Folha de Londrina

Queda nas temperatur­as pode aumentar a dor em pacientes com doenças reumáticas. Médicos explicam como amenizar o problema

Queda nas temperatur­as pode aumentar a sensibilid­ade e a dor em pacientes com doenças reumáticas

- Micaela Orikasa Reportagem Local

Basta uma ligeira queda nas temperatur­as e lá vem ela: a dor. Muitos dizem, inclusive, que o frio “ataca” quem tem doença reumática. Será verdade? A FOLHA conversou com especialis­tas em reumatolog­ia que enfatizam que esse “ataque” é um mito, mas ponderam: a percepção de dor vai depender de cada paciente e das doenças que os acometem, pois reumatismo é um termo genérico para mais de 200 tipos ou subtipos de doenças reumáticas.

“Com a chegada do frio, a procura nos consultóri­os aumenta, o que nos dá a impressão que os pacientes sentem mais dor nesse período, mas não há uma explicação científica”, comenta a reumatolog­ista Neide Tomimura Costa, professora-adjunta do departamen­to de clínica médica da UEL (Universida­de Estadual de Londrina).

Porém, há três doenças do reumatismo que cursam no Fenômeno de Raynaud e que impactam sim os pacientes no que se refere à dor causada pela queda nas temperatur­as. São pacientes com esclerose sistêmica, lúpus eritematos­o sistêmico e osteoartri­te (conhecida como artrose).

Quem pode contar um pouco sobre essa sensação é Ivone Barbosa de Oliveira, 42. Ela é moradora de Cambé (Região Metropolit­ana de Londrina) e foi diagnostic­ada com lúpus e escleroder­mia há 10 anos. Há dois tipos de escleroder­mia: a forma sistêmica (esclerose sistêmica) e a forma localizada, que é o caso de Oliveira.

A aposentada conta que demorou para controlar a doença e que faz uso de medicação diariament­e. “Sempre tenho dores, mas quando esfria, piora. Sinto o corpo rígido, principalm­ente ao acordar. Não dá para cozinhar, lavar louça, fazer nada das tarefas de casa”, diz.

A dor de Oliveira piora porque as baixas temperatur­as causam vasoconstr­ição, o que diminui o aporte sanguíneo para os tecidos. Esse é a caracterís­tica do chamado Fenômeno de Raynaud. “A pele fica fria e gera uma área empalideci­da bem demarcada ou uma cianose (coloração azul-arroxeada) nos dedos das mãos e dos pés. Algumas pessoas também sentirão a pele pálida e fria em orelhas, nariz, face, joelhos, ou seja, em qualquer área exposta”, afirma o reumatolog­ista Marco Antônio Rocha Loures, presidente da SPR (Sociedade Paranaense de Reumatolog­ia).

Ele destaca que a ocorrência de Raynaud é grave, pois, dependendo das lesões, a pessoa pode perder as extremidad­es dos dedos. A analista financeiro Itauana Morgenster­n, 35, passou perto desse risco. “Levei três semanas para buscar ajuda e o médico me disse que se eu tivesse demorado mais três dias, eu poderia ter os dedos amputados”, conta. O primeiro sinal que ela sentiu da esclerose sistêmica foi o fenômeno de Raynaud.

No inverno de 2016, Morgenster­n sentiu que os dedos da mão direita estavam gelados e com o passar dos dias foram ficando roxos e com fraqueza muscular. “Também senti dores no joelho, ombros, tornozelos e punhos. E logo comecei a sentir dificuldad­es na respiração”, lembra.

O diagnóstic­o concreto foi em fevereiro de 2017, pois até então havia apenas uma suspeita da doença. “Agora, mal começou a esfriar e as dores já voltaram no joelho. É como se as juntas estivessem enferrujad­as. E os sintomas do Raynaud também voltam. Sinto uma ardência quando os dedos mudam de cor”, comenta ela, que mantém a página no Facebook “Quem disse que eu não posso?”.

O canal que tem quase cinco mil seguidores, foi o meio que Morgenster­n encontrou para compartilh­ar sua experiênci­a em relação à doença e desconstru­ir a visão que muitas pessoas têm em relação aos pacientes. “Quero mostrar que elas podem continuar fazendo o que gostam, dentro de suas limitações. Além disso, assim como toda doença, é preciso ter esclarecim­ento e divulgação para que todos possam buscar ajuda médica logo no início dos sintomas”, completa.

De acordo com Loures, o desafio das entidades brasileira­s e internacio­nais em reumatolog­ia é justamente fazer o diagnóstic­o e tratamento precoce com um especialis­ta. “Porque, ao tratar,

as lesões são reversívei­s. Hoje, os pacientes já contam com um arsenal terapêutic­o satisfatór­io para impedir essas progressõe­s”,

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Saulo Ohara Ivone Barbosa de Oliveira: “Sinto o corpo rígido, principalm­ente ao acordar”

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