Onde está Wally?
‘Vingadores’ deixa plateia com gosto de ‘quero mais’ aguardando o próximo filme da série
Dezenove filmes, dez anos, três fases e muitos bilhões de dólares somados de bilheteria: um assombro, esta grife Marvel. Ano que vem, exatamente em maio, o ciclo vai se fechar para tirar este travo amargo que o final de “Avengers – Guerra Infinita” deixou na boca e nos olhos de plateias do planeta Terra. Este filme, que reuniu num único pacote cerca de vinte super-heróis da Marvel, oferece um resultado curioso e contraditório: se por um lado os fãs estão curtindo um meeting de personagens que parecia impossível porque impensável sob muitos aspectos, por outro a fruição desta turma animada mostra que nenhum dos heróis tem tempo suficiente no argumento para mostrar serviço mais sério: não na pancadaria, porque nisso fazem, e bem, o dever de casa de sempre; mas cada um oferece um par de cenas bem humoradas ou solenes, e então desaparece. Parece um desses concertos world wide no qual convidados especiais sobem ao palco, tocam (sem problemas) seus instrumentos e até logo. O efeito cumulativo por sua vez é interessante, mas não deixa de mostrar insuficiência.
Iron Man, Hulk, Thor, Capitão América, Doutor Strange, Homem-Aranha, Pantera Negra, os Guardiões da Galáxia, Viúva Negra, entre outros: além de ver reunido este dream team, há algo que eleva, e muito, a qualidade da produção enquanto narrativa. É a qualidade de seu vilão, o imponente e meticulosamente mau Thanos, que carrega em si – e tudo é possível na alquimia galáctica – o DNA de Hellboy e Darth Vader. Na tela, a ele é concedido mais tempo e mais nuances do que a qualquer “mocinho” ao seu redor. Ele é excelente personagem porque carismático; seu poder e sua brutalidade causam no espectador a sensação de que desta vez os desafios são quase insuperáveis. Como elemento de dramaturgia, a ele foi dado um desenho visual com notáveis índices de patologia, mas não apenas a de aparência. Ele é, de fato, o grande protagonista deste “Avengers”, e será lembrado com saudade e melancolia quando for destruído ao final de “Avengers 2”, com estreia já garantida para daqui a um ano, exatamente. Não é exagero: ele é o personagem que une muitos dos laços soltos do Universo Cinematográfico Marvel, fazendo com que este encontro espacial de super-heróis seja algo mais do que uma confraria de conhecidos trocando diálogos ácidos e irônicos e testando superpoderes.
A premissa do argumento é básica e se coloca sem demora: Thanos (inspirado Josh Brolin) e seu bando querem se apoderar de seis pedras preciosas que vão garantir o domínio do universo. A partir daí, pelos próximos 140 e tantos minutos há apenas espaço para ferozes disputas onde a única regra é não ter regras. O vale-tudo de poderes maiores ou menores, dependendo da capacidade de cada herói, acontece em lugares reais, como Nova York, ou ficcionais, como Titan, Lugar Nenhum (acho ótimo este batismo) e Wakanda, terra do mais recente herói da saga no cinema, o agora popular Pantera Negra. Apesar das duas horas e meia de duração, o roteiro não faz muito caso de dar profundidade aos conflitos periféricos, já que é intenso o fluxo/refluxo/entra-e-sai dos personagens, deixando completamente à vontade a irmandade Russo (Anthony e Joseph) para criar as mais mirabolantes e assombrosas peripécias , orquestradas por efeitos especiais que passam em revista toda a galeria de gadgets da letal combinação Lucas Films/Disney.
Para quem gosta de procurar por indícios lá pelo meio dos infindáveis créditos finais – e como é bom ver milhares de profissionais com empregos garantidos na mega-indústria hollywoodiana ! –, recomenda-se esperar pela cena que aparece lá pelas tantas. Longe de ser uma piada só inteligível para fãs, um trecho de making off divertidos ou uma pista sobre algum personagem novo com missão a cumprir nos próximos capítulos, o que há é a sugestão de uma situação limite que acentua no público a confusão e expectativa já provocadas na pessimista cena final do filme. O pessoal da produção com certeza acredita que ansiedade é muito mais poderosa nas bilheterias do que a perfídia de Thanos.