RETROCESSO
Decisão anunciada nesta terça desfaz tratado firmado em 2015; líderes mundiais demonstraram preocupação
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou ontem a retirada do país do acordo nuclear com o Irã, firmado em 2015. Decisão pode desestabilizar o equilíbrio político no Oriente Médio. Mandatário americano acusou Teerã de ser “o principal Estado patrocinador do terrorismo”
A despeito de esforços e clamores contrários, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta terça-feira (8) a retirada dos EUA do acordo nuclear com o Irã, firmado em 2015 entre sete países.
A histórica decisão tem o potencial de desestabilizar o equilíbrio político no Oriente Médio, abrindo a “caixa de Pandora”, como afirmou o presidente francês, Emmanuel Macron.
“Poderia haver uma guerra”, disse Macron, na semana passada. Ele foi um dos que tentaram demover o americano da retirada, sem sucesso.
Trump, porém, declarou que considera o acordo “desastroso” e “uma grande ficção”, e acusou o Irã de ser “o principal Estado patrocinador do terrorismo”, dando apoio a grupos como o Hamas, Hizbullah, Taleban e a Al Qaeda.
“Se permitirmos que esse acordo prossiga, em breve haverá uma corrida armamentista nuclear no Oriente Médio”, afirmou o americano.
A retirada dos EUA não significa que o pacto, cujo objetivo é frear o programa nuclear do Irã, tenha se extinguido. Líderes dos outros seis países que integram o combinado devem reiterar sua permanência e traçar novas estratégias para lidar com a ameaça nuclear iraniana.
Até mesmo Trump afir-
Washington -
mou estar “pronto e aberto” às tratativas para um novo acordo.
Mas o principal temor é que o regime de Hassan Rouhani retome seu programa nuclear e que haja retaliações por parte de outros países, como Israel, o que pode provocar uma nova guerra na região.
O iraniano alertou nesta semana que os EUA teriam um “arrependimento histórico” caso decidissem deixar o pacto. Já o premiê israelense Binyamin Netanyahu fez uma apresentação recente em que acusou o Irã de ter “mentido, e muito” sobre seu arsenal de armas nucleares, e de ter expandido o programa após a assinatura do pacto.
O acordo, firmado entre EUA, Irã, França, Alemanha, Reino Unido, China e Rússia, impôs limites ao programa nuclear do Irã. Como contrapartida, sanções econômicas impostas ao país foram aliviadas, rompendo um isolamento de décadas entre Teerã e o Ocidente.
A União Europeia, por exemplo, voltou a comprar petróleo do país, e os EUA descongelaram ativos iranianos em bancos. Montadoras de automóveis anunciaram fábricas e investimentos no Irã, e aeronaves passaram a
ser vendidas ao país para substituir a caquética frota da aviação local.
A avaliação feita pelas principais potências europeias, como França e Reino Unido, é de que o combinado teve sucesso ao interromper a ambição nuclear do país.
Trump, porém, declarou que considera o acordo “insano” e “um desastre”, já que ele não contemplou o programa de mísseis balísticos do Irã, que continua a operar, nem lidou com a intervenção do país nas guerras da Síria e do Iêmen.
O americano vem criticando o texto, costurado pelo antecessor Barack Obama,
desde sua campanha à Presidência, em 2016.
SANÇÕES
Nesta terça, Trump reinstalou as sanções econômicas ao Irã “em seu mais alto nível”, e disse que não será cúmplice “de um regime que pede ‘morte à América’”.
O Departamento do Tesouro americano informou que após 90 dias será revogada a licença que autorizava a exportação de aeronaves ao Irã e após 180 dias serão reinstituídas as sanções para transações com o Banco Central Iraniano e determinadas instituições financeiras do país, além de empresas do setor de energia.