Pseudociência e era do irracionalismo
Um dos temas debatidos no festival Pint of Science foi sobre uso de jargões para validar posições que não seguem as regras da ciência
Ofarmacêutico André Bacchi, um dos organizadores do Festival Pint of Science, explicou que abriu o evento com o tema “Pseudociência e a era do irracionalismo”, porque muitas áreas estão usando o linguajar da ciência, mas não se trata de ciência. “A ideia é desmistificar a ciência e aquilo que finge ser ciência para ganhar credibilidade. Existe muita coisa que não faz sentido e ganha termos científicos para ter mais credibilidade. É errado. Para ser considerado ciência deve seguir uma metodologia muito séria para que se demonstre que aquilo tenha efeito ou funcione de determinada maneira”, ressaltou o professor de Farmacologia na UEL (Universidade Estadual de Londrina).
“A gente quer que se discuta ciência no bar também para não haver risco em dizer que a Terra é plana ou coisas que já determinamos há muito tempo que não são; (queremos evitar que) as pessoas voltem à Idade Média sem a menor necessidade. Esse retrocesso em parte a gente tem uma certa culpa porque ficou muito tempo sem divulgar a ciência, ela ficou dentro da universidade. É preciso acreditar na ciência, que foi que trouxe todo esse avanço em áreas como a medicina, que aumentou a expectativa e a qualidade de vida”, apontou.
Ele exemplificou o movimento antivacina como uma das aberrações decorrentes da falta de informação. “A internet é um catalisador de muitas coisas, boas e ruins. Existem sites sem o menor tipo de fonte confiável e as pessoas passam a compartilhar aquilo sem checar a fonte e a gente acaba chegando a problemas sérios”, criticou. Segundo ele, o movimento antivacina surgiu porque um médico conduziu mal uma pesquisa anos atrás e constatou erroneamente que a vacina estava associada ao autismo. “Depois de um tempo refizeram o experimento várias vezes e constataram que o uso da vacina não tinha relação alguma com o autismo. O médico perdeu o seu registro e acabou sendo banido da ciência, mas o impacto do que ele divulgou naquela época continua repercutindo até hoje, com as pessoas propagando isso”, desabafou.
Bacchi destacou que a vacina fez com que doenças como a varíola ou a poliomielite fossem praticamente erradicadas e agora está acontecendo o retorno dessas doenças, porque as pessoas estão deixando de se vacinar. “Esse é um dos grandes objetivos do Pint of Science. A gente quer justamente trazer a ciência para fora da universidade para impedir que esse tipo de retrocesso aconteça”, apontou.
ASTROBIOLOGIA
Um dos palestrantes do Pint of Science foi o professor do Departamento de Química da Universidade Estadual de Londrina Dimas Zaia. Ele é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Astrobiologia e discorreu sobre questões envolvendo a origem da vida e a procura de vida extraterrestre e o que isto tem a ver com irracionalismo. “Sobre a questão da origem da vida existem os criacionistas, que acreditam na necessidade de um ser supremo para criar vida. Sobre aqueles que acreditam que a Terra é plana, eu acho que as pessoas nunca viram foto de satélite. Minha área é a astrobiologia que tem três grandes principais: Como a vida começou, como ela evoluiu, se existe vida em outros lugares e o que vai acontecer com a vida em nosso planeta e em outros lugares”, destacou.
De acordo com ele, uma das razões para a desinformação da população é a falta de educação científica. “As pessoas não entendem como a ciência funciona e grande parte da culpa é das pessoas que fazem ciência, por isso esse tipo de evento como o Pint of Science é extremamente importante. Outra questão é a crença pessoal. Algumas delas acham que não podem acreditar em algumas coisas. É uma combinação das duas coisas”, apontou. Ele também atribui a parte da mídia esse problema da desinformação. “Você pega o History Channel, que é um canal que deveria divulgar ciência e divulga pseudociência.”
Segundo o professor, para combater isso é preciso divulgar a ciência. “A ciência tem defeitos e virtudes. Não temos resposta para todas as coisas, mas grande parte do que temos hoje devemos ao avanço científico. Temos pouca gente na divulgação da ciência e pouco espaço na mídia”, apontou.
Ele citou como um bom exemplo para divulgar a ciência o evento chamado “Conversando com cientistas, que é realizado por ele e pelo professor Rogério Fernandes de Souza, ambos da UEL. “Levamos um cientista para uma escola pública, onde os alunos podem fazer qualquer pergunta. Desde salário, o que gosta de comer, entre outras coisas. Fizemos uma pesquisa com os alunos antes e depois do evento. Antes achavam que o cientista era inalcançável e depois que eles conheceram, passaram a ver o cientista como uma pessoa como outra qualquer. Esse evento Pint of Science também é uma outra forma de popularizar a ciência”, relatou.