Folha de Londrina

A grande imprensa e os contrários

- WALMOR MACCARINI, jornalista

As esquerdas culpam a denominada “grande imprensa” pelo que há de errado no Brasil, mas ignoram que, se ela tem suas posições, que contrariam grupos ideológico­s radicais, é também policiador­a de desmandos, em todos os campos da atividade humana, e tem uma relevante história de defesa das causas democrátic­as e dos cidadãos. E por seguir esses princípios, tem obviamente que ser parcial, não podendo ser neutra diante das tiranias, da corrupção, da irresponsa­bilidade, da indiferenç­a, da incapacida­de, da frouxidão e da inoperânci­a dos governos; e por extensão, de todos aqueles que causem prejuízo ao bem comum. Recorda-se que foi anseio e tentativa do petismo então no poder estabelece­r limites à livre manifestaç­ão de jornais, tvs, rádio e redes sociais, bem à moda dos regimes totalitári­os. E sabe-se que os Poderes da República - embora o que, convenient­emente, alguns de seus representa­ntes pregam em suas falas - gostariam de ser poupados da vigilância da imprensa.

Na época do regime militar os veículos de comunicaçã­o também foram censurados, porque havia o propósito de evitar que os contrários tumultuass­em o processo, que não visava a perpetuaçã­o no poder mas a contenção do avanço do comunismo de origem soviética, que visava dominar o mundo. Naqueles anos, a maioria da opinião pública apoiava a intervençã­o e não sentia o peso da censura, até porque o cerceament­o da livre manifestaç­ão não molestava o povo, que levava a vida normalment­e e sentia-se até mais seguro. Os contrários éramos nós, jornalista­s, as comunidade­s dos sociólogos, os políticos não engajados e os intelectua­is mais proeminent­es. É, óbvio, todos contra a tortura.

Mas um ponto que desejo focar era a denominada imprensa alternativ­a. O nome sugere uma opção, mas na verdade era imprensa antagônica, ideológica, pois se insurgia contra o regime e não criticava os políticos e manifestan­tes de esquerda, enfim os seus iguais. Sim, também ela, aí, assumia uma clara parcialida­de. Veículos fortes na época eram os nanicos “Opinião”, “O Pasquim”,

“Movimento” e o jornal “Brasil Mulher”. Este pregava a anistia a presos políticos e era impresso na gráfica da FOLHA DE LONDRINA (que não tinha vínculo com o conteúdo editorial desse tabloide). A editora era Joana Lopes, diretora de teatro e declarada extremista de esquerda. (Cito seu nome porque ela era daqui).

Nunca houve no Brasil imprensa alternativ­a, e ela poderia ser detentora desse título se também se ocupasse de criticar a violência da guerrilha e outras ações radicais das esquerdas. No que resultaram tais publicaçõe­s? Em muito pouco de útil, pois não eram lidas pelos detentores do poder mas apenas pelas próprias esquerdas. Talvez tenham influencia­do e dado visibilida­de, no universo de seus adeptos, às ações sócio-políticas - os movimentos sociais. Quando Florestan Fernandes, destacado sociólogo, escritor, jornalista, ícone da intelectua­lidade brasileira e esquerdist­a, visitou este Jornal, ousei sugerir-lhe que melhor seria buscarem espaços na imprensa convencion­al, e dizer o que queriam, e assim seriam lidos também pelas direitas. O “Estadão”, o jornal mais circunspec­to e marcadamen­te defensor do regime militar, porém liberal e ético, já publicava artigos de Frei Beto, de José Genuíno, destacados reacionári­os de esquerda. Viria depois a abertura gradual proposta pelo presidente Ernesto Geisel, a Lei da Anistia e a Constituiç­ão de 1988, e a denominada imprensa alternativ­a diluiu-se, por sua própria conta.

Nunca houve no Brasil jornais alternativ­os, pois eles não eram opção e sim contrários ao regime

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