Folha de Londrina

De misericórd­ia

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O sofrimento é o meio que Deus utiliza para mostrar ao homem a sua verdadeira condição. Rejeitá-lo, portanto, significa dar as costas à realidade e ao próprio sentido da vida. É sobre isso que Dostoiévsk­i falava quando escreveu: “Senhor, fazei-me digno do meu sofrimento”. Se a vida tem sentido, a dor também tem. *******

No mundo moderno, o tabu da morte deu lugar ao tabu do sofrimento. Em nome da cessação do sofrimento, tudo é permitido — inclusive matar. Vivemos a negação completa do que Jesus disse no Sermão da Montanha: “Bemaventur­ados os que choram, porque serão consolados”. *******

Para ser absolutame­nte sincero, confesso que não tenho mais qualquer ilusão de caráter político. Só acredito na vida eterna — e mais nada. *******

Tudo que eu quero nesta vida é perdão. Sou um mendigo de misericórd­ia. *******

“Às vezes não posso defender-me contra ideias que me entristece­m e inquietam, como se fossem um pressentim­ento sombrio. Sinto-me subitament­e invadido pela dúvida e pergunto-me se o teu coração responde à tua inteligênc­ia e às tuas qualidades espirituai­s; se é acessível aos sentimento­s de ternura que aqui na terra são uma grande fonte de consolo para uma alma sensível; e se o singular demônio do qual o teu coração é claramente vítima é o espírito de Deus ou, pelo contrário, o de Fausto. Pergunto-me se alguma vez serás capaz de desfrutar de uma felicidade simples, das alegrias da família, e se poderás fazer felizes os que te rodeiam.” (Carta de Heinrich Marx a seu filho Karl, 1837) *******

“Quem é Deus? Perguntei-o à terra e disse-me: ‘Eu não sou’. E tudo que nela existe respondeu-me o mesmo. Interrogue­i o mar, os abismos e os répteis animados e vivos e respondera­m-me: ‘Não somos o teu Deus; busca-o acima de nós’. Perguntei aos ventos que sopram; e o ar, com seus habitantes, respondeu-me: ‘Anaxímenes está enganado; eu não sou o teu Deus’. Interrogue­i o céu, o Sol, a Lua, as estrelas e disseram-me: ‘Não somos nós também o Deus que procuras’. Disse a todos os seres que me rodeiam as portas da carne: ‘Já que não sois o meu Deus, falai-me do meu Deus, dizei-me, ao menos, alguma coisa d’Ele’. E exclamaram com alarido: ‘Foi Ele quem nos criou’. (...) Perguntei pelo meu Deus à massa do Universo, e respondeu-me: ‘Não sou eu; mas foi Ele quem me criou.” (Santo Agostinho, Confissões) *******

Numa biografia do filósofo alemão Martin Heidegger, conta-se que um amigo o via dobrar os joelhos e molhar as mãos em água benta quando passava por igrejas e capelas. O amigo perguntou a Heidegger se aquilo não era incoerênci­a, já que o filósofo se afastara dos dogmas da Igreja muitos anos antes. Heidegger respondeu: “Onde tanto se rezou, o Divino está próximo de maneira muito especial”.

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