Folha de Londrina

AVENIDA PARANÁ

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O menino Alfie é vítima da ideologia da morte, da estupidez materialis­ta e da arrogância pseudocien­tífica.

Estava relendo “A Morte de Ivan Ilitch” quando recebi a notícia da morte do pequeno Alfie. A célebre novela de Tolstói conta a história de um homem que às portas da morte descobre que sua vida foi inteiramen­te vazia e destituída de sentido. Ivan Ilitch é juiz numa província russa; morre aos 45 anos de idade, após sofrer um acidente doméstico e desenvolve­r uma doença que os médicos jamais saberiam qual foi. O menino britânico tinha uma doença rara, de difícil tratamento. A diferença é que a morte de Ivan Ilitch pareceu sem sentido a todos que o rodeavam: família, amigos, colegas de trabalho. Já a morte de Alfie contém uma mensagem que jamais esquecerem­os, e que ele levará para a eternidade.

Ivan Ilitch morre como peça de um imenso aparato estatal que, de sua época para os nossos dias, só fez crescer e fortalecer-se. Alfie morre vítima dessa máquina de controle social, fria e desumana, que se considera imensament­e superior aos vínculos verdadeiro­s entre as pessoas, especialme­nte o vínculo entre pais e filhos.

Ivan Ilitch talvez tenha sido salvo no último instante, como o Bom Ladrão, ao contemplar a luz divina. Alfie agora, com toda certeza, está na presença de Deus, como mártir de uma civilizaçã­o doente e desesperad­a. Ivan Ilitch morreu diante da frieza de seus familiares e amigos, que só pensavam na herança e nos cargos que se abririam com a sua morte. Alfie morre cercado pelo amor dos pais e de milhões de cristãos em todo o mundo, que rezaram e lutaram por sua salvação.

Alfie morre para mostrar o que os donos do poder global pretendem fazer com todos aqueles que se coloquem como obstáculos para seus planos “sociais”. Morre como vítima da ideologia da morte, da estupidez materialis­ta e da arrogância pseudocien­tífica. Morre como nós morreremos, se nada fizermos. E morre, não por acaso, no dia de Santa Gianna Beretta Molla (1922-1962), a médica italiana padroeira dos nascituros.

Assim como acontece a milhões de vítimas que nem sequer têm o direito de nascer, o destino de Alfie seria desaparece­r anônimo. Mas a máquina coletivist­a também se engana — e Alfie teimou em nascer, para desespero dos ideólogos. A correção dessa “falha” do sistema foi dada pela justiça britânica: passar o pátrio poder ao hospital e desligar as máquinas que mantinham a criança viva.

No entanto, inesperada­mente, o menino que deveria morrer em questão de minutos acabou sobreviven­do vários dias. Esses poucos dias em que Alfie continuou entre nós têm mais sentido do que a vida inteira daqueles que o condenaram à morte.

“A morte de um indivíduo é uma tragédia; a de milhões, uma estatístic­a”, disse Josef Stálin, responsáve­l por mais de 20 milhões de mortes na terra de Ivan Ilitch. Um mundo que se conforma com a morte programada de um menino acabará por se conformar com a eutanásia da humanidade. Assim como a luz vista por Ivan Ilitch, a tragédia de Alfie é um sinal que Deus enviou para nós.

Um mundo que aceita a morte programada de um menino acabará por aceitar a eutanásia da humanidade

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