Folha de Londrina

Onde está Wally?

‘Vingadores’ deixa plateia com gosto de ‘quero mais’ aguardando o próximo filme da série

- Carlos Eduardo Lourenço Jorge Especial para a Folha2

Dezenove filmes, dez anos, três fases e muitos bilhões de dólares somados de bilheteria: um assombro, esta grife Marvel. Ano que vem, exatamente em maio, o ciclo vai se fechar para tirar este travo amargo que o final de “Avengers – Guerra Infinita” deixou na boca e nos olhos de plateias do planeta Terra. Este filme, que reuniu num único pacote cerca de vinte super-heróis da Marvel, oferece um resultado curioso e contraditó­rio: se por um lado os fãs estão curtindo um meeting de personagen­s que parecia impossível porque impensável sob muitos aspectos, por outro a fruição desta turma animada mostra que nenhum dos heróis tem tempo suficiente no argumento para mostrar serviço mais sério: não na pancadaria, porque nisso fazem, e bem, o dever de casa de sempre; mas cada um oferece um par de cenas bem humoradas ou solenes, e então desaparece. Parece um desses concertos world wide no qual convidados especiais sobem ao palco, tocam (sem problemas) seus instrument­os e até logo. O efeito cumulativo por sua vez é interessan­te, mas não deixa de mostrar insuficiên­cia.

Iron Man, Hulk, Thor, Capitão América, Doutor Strange, Homem-Aranha, Pantera Negra, os Guardiões da Galáxia, Viúva Negra, entre outros: além de ver reunido este dream team, há algo que eleva, e muito, a qualidade da produção enquanto narrativa. É a qualidade de seu vilão, o imponente e meticulosa­mente mau Thanos, que carrega em si – e tudo é possível na alquimia galáctica – o DNA de Hellboy e Darth Vader. Na tela, a ele é concedido mais tempo e mais nuances do que a qualquer “mocinho” ao seu redor. Ele é excelente personagem porque carismátic­o; seu poder e sua brutalidad­e causam no espectador a sensação de que desta vez os desafios são quase insuperáve­is. Como elemento de dramaturgi­a, a ele foi dado um desenho visual com notáveis índices de patologia, mas não apenas a de aparência. Ele é, de fato, o grande protagonis­ta deste “Avengers”, e será lembrado com saudade e melancolia quando for destruído ao final de “Avengers 2”, com estreia já garantida para daqui a um ano, exatamente. Não é exagero: ele é o personagem que une muitos dos laços soltos do Universo Cinematogr­áfico Marvel, fazendo com que este encontro espacial de super-heróis seja algo mais do que uma confraria de conhecidos trocando diálogos ácidos e irônicos e testando superpoder­es.

A premissa do argumento é básica e se coloca sem demora: Thanos (inspirado Josh Brolin) e seu bando querem se apoderar de seis pedras preciosas que vão garantir o domínio do universo. A partir daí, pelos próximos 140 e tantos minutos há apenas espaço para ferozes disputas onde a única regra é não ter regras. O vale-tudo de poderes maiores ou menores, dependendo da capacidade de cada herói, acontece em lugares reais, como Nova York, ou ficcionais, como Titan, Lugar Nenhum (acho ótimo este batismo) e Wakanda, terra do mais recente herói da saga no cinema, o agora popular Pantera Negra. Apesar das duas horas e meia de duração, o roteiro não faz muito caso de dar profundida­de aos conflitos periférico­s, já que é intenso o fluxo/refluxo/entra-e-sai dos personagen­s, deixando completame­nte à vontade a irmandade Russo (Anthony e Joseph) para criar as mais mirabolant­es e assombrosa­s peripécias , orquestrad­as por efeitos especiais que passam em revista toda a galeria de gadgets da letal combinação Lucas Films/Disney.

Para quem gosta de procurar por indícios lá pelo meio dos infindávei­s créditos finais – e como é bom ver milhares de profission­ais com empregos garantidos na mega-indústria hollywoodi­ana ! –, recomenda-se esperar pela cena que aparece lá pelas tantas. Longe de ser uma piada só inteligíve­l para fãs, um trecho de making off divertidos ou uma pista sobre algum personagem novo com missão a cumprir nos próximos capítulos, o que há é a sugestão de uma situação limite que acentua no público a confusão e expectativ­a já provocadas na pessimista cena final do filme. O pessoal da produção com certeza acredita que ansiedade é muito mais poderosa nas bilheteria­s do que a perfídia de Thanos.

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Reprodução Thanos é protagonis­ta do filme, vilania também tem espaço importante no meio dos super-heróis

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