A ‘volta’ dos garimpeiros de lixões em Londrina
Reportagem circulou por pontos de descarte ilegal e encontrou muitas pessoas vasculhando entulhos em busca de uma fonte de renda
Oprojeto de coleta seletiva de Londrina denominado “Reciclando Vidas” mudou a vida de várias pessoas que sobreviviam da coleta de material que era descartado no aterro sanitário do Limoeiro (zona leste de Londrina). Implantado em 2000, o projeto foi criado para tirar as pessoas desse tipo de situação degradante. Naquela época havia pessoas que prospectavam recicláveis e outros materiais no lixão sem as mínimas condições de segurança e de higiene. Essa cena volta a se repetir, mas em outros pontos. A crise econômica tem feito muitas pessoas retomarem o chamado “garimpo” de lixo.
A reportagem circulou por vários pontos de descarte ilegal de entulhos na cidade e constatou que muitos estão vasculhando o material em busca de uma fonte de renda para sobrevivência. Esses pontos recebem, além de entulhos de construção civil, todo tipo de material orgânico e inorgânico misturado, transformando-os em lixões informais, porém sem o controle que a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) realiza nos aterros oficiais, proporcionando riscos à saúde de quem manipula todo esse material.
Muitos desses garimpeiros são trabalhadores dispensados que não possuem qualificação profissional para atuar em outros segmentos econômicos. Maurício Gaspar Fernandes, 25, atuava como serralheiro até quatro anos atrás e ficou desempregado porque a empresa fechou. Como teve dificuldades de recolocação, voltou para uma atividade que ele já tinha feito antes, quando ainda era criança e adolescente, o garimpo de lixo. A reportagem o encontrou nas proximidades do descarte ilegal do Morro do Carrapato (zona leste). “Eu nasci em uma chácara que ficava abaixo do aterro do Limoeiro e a minha família sobrevivia coletando material lá. Eu aprendi a coletar lixo vendo o pessoal que estava sempre lá e passei a fazer isso também. Fiz isso até completar 17 anos, quando entrei na serralheria”, relata.
Em 2010 o lixão do Limoeiro foi desativado e o aterro foi transferido para o distrito de Maravilha. “Aqui no Morro do Carrapato está do mesmo jeito que o lixão do Limoeiro. Encontro as mesmas coisas que encontrava lá. Eu já coletei televisão velha, computador, balde, bacia, galão e papelão. Dá para tirar um dinheiro, que não é suficiente para sobreviver, mas a gente vai empurrando com a barriga. Eu consigo porque muita gente passa aí e deixa arroz e óleo”, destaca.
Ele expõe que a disputa pelos materiais recicláveis é grande. “O que dá mais dinheiro são as latinhas e peças de alumínio, mas são mais difíceis de achar”, observa. “A concorrência está grande. Vem muita gente coletar material aqui, principalmente nos fins de semana”, afirma, enquanto vasculha entre os entulhos de construção civil.
Outro garimpeiro do Morro do Carrapato é Leandro Mariano, 39, que reside em um barraco construído com material que ele coletou por lá. “Nasci no jardim Franciscato (zona sul) e trabalho como pedreiro, mas hoje a minha fonte de renda mais forte é catar uma sucata. Comecei essa atividade quando fiquei desempregado e não consegui mais pagar aluguel. Aí me mudei para cá, mas a minha mulher não quis me acompanhar e foi morar com a família dela e me deixou para trás”, relatou.
Ele aponta que praticamente montou a sua casa com as coisas que achou no ponto de descarte ilegal. “Com exceção da geladeira, que ganhei da minha irmã, e da TV, que consegui trocando mercadorias, o restante achei tudo no lixão. Peguei um aparelho de DVD, um aparelho de som, fogareiro, cama, colchão, CD. A gente acha bastante coisa lá. Toda a madeira do barraco também é do lixão”, relata, acrescentando que a telha do barraco também foi obtida no local.
COOPERATIVAS
Foi pelo projeto Reciclando Vidas que teve início a organização das cooperativas de recicladores e logo a população se acostumou a segregar os materiais e a colocar o que poderia ser reutilizado em sacos plásticos verdes. A iniciativa ganhou elogios e chegou a ser premiada no Brasil e no exterior. Por meio dela, muitas pessoas deixaram a vida de garimpeiros do lixo e passaram a coletar o material reciclável nas casas das pessoas e o produto desse trabalho passou a ser revendido para gerar renda aos cooperados.