‘O tráfico está 24 horas aqui’

Morador do Residencial Vista Bela, zona norte de Londrina, desde 2014, o rapper e educador social Leandro Palmerah observa todos os entraves que a ausência de políticas públicas impõe aos moradores da periferia. O bairro foi criado em 2011 e apenas neste ano é que começou a funcionar a primeira escola. “Uma década para uma escola chegar a um bairro em um país que diz ser pátria educadora é muita coisa. Elimina por completo a chance de um jovem. Ele perdeu a juventude dele. Vai ver quantos jovens daqui estão no ensino médio, só 10% ou 15%”, critica. “Tem gente que quer comparar a gente com a população ribeirinha no Amazonas, mas a gente não está lá. A gente está aqui, no Paraná. Não é melhor, mas é mais desenvolvido. Estamos em uma cidade que é uma das maiores do Sul do País, com um PIB (Produto Interno Bruto) bom e sofre com esse tipo de situação.”

Mas se a educação é uma das principais falhas no bairro que começou com 12 mil habitantes e hoje já concentra 18 mil moradores, há outras dificuldades que interferem igualmente nos indicadores sociais. “Tem a violência, mas tem também a violência simbólica, que é o preconceito e a exclusão racial e social. Eu, que tenho 36 anos de periferia, sofri e ainda sofro. Estou fora da estatística.”, comenta.

Palmerah defende a implementação de políticas públicas públicas direcionadas especialmente na criança, antes mesmo de ela nascer. “É preciso criar uma estratégia para que as crianças cresçam com saúde senão o tráfico vai pegar. O tráfico está 24 horas aqui. O tráfico não para e hoje é a ‘melhor opção’ para muitos jovens.”