DIA SANGRENTO -
Manifestantes criticavam mudança de embaixada americana para Jerusalém; autoridades falam em 2.700 feridos
Pelo menos 55 palestinos morreram ontem durante confronto com tropas israelenses na faixa de Gaza. Manifestantes protestavam contra a mudança da embaixada americana para Jerusalém
São Paulo - Milhares de pessoas participaram de um protesto nesta segunda-feira (14) na fronteira entre a faixa de Gaza e Israel, que deixou ao menos 55 palestinos mortos após confronto entre tropas israelenses e os manifestantes, que criticavam a mudança da embaixada americana para Jerusalém. Segundo as autoridades palestinas, 2.700 pessoas ficaram feridas. Entre os mortos, pelo menos seis tinham menos de 18 anos. Não há informações sobre vítimas israelenses.
É o maior número de mortos em um mesmo dia em confrontos entre Israel e palestinos desde 2014, de acordo com informações da agência de notícias Associated Press.
O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou que as ações israelenses foram em autodefesa contra o Hamas, grupo islâmico considerado terrorista pelo governo.
“Todo país tem uma obrigação de defender suas fronteiras”, disse Netanyahu nas redes sociais. “A organização terrorista do Hamas declara que pretende destruir Israel e manda milhares para furar a barreira na fronteira para alcançar seus objetivos. Vamos continuar a agir com determinação para proteger nossa soberania e nossos cidadãos.”
Com isso, este é o dia mais mais violento desde que os palestinos iniciaram uma onda de protestos há sete semanas - no dia 30 de março, foram 23 mortos e mais de mil feridos. Ao todo, já são mais de 90 mortos e 10 mil feridos no período.
Chamados de “a grande marcha de retorno”, os atos têm como principal alvo o aniversário de 70 anos da fundação de Israel, que ocorre nesta segunda (14) de acordo com o calendário gregoriano (a comemoração ocorreu em abril no calendário judaico). A data será comemorada em Jerusalém exatamente com a transferência da embaixada americana para a cidade.
O protesto dessa segunda reuniu cerca de 40 mil pessoas em 12 pontos diferentes ao logo da fronteira, disse o governo israelense.
Os palestinos planejam o maior de seus protestos para esta terça (15), quando relembram a “Nakba” (tragédia), como chamam a criação de Israel, quando cerca de 700 mil deles fugiram ou foram expulsos da região.
Outro alvo dos protestos é o bloqueio feito por Israel e Egito contra a faixa de Gaza. Ele foi imposto em uma tentativa de minar o poder do Hamas, grupo islâmico considerado terrorista por Tel Aviv e Washington e que controla a região desde 2007.
Na prática, porém, a facção conseguiu manter o controle sobre a faixa de Gaza, embora o bloqueio tenha piorado a condição de vida dos cerca de 2 milhões de moradores do local.
Nesta segunda, alto-falantes foram usados nas mesquitas para convocar os palestinos a se juntarem ao ato, que seguiu o roteiro dos anteriores. Ele começou de forma pacífica, com os manifestantes se reunindo próximos da fronteira entre a faixa de Gaza e Israel, mas logo descambou em violência quando grupos menores tentaram furar a cerca que delimita a divisa.
As tropas israelenses responderam abrindo fogo nos manifestantes, que começaram então a queimar pneus e a jogar pedras nos soldados.
O governo israelense disse que tomou todas as medidas para impedir que o ato atrapalhe as festividades pela mudança da embaixada. Autoridades americanas como Ivanka Trump e seu marido, Jared Kushner, assessor da Casa Branca para o Oriente Médio, vão participar da cerimônia nesta segunda.
“Minha recomendação para os moradores de Gaza: não fiquem cegos por Sinwar [líder do Hamas], que está mandando suas crianças para se sacrificarem sem utilidade. Nós vamos defender nossos cidadãos de todas as maneiras e não vamos permitir que a fronteira seja cruzada”, disse o ministro da Defesa israelense, Avigdor Lieberman.
Segundo o Exército israelense, a segurança foi reforçada nas cidades próximas da fronteira, para impedir que manifestantes que consigam furar a cerca cheguem até Jerusalém.
O premiê palestino Rami Hamdallah criticou a a decisão de fazer a mudança de embaixada na véspera da “Nakba”. “Escolher um dia trágico na história palestina mostra uma grande insensibilidade e desrespeito pelos princípios centrais do processo de paz”, disse ele.
JERUSALÉM
Embora Jerusalém seja oficialmente a capital de Israel, a maior parte da comunidade internacional mantém suas embaixadas em Tel Aviv e defende que o futuro da cidade deve fazer parte das negociações de paz entre israelenses e palestinos.
O presidente americano Donald Trump, porém, rompeu com essa tradição e anunciou em dezembro que faria a mudança da embaixada para Jerusalém, decisão que foi alvo de críticas não só dos líderes palestinos, mas também de diversos aliados europeus e da Rússia, para quem a transferência pode intensificar a violência na região.
O Congresso dos EUA aprovou uma lei em 1995 que previa o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel e a transferência da embaixada, com prazo final em maio de 1999; no entanto, o texto permitia o adiamento da transferência por seis meses, e todos os presidentes desde então vinham adiando a mudança a cada meio ano. Em dezembro do ano passado, porém, Trump reconheceu a cidade como capital de Israel.
Protesto reuniu cerca de 40 mil pessoas em 12 pontos diferentes ao logo da fronteira