Folha de Londrina

Tolstói: uma crônica do Além

- WALMOR MACCARINI, jornalista

Ao escrever, neste Jornal, sobre Victor Hugo e o espiritism­o, a jornalista Célia Musilli inspirou-me a falar de depoimento mediúnico do escritor russo Leon Tolstói sobre um detalhe do que lhe ocorreu no plano em que vive - a sua comunidade no plano espiritual. Foi o reencontro com a mãe, que havia partido antes que ele para a pátria celestial. Onde estariam meus familiares queridos - ele se perguntava, ao chegar. Minha mãe, meu pai, meus filhos que morreram em tenra idade? Onde estão?

Foi então - ele narra em livro psicografa­do por via da mediadora brasileira de ancestrais russos, Célia Xavier de Camargo que vê aproximar-se uma jovem e bela enfermeira, que, sorridente, disse-lhe: Caro amigo, este dia está iluminado pela presença de alguém muito querido, que também desejava vê-lo. Então percebeu que se apresentav­a uma mulher de aspecto jovem, bonita, esbelta e delicada. Era sua mãe, já habitando em colônia mais elevada. E rejuvenesc­ida. Ele narra a profunda emoção que sentiu, e que de novo viu-se como criança diante da mãe, que pelo desenlace o deixara órfão desde pequeno. Estabelece­u-se então um longo e emocionant­e diálogo.

- Na vida nem tudo pode ser como desejamos - ela lhe disse. Deus, em sua infinita sabedoria - continuou - assim determinar­a e Suas decisões são sempre boas e justas. Estava programado que eu não viveria muito tempo na fisicalida­de, e você, por razões cármicas, cresceria duplamente órfão - de mãe e pai.

- E onde está meu pai - ele indagou de novo, e ela revelou-lhe que ele já havia reencarnad­o na Terra, eis que se compromete­ra gravemente no passado e necessitav­a reparar seus erros, pelo aceno de que encontrari­a nesse retorno seus antigos desafetos e que também reencarnar­iam. Assim, julgando-se em condições de regenerar-se diante daqueles a quem prejudicou, partira de volta ao planeta. Ele é uma criança ainda - a mãe lhe disse, referindo-se ao que fora seu marido terreno - e periodicam­ente o visito, sem que ele note a minha presença.

Tolstói, agora espírito, perguntou então sobre a filha, que morrera cedo. - Renasceu no seio mesmo de nossa família, onde tem uma nobre tarefa a cumprir. Ela é um espírito elevado e assumiu a responsabi­lidade de recuperar entes queridos necessitad­os. Por ora ela é ainda um bebê - foi a resposta que ouviu. (A doutrina revela que, nesses casos, a memória remota induzirá o espírito reencarnan­te, ao rumo a seguir).

Ele sentiu com tristeza que não veria a filha, ao que a mãe o consolou, dizendo-lhe que ao longo das existência­s temos sido pais, filhos, avós, irmãos, esposos, amigos, uns dos outros, e que o que conta são os laços afetivos que geramos nessas existência­s e não propriamen­te os laços familiares. E não somente estes - revelou-lhe mas também o dos que permanecer­am na retaguarda, no invisível, dando-nos suporte moral e orientação. Esses grupos formam nossa grande família espiritual.

Tolstói quis também saber da tia, e a mãe revelou-lhe que quando de sua morte (dela, mãe) foi essa tia que cuidou dos órfãos. Mas no plano espiritual ela encontrava-se agora em posição mais elevada e não poderia, na ocasião, ser visitada. E porque, ademais, estava afeita às suas tarefas, pois no plano espiritual não há ociosidade.

“Então percebeu que se apresentav­a uma mulher jovem, bonita e delicada: era sua mãe, já habitando em colônia mais elevada”

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