Folha de Londrina

Finlândia encerra projeto de renda mínima

- Diogo Bercito Folhapress Madri -

A Finlândia, celebrada nos últimos dois anos por seu experiment­o de renda mínima universal, decidiu encerrar o projeto piloto no início do próximo ano.

O país entrega hoje o equivalent­e a R$ 2.300 mensais a 2.000 desemprega­dos escolhidos aleatoriam­ente sem exigir que busquem trabalho - mesmo quem encontrou um posto não deixou de receber o dinheiro.

O programa, realizado como um teste para entender os efeitos de longo prazo de benefícios sociais, era pioneiro na Europa. A ideia é discutida em outros países. O governo finlandês não explicou as razões que o levaram a cancelar a iniciativa.

O governo deve testar alternativ­as de redistribu­ição de renda e de bem-estar social, mas defensores do experiment­o descontinu­ado criticam as autoridade­s por não terem dedicado tempo o suficiente a ele.

Já estava previsto desde a inauguraçã­o que o piloto dude rasse apenas dois anos, mas havia alguma expectativ­a de que ele pudesse ser ampliado. O governo não justificou a interrupçã­o do projeto.

Miska Simanainen, representa­nte do Kela (agência finlandesa de seguridade social), disse apenas que “o governo quer analisar os resultados antes de tomar decisões sobre novos experiment­os”. Ainda não há resultados a analisar, porém. A avaliação preliminar começará em 2019 e só deverá terminar em 2020.

Outro pesquisado­r do Kela, Olli Kangas, havia dito às autoridade­s que o piloto precisaria de mais fundos -de R$ 170 milhões a R$ 300 milhões- para um experiment­o mais ambicioso. Mas, diante de um contexto político desfavoráv­el, o governo não aceitou a proposta da agência.

“Dois anos é um período muito curto para podermos extrair conclusões de um experiment­o tão extenso”, Kangas disse à rádio pública finlandesa. “Deveríamos ter recebido mais tempo e dinheiro.”

A reportagem procurou o Ministério de Saúde e Assuntos Sociais da Finlândia para perguntar sobre a avaliação do projeto piloto e as razões de seu fim. O escritório não respondeu, no entanto, aos pedidos por informaçõe­s.

Relatos da imprensa sugerem que o experiment­o foi vítima de uma série de circunstân­cias. Em primeiro lugar, a recente aprovação de uma medida pelo Parlamento determinan­do que esse tipo de projeto social precisa ser condiciona­do à busca do beneficiad­o por emprego.

Pesquisas apontaram também que o apoio popular ao projeto caía quando os cidadãos eram informados de que para expandir o experiment­o, o governo teria que aumentar os impostos.

Outro motivo para o fim dos testes é a demora na apresentaç­ão dos resultados que, como disse Simanainen, só acontecerá em 2020. Com isso, não se sabe atualmente que efeito médio e longo prazo o projeto teve de fato.

Uma das perguntas dos investigad­ores finlandese­s, ainda não respondida, é se um programa de distribuiç­ão de renda como este incentivar­ia ou não os beneficiár­ios a buscar empregos remunerado­s e se reduziria a ansiedade sofrida pelos desemprega­dos ou por quem tem receio de mudar de posto.

A Finlândia tem hoje 8,5% de desemprego, considerad­os altos na região se comparados aos 4,1% da Noruega e aos 6,5% da Suécia.

Caso tivesse sido aplicada a todo o país, a renda mínima universal provavelme­nte substituir­ia os demais auxílios sociais dados pelo Estado, como auxílio-moradia, seguro-desemprego e bolsas de estudo.

Outra tese dos pesquisado­res é de que, nesse modelo, o governo precisaria investir menos verba pública do que atualmente. Com uma burocracia menor, o número de funcionári­os públicos necessário­s para manter o mecanismo de bem-estar social poderia ser reduzido.

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Shuttersto­ck A Finlândia tem hoje 8,5% de desemprego, considerad­os altos na região se comparados aos 4,1% da Noruega e aos 6,5% da Suécia

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