Caminhoneiros fecham rodovia em protesto pela alta do diesel
Manifestação na BR-369 pede providências do governo em relação ao preço do combustível que subiu 19% em menos de um ano
Um grupo pequeno de caminhoneiros queimou pneus e fechou uma das pistas da avenida Brasília, trecho urbano da BR-369, próximo à concessionária Metronorte, no sentido Cambé. A manifestação durou cerca de uma hora no início da noite desta segunda-feira (14). Protestos semelhantes ocorreram em outras partes do País. Os motoristas protestam contra o preço do óleo diesel. Levantamento feito pela FOLHA, no site da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), mostra que de julho de 2017, quando a Petrobras deu início à atual política de reajustes, o preço do combustível simples subiu 19%. O S10, diesel ecológico utilizado em motores fabricados a partir de 2012, teve aumento de 17% no período (veja quadro).
Embora tenha ocorrido diante da sede do Sindicam (Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos) de Londrina, o presidente da entidade, Carlos Roberto Dellarosa, nega que tenha responsabilidade pelo protesto. “Não concordo com esse tipo de manifestação com pneu queimado”, contou à reportagem, no momento em que os bombeiros apagavam o fogo no local para liberar a pista.
Dellarosa tem ido a Brasília participar de discussões com deputados a respeito da situação do caminhoneiro autônomo, que estaria sendo remunerado com valores abaixo do custo de sua atividade. Para ele, se o governo fiscalizasse a emissão dos conhecimentos eletrônicos de frete seria mais difícil ocorrer tal exploração. “Num frete de Londrina a Cuiabá você gasta R$ 3 mil de óleo diesel. Mas tem transportadora que coloca R$ 1 mil para pagar menos imposto”, conta. Segundo ele, o Estado de Mato Grosso é o único que fiscaliza a emissão do documento.
Já a Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros) está pedindo ao governo federal que zere os impostos cobrados sobre o óleo diesel usado pelos caminhoneiros autônomos. “Além da correção quase diária dos preços dos combustíveis realizada pela Petrobras, os tributos PIS/Cofins majorados em 2017, somando a isso a Cide, são o grande empecilho para manter o valor do frete em níveis satisfatórios”, escreveu o presidente da entidade José da Fonseca Lopes ao presidente Michel Temer nesta segunda-feira (14). De acordo com ele, 42% do preço do combustível são impostos.
Em entrevista à FOLHA, Fonseca prometeu que a categoria irá fazer greve geral se nada for feito. “Estão sempre empurrando as soluções dos caminhoneiros. Chegamos ao caos”, afirma. Apesar de propagar a greve, o presidente da entidade diz ser contrário ao fechamento de rodovias. “Vamos ficar todos em casa”, alega.
Para o presidente do Setcepar (Sindicato das Empresas de Transporte de Carga), Marcos Battistella, a nova política de preços da Petrobras, que resulta em correções praticamente diárias nos preços dos combustíveis, está prejudicando todo o setor. “Fica difícil você negociar com os embarcadores (donos da carga). Deveriam deixar acumular 30 dias”, sugere. De acordo com ele, nem todas as empresas conseguem repassar os reajustes aos seus clientes. Ele admite que, no caso dos caminhoneiros autônomos, a situação é pior.
Em relação ao pedido da Abcam para desonerar os combustíveis, ele afirma que não acredita “em Papai Noel”. “O governo quer é aumentar os impostos, nunca baixar”, declara.
POSTOS
Do outro lado do balcão, o diretor da Fecombustíveis (Federação Nacional dos Postos de Combustíveis) e da rede paranaense de postos Túlio, Giancarlo Pasa, diz que os transportadores têm de se acostumar com a nova forma de a Petrobras reajustar preços. “Depende da situação internacional. Essa é a nova realidade. Acontece no mundo todo. Só no Brasil não acontecia”, diz ele se referindo à paridade dos preços internacionais.
Para o empresário, é preciso “precificar o frete” diante da nova realidade. “Em vez de focar no governo, (os transportadores) deveriam focar nos embarcadores”, considera. “Essa situação é ruim num momento de alta dos preços como agora, mas favorável ao setor no momento da baixa”, complementa.
Mas o presidente do Setcepar não acredita nisso. “Quando o preço do petróleo sobe no mundo, aqui sobe também. Quando caem, aqui continuam elevados”, contesta Battistella.