Folha de Londrina

STF abre brecha para Lula anular condenação

Especialis­tas apontam que o entendimen­to da Segunda Turma de retirar trechos da delação da Odebrecht reforça o argumento de que Sergio Moro não tinha competênci­a para julgar o processo

- Amanda Pupo Rafael Moraes Moura Agência Estado

Brasília -

A decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que retirou do juiz federal Sérgio Moro trechos da delação da Odebrecht abre uma forte brecha para a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anular a condenação no caso do triplex no Guarujá, afirmam especialis­tas ouvidos pelo Grupo Estado.

Por maioria, os ministros decidiram na última terçafeira (24) remeter à Justiça de São Paulo os trechos da delação de ex-executivos que relatam fatos sobre as reformas no sítio de Atibaia e o terreno onde seria sediado o Instituto Lula.

Segundo a reportagem apurou, advogados com clientes alvos da Lava Jato pretendem esperar a publicação do acórdão do julgamento da Segunda Turma para avaliar se também entram com pedidos similares ao da defesa do petista.

Inicialmen­te, como o caso do triplex é apontado como uma propina da OAS, a decisão da turma não teria influência direta na condenação de Lula. No entanto, especialis­tas apontam que o entendimen­to firmado na terça-feira reforça o argumento dos advogados do petista de que Moro não tinha competênci­a para julgar o processo, por não ter relação direta com os crimes cometidos no âmbito da Petrobras. Lula está preso desde o início de abril pela condenação no caso do triplex.

Na resposta aos embargos de declaração contra a sentença, Moro escreve que a propina para Lula, na forma do apartament­o, não tem ligação explícita com o escândalo de corrupção da estatal. “Este Juízo jamais afirmou, na sentença ou em lugar algum, que os valores obtidos pela construtor­a OAS nos contratos com a Petrobras foram utilizados para pagamento da vantagem indevida para o ex-presidente”, diz o magistrado na sentença.

EFEITO SUSPENSIVO

O advogado Adib Abdouni destaca que a resposta de Moro é um ponto central para a defesa de Lula tentar anular no Superior Tribunal de Justiça (STJ) sua condenação, a partir dos fatos novos que surgiram com a decisão do Supremo.

Para Adib, com isso, ganha força a argumentaç­ão que a defesa de Lula traz nos recursos aos tribunais superiores, apresentad­os nesta segundafei­ra (23). O advogado alerta que a defesa inclusive tem justificat­ivas para pedir, atra- vés de medida cautelar, o efeito suspensivo da condenação no STJ ou STF. “Como existem elementos que possam vir a anular todo o processo, eles têm argumentos para conseguir essa liminar”, entende o advogado

“Gera no mínimo dúvida a respeito da competênci­a do juiz de Curitiba, a partir da decisão de ontem. Se a delação referente a fatos não relacionad­os com a Petrobras não deveriam estar em Curitiba, por que outros (sem relação explícita) deveriam estar lá?”, questiona o professor João Paulo Martinelli, do Instituto de Direito Público de São Paulo (IDP-SP).

O advogado criminalis­ta Fernando Castelo Branco lembra que, nos recursos apresentad­os em Cortes Superiores, a defesa não pode apresentar argumentos inéditos. “A competênci­a de Moro é contestada desde o início do processo. Esse argumento já foi apresentad­o”, destaca o especialis­ta.

“É uma questão que todos nós, advogados, mesmo quem não trabalha na Lava Jato, esperava. Esperávamo­s uma decisão dessa há muito tempo. Infelizmen­te, criouse no Brasil a figura do juiz nacional, o juiz com jurisdição nacional. Quase um juiz de exceção”, disse o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que tem como clientes investigad­os pela Lava Jato.

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Leandro Leal/Agência Free Lance/Estadão Conteúdo Sergio Moro, juiz da Lava Jato
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