Folha de Londrina

A morte da árvore símbolo da zona leste

- Vítor Ogawa Reportagem Local

A figueira símbolo da avenida Robert Koch (zona leste de Londrina) está com os dias contados. A estimativa da Sema (Secretaria Municipal de Meio Ambiente) é que até o fim de maio ela seja totalmente erradicada. O problema é que a árvore está em estado de senescênci­a, ou seja, está na fase final de sua vida. Um dos sintomas mais recentes ocorreu há dez dias, quando houve a queda de um galho. Não era um galho pequeno, mas de diâmetro próximo a 80 cm e com mais de sete metros de compriment­o. A sorte é que ele não caiu na pista, mas na alça de retorno. Além disso, a queda aconteceu de madrugada. Depois desse episódio um técnico da Sema foi ao local para avaliar a árvore e concluiu que chegou a hora de erradicá-la.

“Quando está no ambiente natural uma árvore dessas vive aproximada­mente 100 anos. Quando se tira desse habitat natural, começa a apresentar problemas. No local onde está inserida tem um grande fluxo de veículos. Graças a Deus o galho não caiu no lado da pista da avenida. A Sema é a primeira interessad­a em manter a árvore e é nossa responsabi­lidade preservar o vegetal, mas acima disso temos a responsabi­lidade de preservar as vidas das pessoas”, afirmou a gerente de áreas verdes da Sema, Simone de Oliveira Fernandes Vecchiatti.

Ela entende que houve comoção entre os admiradore­s da árvore, mas as quedas recorrente­s de galho apontavam que chegou ao ponto final da sua vida. No seu auge a figueira possuía um esplendor inigualáve­l na área urbana, com sua copa frondosa e imponente a ponto do traçado da avenida ter respeitado a sua presença. Quando a reportagem “A grande árvore” foi publicada pela Folha em 2014, o exemplar estava com 22 metros de altura e a copa com 35 metros de compriment­o, alcançando as duas calçadas da avenida Robert Koch, como se formasse um portal. Em outra reportagem publicada em 2017, o biólogo Moacyr Medri já havia identifica­do que a árvore estava na fase final de sua vida.

Para o industrial Agostinho Álvaro Marioto, esse período foi muito difícil, já que seu estabeleci­mento corria rico de ser atingido pelos galhos. Tanto que ele pediu e teve autorizaçã­o da Sema para realizar uma poda. Porém, foi impedido por algumas pessoas. “Até a polícia veio aqui por causa disso. A árvore já estava cheia de cupim. Já passou da hora de cortar e tirar tudo isso aí.”

A dona de casa Lúcia Martins de Oliveira reside nas proximidad­es da figueira e há 18 anos convive com a árvore. “Ela era linda. Mas a negligênci­a foi grande e ela morreu. Dizem que alguém se incomodou com ela e a envenenou. Quando perceberam já era tarde demais”, afirmou. Ela diz que a poda foi um mal necessário, já que caíram galhos sobre pessoas. “A gente tem que aceitar para doer menos. Não fui eu quem plantei, mas é vida. Ela era muito linda, muito bonita, muito saudável.”

A gerente da Sema afirmou que a necessidad­e de poda em outros pontos da cidade pode tornar a erradicaçã­o da árvore mais lenta, porque não é possível manter uma equipe dedicada apenas para a figueira. “Nós eliminamos o problema principal e iremos tirar o restante aos poucos”, projetou. Ela informou que a madeira não serve para lenha, tampouco para a confecção de móveis, porque a madeira é mole e solta uma resina. “Vamos triturar e dar destinação adequada a esse material.”

A Sema possui planos de plantar outra outra árvore no local. “Ainda não definimos qual a espécie, mas a figueira não está adequada para o meio”, apontou.

Seja qual espécie for escolhida, não terá a mesma imponência da figueira. A grande árvore da avenida Robert Koch ficará apenas nos registros fotográfic­os ou na memória dos que conviveram com ela. Deixará em todos uma saudade imensa, do tamanho da sombra que proporcion­ou ao longo dos anos.

“A gente tem que aceitar para doer menos; ela era muito linda”

 ?? Ricardo Chicarelli ?? Figueira da avenida Robert Kock será totalmente erradicada até o fim de maio, segundo a Sema
Ricardo Chicarelli Figueira da avenida Robert Kock será totalmente erradicada até o fim de maio, segundo a Sema

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