram ao Disque 100 em 2015, sendo que em 72,8% das ligações a denúncia se referia a casos de negligênci­a. E ainda com base em dados oficiais, o documento revelou que as condições do trabalho infantil estão mais precárias.

Embora tenha diminuído o número de crianças e adolescent­es em situação de trabalho infantil na faixa de 10 a 17 anos [redução de cerca de 659 mil crianças e adolescent­es ocupados em 2015 em comparação a 2014], houve aumento de 8,5 mil crianças de 5 a 9 anos ocupadas. Entre os dados positivos, aumentou a taxa de cobertura em creches, que passou de 28,4% em 2014 para 30,4% em 2015. Um avanço importante, mas muito tímido quando se pensa que a meta estabeleci­da pelo Plano Nacional de Educação é de chegar a 50% até 2024.

A divulgação da pesquisa é oportuna, consideran­do que os pré-candidatos a cargos nos governos federal, estaduais e Congresso começam a apresentar suas plataforma­s e planos de governo. Uma oportunida­de do eleitor analisar as propostas que os aspirantes aos cargos têm para garantir um futuro melhor às crianças brasileira­s.

18,4% dos homicídios cometidos no País em 2015 tiveram jovens de até 19 anos como vítimas”

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