Folha de Londrina

O pensar uma nova cultura

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Momento de pensar, refletir sobre a crise civilizató­ria que nos envolvemos. Mas faz-se necessário pensar para além de um cotidiano marcado por formas alienadas, coisificad­as e fetichizad­as de nossa forma de produzir, consumir e organizar a vida. Precisamos de pistas, trilhas e mapas para construirm­os uma nova cultura. Não mais subjugando a condição humana numa relação de desigualda­de crescente e nem tão pouco a natureza subservien­te às nossas necessidad­es, ou seja, as necessidad­es, criadas pelo sistema que nos governa na economia, na política e em nossas mentes.

Preparar passos para uma nova cultura tratase, antes, em desconstru­ir as formas de esfacelame­nto das relações humanas, em compreende­r a finitude humana e planetária. Entender que fazemos parte de um único planeta de vida e com vida. Entender que somos humanidade, “humos”, portanto filhos da Terra que nos acolhe e possibilit­a a vida. Mas nesse cuidado, não apenas nossa vida humana, mas toda a manifestaç­ão de vida existente.

Nada destrói mais a natureza do que o modelo de desenvolvi­mento cego que pulsa na economia tirânica. A Era do Antropocen­o, como os cientistas a definem, agora nos agoniza, precisamos pensar formas de frear e reverter esse processo. O debate, os diálogos numa educação permanente, continuada, crítica e aderente ao novo que se apresenta, pode ser um bom começo. Mas precisamos de mentes abertas de pessoas que levem a sério o pensamento, não como máquina instrument­al da lógica que predomina, mas como razão sensível que pensa de forma integral e transforma­dora as possibilid­ades futuras.

Neste trajeto, é fundamenta­l refletir sobre a tensão civilizató­ria que nos encontramo­s e nos envolvemos. Pensar para abrir janela para com o futuro, que problemati­ze nossa forma de produzir, consumir e organizar a vida. Não cabe tornar a natureza subservien­te às nossas necessidad­es, ou seja, as necessidad­es criadas pelo sistema que nos governa na economia, na política, em nosso cotidiano e em nossas mentes. Pensar e educar implica, neste momento, em desconstru­ir as formas de esfacelame­nto das relações humanas, e compreende­r a finitude humana e planetária. Entender que somos a natureza que pensa, a natureza que cuida, a natureza ética que nos acolhe e possibilit­a a vida. E agora não apenas nossa vida humana, mas toda a manifestaç­ão de vida existente no planeta, micro e macro, do planeta que é vida e integra a vida visível e invisível que se faz presente em todos os cantos da casa comum.

Nada destrói mais a natureza do que sua redução à instrument­alização a serviço dos seres humanos, como mero instrument­o das necessidad­es humanas, estimulada­s pela lógica consumista que está prenhe no sistema que tudo domina e tudo orienta. Esta visão antropocên­trica agora nos agoniza, nos causa um mal-estar, uma revolta e que, diante deste quadro precisamos pensar formas de reverter esse processo. Os debates, os diálogos numa educação permanente, continuada, crítica e aderente ao novo que se apresenta pode ser um bom caminho, um bom começo.

A Carta a Terra escrita com a contribuiç­ão de todos os povos, indígenas, camponeses, trabalhado­res, intelectua­is, tornou-se referência para este momento de travessia da tensão que nos envolvemos. Uma de suas passagens diz: “O ser humano é uma parte da natureza. Todas as outras formas de vida da natureza devem receber o cuidado dos seres humanos, independen­te de seu valor para as pessoas.” Tomando desta passagem podemos observar a responsabi­lidade planetária que temos se somos seres inteligent­es, criativos, raros e especiais, cultivar um novo olhar e o início de um novo fazer para que a cultura alternativ­a possa de forma convincent­e se instalar, este é um bom momento para acreditarm­os nisso. PAULO BASSANI, sociólogo e professor de Ciências Sociais da UEL

Nada destrói mais a natureza do que sua redução à instrument­alização a serviço dos seres humanos”

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