A morte da árvore símbolo da zona leste
A figueira símbolo da avenida Robert Koch (zona leste de Londrina) está com os dias contados. A estimativa da Sema (Secretaria Municipal de Meio Ambiente) é que até o fim de maio ela seja totalmente erradicada. O problema é que a árvore está em estado de senescência, ou seja, está na fase final de sua vida. Um dos sintomas mais recentes ocorreu há dez dias, quando houve a queda de um galho. Não era um galho pequeno, mas de diâmetro próximo a 80 cm e com mais de sete metros de comprimento. A sorte é que ele não caiu na pista, mas na alça de retorno. Além disso, a queda aconteceu de madrugada. Depois desse episódio um técnico da Sema foi ao local para avaliar a árvore e concluiu que chegou a hora de erradicá-la.
“Quando está no ambiente natural uma árvore dessas vive aproximadamente 100 anos. Quando se tira desse habitat natural, começa a apresentar problemas. No local onde está inserida tem um grande fluxo de veículos. Graças a Deus o galho não caiu no lado da pista da avenida. A Sema é a primeira interessada em manter a árvore e é nossa responsabilidade preservar o vegetal, mas acima disso temos a responsabilidade de preservar as vidas das pessoas”, afirmou a gerente de áreas verdes da Sema, Simone de Oliveira Fernandes Vecchiatti.
Ela entende que houve comoção entre os admiradores da árvore, mas as quedas recorrentes de galho apontavam que chegou ao ponto final da sua vida. No seu auge a figueira possuía um esplendor inigualável na área urbana, com sua copa frondosa e imponente a ponto do traçado da avenida ter respeitado a sua presença. Quando a reportagem “A grande árvore” foi publicada pela Folha em 2014, o exemplar estava com 22 metros de altura e a copa com 35 metros de comprimento, alcançando as duas calçadas da avenida Robert Koch, como se formasse um portal. Em outra reportagem publicada em 2017, o biólogo Moacyr Medri já havia identificado que a árvore estava na fase final de sua vida.
Para o industrial Agostinho Álvaro Marioto, esse período foi muito difícil, já que seu estabelecimento corria rico de ser atingido pelos galhos. Tanto que ele pediu e teve autorização da Sema para realizar uma poda. Porém, foi impedido por algumas pessoas. “Até a polícia veio aqui por causa disso. A árvore já estava cheia de cupim. Já passou da hora de cortar e tirar tudo isso aí.”
A dona de casa Lúcia Martins de Oliveira reside nas proximidades da figueira e há 18 anos convive com a árvore. “Ela era linda. Mas a negligência foi grande e ela morreu. Dizem que alguém se incomodou com ela e a envenenou. Quando perceberam já era tarde demais”, afirmou. Ela diz que a poda foi um mal necessário, já que caíram galhos sobre pessoas. “A gente tem que aceitar para doer menos. Não fui eu quem plantei, mas é vida. Ela era muito linda, muito bonita, muito saudável.”
A gerente da Sema afirmou que a necessidade de poda em outros pontos da cidade pode tornar a erradicação da árvore mais lenta, porque não é possível manter uma equipe dedicada apenas para a figueira. “Nós eliminamos o problema principal e iremos tirar o restante aos poucos”, projetou. Ela informou que a madeira não serve para lenha, tampouco para a confecção de móveis, porque a madeira é mole e solta uma resina. “Vamos triturar e dar destinação adequada a esse material.”
A Sema possui planos de plantar outra outra árvore no local. “Ainda não definimos qual a espécie, mas a figueira não está adequada para o meio”, apontou.
Seja qual espécie for escolhida, não terá a mesma imponência da figueira. A grande árvore da avenida Robert Koch ficará apenas nos registros fotográficos ou na memória dos que conviveram com ela. Deixará em todos uma saudade imensa, do tamanho da sombra que proporcionou ao longo dos anos.
“A gente tem que aceitar para doer menos; ela era muito linda”