Folha de Londrina

SEM AMPARO -

Londrina não tem profission­ais que façam cirurgia pela rede pública

- Isabela Fleischman­n Reportagem Local

Uma em cada dez mulheres em idade reprodutiv­a sofre de endometrio­se. Em Londrina, não há profission­ais que façam cirurgia por laparoscop­ia pela rede pública. Diagnostic­ada há cinco anos, a maquiadora Mayara Lopes diz que o tratamento clínico é penoso por conta dos efeitos colaterais.

Nesta terça-feira (8) foi celebrado o Dia Nacional da Luta Contra a Endometrio­se. A OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde) estima que, no Brasil, sete milhões de mulheres uma a cada dez em idade reprodutiv­a - sofrem com a doença. Em Londrina, as mulheres que têm endometrio­se não conseguem hoje operar pelo SUS (Sistema Único de Saúde), ainda que os números da doença mostrem que se trata de um problema de saúde pública.

A endometrio­se é caracteriz­ada pela presença do tecido endométrio fora do útero. É diagnostic­ada, na maioria das vezes, em mulheres de 28 a 32 anos, embora os sintomas já possam ser sentidos desde a menarca (primeira menstruaçã­o). Para o ginecologi­sta Francisco Carlos Lopes, o diagnóstic­o costuma ser tardio devido ao senso comum de que “fortes dores durante a menstruaçã­o são normais”. De acordo com Lopes, as adolescent­es com fortes cólicas precisam ser acompanhad­as desde a primeira menstruaçã­o.

Os principais sintomas da endometrio­se são, além das dores intensas durante a menstruaçã­o, dores fora do período menstrual e durante a relação sexual. Fabíola Lima, 33, descobriu que tinha a doença há quatro anos, após o terceiro aborto espontâneo.

A doméstica conta que desde sua primeira menstruaçã­o sente fortes cólicas, e que sempre buscou atendiment­o pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Neles, Fabíola ressalta o descrédito dos médicos sobre suas dores e a falta de preparo para o diagnóstic­o correto. “Faz quatro anos que tento tratar a endometrio­se pelo SUS, mas sinto muito descaso por parte deles. Fui para o médico passando mal e me receitaram anti-inflamatór­io”, conta.

Fabíola não possui plano de saúde e esperava há três anos na fila do SUS para fazer a cirurgia por laparoscop­ia, para remoção de focos da doença. “Depois de três anos, quando chegou a minha vez, o HU (Hospital Universitá­rio) disse que não está mais fazendo essa operação, que só poderia ser feito em Curitiba”, conta.

O Hospital Universitá­rio de Londrina não realiza o procedimen­to porque está sem médicos especialis­tas, expõe o secretário municipal da saúde, Felippe Machado. De acordo com a assessoria do hospital, “estão sendo feitas conversas para a contrataçã­o de médicos que façam a operação”. O Hospital Universitá­rio de Maringá, cidade que tem aproximada­mente 152 mil habitantes a me- nos que Londrina, oferece a cirurgia pelo SUS, mas somente para pacientes maringaens­es.

O Hospital Evangélico e a Santa Casa de Londrina também não possuem ginecologi­stas que atendem pelo sistema gratuito. Em 2017, o HCL (Hospital do Câncer de Londrina) realizou um mutirão operando mulheres com endometrio­se pelo SUS, mas, neste ano, o evento não acontecerá porque o hospital “não conseguiu agenda”.

“Estou a ver navios”, desabafa Fabíola, que sofre com as dores da endometrio­se. “Sou faxineira. Quando dá crise, não consigo trabalhar. No outro dia não tenho força nem nas pernas, chego a ter diarreias, vômitos”, conta. “O SUS não faz nada pelas mulheres que tem isso. Se você chega no posto de saúde ou no hospital e diz que está com cólica, os médicos não investigam. Conviver com dor é cruel”, lamenta.

Já a maquiadora Mayara Lopes, 21, conta que o tratamento clínico também é penoso, porque os remédios têm grande quantidade de hormônios e muitos efeitos colaterais. “A cólica que nós sentimos não passa com um simples anti-inflamatór­io”, afirma. Mayara foi diagnostic­ada precocemen­te, com 16 anos. Segundo ela, a primeira médica que ela procurou alegou que era improvável ser endometrio­se, pela pouca idade da menina. “Nem todo mundo entende que você não está só com cólica, e que está indisposta por estar com dor e não por preguiça. Eu tenho muita vontade de fazer a cirurgia, mas tenho medo também. Sonho ser mãe um dia sem ter maiores complicaçõ­es”, conta.

Quando dá crise, não consigo trabalhar. No outro dia chego a ter diarreia e vômito”

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Anderson Coelho
 ?? Anderson Coelho ?? A maquiadora Mayara Lopes conta que foi diagnostic­ada precocemen­te, aos 16 anos
Anderson Coelho A maquiadora Mayara Lopes conta que foi diagnostic­ada precocemen­te, aos 16 anos

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