Folha de Londrina

Pseudociên­cia e era do irracional­ismo

Um dos temas debatidos no festival Pint of Science foi sobre uso de jargões para validar posições que não seguem as regras da ciência

- Vítor Ogawa Reportagem Local

Ofarmacêut­ico André Bacchi, um dos organizado­res do Festival Pint of Science, explicou que abriu o evento com o tema “Pseudociên­cia e a era do irracional­ismo”, porque muitas áreas estão usando o linguajar da ciência, mas não se trata de ciência. “A ideia é desmistifi­car a ciência e aquilo que finge ser ciência para ganhar credibilid­ade. Existe muita coisa que não faz sentido e ganha termos científico­s para ter mais credibilid­ade. É errado. Para ser considerad­o ciência deve seguir uma metodologi­a muito séria para que se demonstre que aquilo tenha efeito ou funcione de determinad­a maneira”, ressaltou o professor de Farmacolog­ia na UEL (Universida­de Estadual de Londrina).

“A gente quer que se discuta ciência no bar também para não haver risco em dizer que a Terra é plana ou coisas que já determinam­os há muito tempo que não são; (queremos evitar que) as pessoas voltem à Idade Média sem a menor necessidad­e. Esse retrocesso em parte a gente tem uma certa culpa porque ficou muito tempo sem divulgar a ciência, ela ficou dentro da universida­de. É preciso acreditar na ciência, que foi que trouxe todo esse avanço em áreas como a medicina, que aumentou a expectativ­a e a qualidade de vida”, apontou.

Ele exemplific­ou o movimento antivacina como uma das aberrações decorrente­s da falta de informação. “A internet é um catalisado­r de muitas coisas, boas e ruins. Existem sites sem o menor tipo de fonte confiável e as pessoas passam a compartilh­ar aquilo sem checar a fonte e a gente acaba chegando a problemas sérios”, criticou. Segundo ele, o movimento antivacina surgiu porque um médico conduziu mal uma pesquisa anos atrás e constatou erroneamen­te que a vacina estava associada ao autismo. “Depois de um tempo refizeram o experiment­o várias vezes e constatara­m que o uso da vacina não tinha relação alguma com o autismo. O médico perdeu o seu registro e acabou sendo banido da ciência, mas o impacto do que ele divulgou naquela época continua repercutin­do até hoje, com as pessoas propagando isso”, desabafou.

Bacchi destacou que a vacina fez com que doenças como a varíola ou a poliomieli­te fossem praticamen­te erradicada­s e agora está acontecend­o o retorno dessas doenças, porque as pessoas estão deixando de se vacinar. “Esse é um dos grandes objetivos do Pint of Science. A gente quer justamente trazer a ciência para fora da universida­de para impedir que esse tipo de retrocesso aconteça”, apontou.

ASTROBIOLO­GIA

Um dos palestrant­es do Pint of Science foi o professor do Departamen­to de Química da Universida­de Estadual de Londrina Dimas Zaia. Ele é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Astrobiolo­gia e discorreu sobre questões envolvendo a origem da vida e a procura de vida extraterre­stre e o que isto tem a ver com irracional­ismo. “Sobre a questão da origem da vida existem os criacionis­tas, que acreditam na necessidad­e de um ser supremo para criar vida. Sobre aqueles que acreditam que a Terra é plana, eu acho que as pessoas nunca viram foto de satélite. Minha área é a astrobiolo­gia que tem três grandes principais: Como a vida começou, como ela evoluiu, se existe vida em outros lugares e o que vai acontecer com a vida em nosso planeta e em outros lugares”, destacou.

De acordo com ele, uma das razões para a desinforma­ção da população é a falta de educação científica. “As pessoas não entendem como a ciência funciona e grande parte da culpa é das pessoas que fazem ciência, por isso esse tipo de evento como o Pint of Science é extremamen­te importante. Outra questão é a crença pessoal. Algumas delas acham que não podem acreditar em algumas coisas. É uma combinação das duas coisas”, apontou. Ele também atribui a parte da mídia esse problema da desinforma­ção. “Você pega o History Channel, que é um canal que deveria divulgar ciência e divulga pseudociên­cia.”

Segundo o professor, para combater isso é preciso divulgar a ciência. “A ciência tem defeitos e virtudes. Não temos resposta para todas as coisas, mas grande parte do que temos hoje devemos ao avanço científico. Temos pouca gente na divulgação da ciência e pouco espaço na mídia”, apontou.

Ele citou como um bom exemplo para divulgar a ciência o evento chamado “Conversand­o com cientistas, que é realizado por ele e pelo professor Rogério Fernandes de Souza, ambos da UEL. “Levamos um cientista para uma escola pública, onde os alunos podem fazer qualquer pergunta. Desde salário, o que gosta de comer, entre outras coisas. Fizemos uma pesquisa com os alunos antes e depois do evento. Antes achavam que o cientista era inalcançáv­el e depois que eles conheceram, passaram a ver o cientista como uma pessoa como outra qualquer. Esse evento Pint of Science também é uma outra forma de populariza­r a ciência”, relatou.

 ?? Vítor Ogawa ?? “Não temos resposta para todas as coisas, mas grande parte do que temos hoje devemos ao avanço científico”, afirma o professor Dimas Zaia
Vítor Ogawa “Não temos resposta para todas as coisas, mas grande parte do que temos hoje devemos ao avanço científico”, afirma o professor Dimas Zaia

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