SEM AMPARO -
Londrina não tem profissionais que façam cirurgia pela rede pública
Uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva sofre de endometriose. Em Londrina, não há profissionais que façam cirurgia por laparoscopia pela rede pública. Diagnosticada há cinco anos, a maquiadora Mayara Lopes diz que o tratamento clínico é penoso por conta dos efeitos colaterais.
Nesta terça-feira (8) foi celebrado o Dia Nacional da Luta Contra a Endometriose. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que, no Brasil, sete milhões de mulheres uma a cada dez em idade reprodutiva - sofrem com a doença. Em Londrina, as mulheres que têm endometriose não conseguem hoje operar pelo SUS (Sistema Único de Saúde), ainda que os números da doença mostrem que se trata de um problema de saúde pública.
A endometriose é caracterizada pela presença do tecido endométrio fora do útero. É diagnosticada, na maioria das vezes, em mulheres de 28 a 32 anos, embora os sintomas já possam ser sentidos desde a menarca (primeira menstruação). Para o ginecologista Francisco Carlos Lopes, o diagnóstico costuma ser tardio devido ao senso comum de que “fortes dores durante a menstruação são normais”. De acordo com Lopes, as adolescentes com fortes cólicas precisam ser acompanhadas desde a primeira menstruação.
Os principais sintomas da endometriose são, além das dores intensas durante a menstruação, dores fora do período menstrual e durante a relação sexual. Fabíola Lima, 33, descobriu que tinha a doença há quatro anos, após o terceiro aborto espontâneo.
A doméstica conta que desde sua primeira menstruação sente fortes cólicas, e que sempre buscou atendimento pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Neles, Fabíola ressalta o descrédito dos médicos sobre suas dores e a falta de preparo para o diagnóstico correto. “Faz quatro anos que tento tratar a endometriose pelo SUS, mas sinto muito descaso por parte deles. Fui para o médico passando mal e me receitaram anti-inflamatório”, conta.
Fabíola não possui plano de saúde e esperava há três anos na fila do SUS para fazer a cirurgia por laparoscopia, para remoção de focos da doença. “Depois de três anos, quando chegou a minha vez, o HU (Hospital Universitário) disse que não está mais fazendo essa operação, que só poderia ser feito em Curitiba”, conta.
O Hospital Universitário de Londrina não realiza o procedimento porque está sem médicos especialistas, expõe o secretário municipal da saúde, Felippe Machado. De acordo com a assessoria do hospital, “estão sendo feitas conversas para a contratação de médicos que façam a operação”. O Hospital Universitário de Maringá, cidade que tem aproximadamente 152 mil habitantes a me- nos que Londrina, oferece a cirurgia pelo SUS, mas somente para pacientes maringaenses.
O Hospital Evangélico e a Santa Casa de Londrina também não possuem ginecologistas que atendem pelo sistema gratuito. Em 2017, o HCL (Hospital do Câncer de Londrina) realizou um mutirão operando mulheres com endometriose pelo SUS, mas, neste ano, o evento não acontecerá porque o hospital “não conseguiu agenda”.
“Estou a ver navios”, desabafa Fabíola, que sofre com as dores da endometriose. “Sou faxineira. Quando dá crise, não consigo trabalhar. No outro dia não tenho força nem nas pernas, chego a ter diarreias, vômitos”, conta. “O SUS não faz nada pelas mulheres que tem isso. Se você chega no posto de saúde ou no hospital e diz que está com cólica, os médicos não investigam. Conviver com dor é cruel”, lamenta.
Já a maquiadora Mayara Lopes, 21, conta que o tratamento clínico também é penoso, porque os remédios têm grande quantidade de hormônios e muitos efeitos colaterais. “A cólica que nós sentimos não passa com um simples anti-inflamatório”, afirma. Mayara foi diagnosticada precocemente, com 16 anos. Segundo ela, a primeira médica que ela procurou alegou que era improvável ser endometriose, pela pouca idade da menina. “Nem todo mundo entende que você não está só com cólica, e que está indisposta por estar com dor e não por preguiça. Eu tenho muita vontade de fazer a cirurgia, mas tenho medo também. Sonho ser mãe um dia sem ter maiores complicações”, conta.
Quando dá crise, não consigo trabalhar. No outro dia chego a ter diarreia e vômito”