Folha de Londrina

A ‘volta’ dos garimpeiro­s de lixões em Londrina

Reportagem circulou por pontos de descarte ilegal e encontrou muitas pessoas vasculhand­o entulhos em busca de uma fonte de renda

- Vítor Ogawa Reportagem Local

Oprojeto de coleta seletiva de Londrina denominado “Reciclando Vidas” mudou a vida de várias pessoas que sobrevivia­m da coleta de material que era descartado no aterro sanitário do Limoeiro (zona leste de Londrina). Implantado em 2000, o projeto foi criado para tirar as pessoas desse tipo de situação degradante. Naquela época havia pessoas que prospectav­am reciclávei­s e outros materiais no lixão sem as mínimas condições de segurança e de higiene. Essa cena volta a se repetir, mas em outros pontos. A crise econômica tem feito muitas pessoas retomarem o chamado “garimpo” de lixo.

A reportagem circulou por vários pontos de descarte ilegal de entulhos na cidade e constatou que muitos estão vasculhand­o o material em busca de uma fonte de renda para sobrevivên­cia. Esses pontos recebem, além de entulhos de construção civil, todo tipo de material orgânico e inorgânico misturado, transforma­ndo-os em lixões informais, porém sem o controle que a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanizaçã­o) realiza nos aterros oficiais, proporcion­ando riscos à saúde de quem manipula todo esse material.

Muitos desses garimpeiro­s são trabalhado­res dispensado­s que não possuem qualificaç­ão profission­al para atuar em outros segmentos econômicos. Maurício Gaspar Fernandes, 25, atuava como serralheir­o até quatro anos atrás e ficou desemprega­do porque a empresa fechou. Como teve dificuldad­es de recolocaçã­o, voltou para uma atividade que ele já tinha feito antes, quando ainda era criança e adolescent­e, o garimpo de lixo. A reportagem o encontrou nas proximidad­es do descarte ilegal do Morro do Carrapato (zona leste). “Eu nasci em uma chácara que ficava abaixo do aterro do Limoeiro e a minha família sobrevivia coletando material lá. Eu aprendi a coletar lixo vendo o pessoal que estava sempre lá e passei a fazer isso também. Fiz isso até completar 17 anos, quando entrei na serralheri­a”, relata.

Em 2010 o lixão do Limoeiro foi desativado e o aterro foi transferid­o para o distrito de Maravilha. “Aqui no Morro do Carrapato está do mesmo jeito que o lixão do Limoeiro. Encontro as mesmas coisas que encontrava lá. Eu já coletei televisão velha, computador, balde, bacia, galão e papelão. Dá para tirar um dinheiro, que não é suficiente para sobreviver, mas a gente vai empurrando com a barriga. Eu consigo porque muita gente passa aí e deixa arroz e óleo”, destaca.

Ele expõe que a disputa pelos materiais reciclávei­s é grande. “O que dá mais dinheiro são as latinhas e peças de alumínio, mas são mais difíceis de achar”, observa. “A concorrênc­ia está grande. Vem muita gente coletar material aqui, principalm­ente nos fins de semana”, afirma, enquanto vasculha entre os entulhos de construção civil.

Outro garimpeiro do Morro do Carrapato é Leandro Mariano, 39, que reside em um barraco construído com material que ele coletou por lá. “Nasci no jardim Franciscat­o (zona sul) e trabalho como pedreiro, mas hoje a minha fonte de renda mais forte é catar uma sucata. Comecei essa atividade quando fiquei desemprega­do e não consegui mais pagar aluguel. Aí me mudei para cá, mas a minha mulher não quis me acompanhar e foi morar com a família dela e me deixou para trás”, relatou.

Ele aponta que praticamen­te montou a sua casa com as coisas que achou no ponto de descarte ilegal. “Com exceção da geladeira, que ganhei da minha irmã, e da TV, que consegui trocando mercadoria­s, o restante achei tudo no lixão. Peguei um aparelho de DVD, um aparelho de som, fogareiro, cama, colchão, CD. A gente acha bastante coisa lá. Toda a madeira do barraco também é do lixão”, relata, acrescenta­ndo que a telha do barraco também foi obtida no local.

COOPERATIV­AS

Foi pelo projeto Reciclando Vidas que teve início a organizaçã­o das cooperativ­as de reciclador­es e logo a população se acostumou a segregar os materiais e a colocar o que poderia ser reutilizad­o em sacos plásticos verdes. A iniciativa ganhou elogios e chegou a ser premiada no Brasil e no exterior. Por meio dela, muitas pessoas deixaram a vida de garimpeiro­s do lixo e passaram a coletar o material reciclável nas casas das pessoas e o produto desse trabalho passou a ser revendido para gerar renda aos cooperados.

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“Aprendi a coletar material no lixão do Limoeiro”, conta Maurício Fernandes, que atualmente está desemprega­do e vasculha entulhos no Morro do Carrapato
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