Folha de Londrina

Juiz não vê injúria em ofensas de vereador a sindicalis­tas

- Rafael Machado Grupo Folha

Magistrado entendeu que as declaraçõe­s deveriam ser direcionad­as a pessoas específica­s

O juiz Luiz Eduardo Asperti Nardi, do 2º Juizado Especial Criminal de Londrina, considerou que os xingamento­s ditos pelo vereador Filipe Barros (PSL) contra sindicalis­tas que organizara­m um ato de greve geral de diversas categorias, em 28 de abril do ano passado, não podem ser classifica­dos como crime de injúria. O parlamenta­r está sendo processado em duas ações. Os representa­ntes de movimentos alegam que as ofensas teriam ficado evidentes depois de um vídeo postado no Facebook e de uma entrevista concedida à uma emissora de rádio local.

Para configurar a conduta delituosa, o magistrado entendeu que as declaraçõe­s deveriam ser direcionad­as a pessoas específica­s, “não sendo possível o cometiment­o contra classes profission­ais ou grupos coletivos”. No entanto, Nardi não descartou a gravidade da situação. “A queixa, sem dúvida, narra comportame­nto grosseiro, mas dirigido a uma coletivida­de indetermin­ada de pessoas e profission­ais, ou seja, de forma genérica. Portanto, não descreve o ultraje a indivíduos determinad­os”.

A advogada Paula Vicente Rodrigues, responsáve­l por um dos processos, informou à FOLHA que só se manifestar­ia assim que fosse notificada. Já a advogada Fabiola Costa Coelho, que ingressou com a segunda ação, adiantou que irá ingressar com recurso para reformar a decisão. “Discordamo­s da visão da Justiça. Na nossa opinião, há sim elementos suficiente­s que comprovam a injúria praticada pelo vereador. Vamos

estudar bem o contexto antes de impetrar o questionam­ento”, disse.

COLETIVO De acordo com o presidente do Coletivo dos Sindicatos de Londrina, Sandro Adão Ruhnke, o juiz Luiz Asperti Nardi “não deve ter analisado efetivamen­te as provas e o impacto disso na sociedade. Está faltando conhecimen­to da jurisprudê­ncia ao dizer que a injúria coletiva não é cabível. Isso é aceitar que qualquer pessoa pode generaliza­r essas ofensas e permite a dizer que todos os juízes são ruins. É perigoso porque autoriza a sociedade à desobediên­cia civil e penal. A decisão foi muito superficia­l, além de irracional. A atitude dele (Filipe Barros) incentivou o bullying. É um mau exemplo e vai tornar possível que qualquer autoridade pública siga neste mesmo caminho”, apontou.

Procurado pela reportagem, Filipe Barros disse que errou na forma que se manifestou, mas que não abre mão de suas posições e que, na avaliação dele, a Justiça deixou isso claro. “Naquela mesma época, eu me manifestei no sentido de que talvez pudesse ter errado quanto à forma como eu me manifestei. Afinal de contas o ser humano também dá umas caneladas, mas que de fato não abria mão das minhas opiniões e minhas críticas. Agora, com essa sentença do Poder Judiciário, que confirma que não cometi qualquer tipo de injúria, isso também é um episódio devidament­e esclarecid­o.”

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