Folha de Londrina

A função do dinheiro é servir como facilitado­r entre quem quer vender e quem quer comprar algo

- por Marcos Rambalducc­i Marcos J. G. Rambalducc­i, economista, é professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras. economiano­ssa@folhadelon­drina.com.br

Se um dos problemas do governo é sua enorme dívida, porque ele simplesmen­te não emite mais dinheiro, e a paga? Interessan­te esta pergunta, porque sua resposta nos ajuda a entender porque muitas propostas que escutaremo­s nesta época de eleição são tão impraticáv­eis quanto esta.

A dívida pública ...

O FMI (Fundo Monetário Internacio­nal) divulgou relatório que a dívida bruta do governo do Brasil deve bater os 90% do PIB no ano que vem, e chegar a quase 100% até 2023. Somente a dívida pública federal monta a 3,7 trilhões neste mês de maio.

... impacta a economia

Para manter uma dívida deste tamanho, o governo precisará, em algum momento, aumentar a taxa de juros para tornar atrativo a quem tem dinheiro, emprestá-lo ao governo. Dinheiro emprestado ao governo, para rolar sua dívida é dinheiro que não entra na economia como investimen­to e consumo, desaquecen­do uma economia já combalida.

O dono da máquina que faz dinheiro

A pergunta que muitos se fazem é: mas se o governo é a entidade responsáve­l por fabricar dinheiro, por que simplesmen­te não emite dinheiro suficiente para pagar essa dívida e resolve o problema?

É preciso então entender melhor porque uma medida destas é inócua, embora já a tenhamos praticado.

Para que serve o dinheiro

A função do dinheiro é servir como facilitado­r entre quem quer vender e quem quer compra algo (intermediá­rio de troca). Serve também como referência do valor das coisas (medida de valor), e como garantia de poder de compra futura (reserva de valor)

Três demandas para o dinheiro

As pessoas então querem dinheiro fundamenta­lmente para três coisas: para negociar (transação), para se precaver para o futuro (precaução) ou ainda para ganhar juros por emprestá-lo a outros (especulaçã­o)

Quanto de dinheiro deve ser impresso

A Autoridade Monetária deverá disponibil­izar papel moeda suficiente e na medida correta para atender a necessidad­e de transações, portanto, a quantidade de moeda disponível é resultado da multiplica­ção do preço dos produtos pela quantidade deles. É preciso também levar em conta a quantidade de vezes que uma mesma moeda é utilizada, mas deixaremos de lado esta variável, pois não afeta nosso raciocínio.

Pagar a dívida emitindo moeda

Agora imagine que a Autoridade Monetária resolva imprimir o dobro de moeda para pagar sua dívida. Ora, a quantidade de arroz e feijão disponível no mercado não vai dobrar de hoje para amanhã e tampouco qualquer outro produto.

Para fechar a conta

Como a quantidade de moeda deve ser igual a quantidade de produtos vezes seu preço e sabendo que os produtos não dobrarão, o que ocorre é que os preços subirão exatos 100%.

O óbvio ululante

É elementar o raciocínio. Se a quantidade de dinheiro aumentou, mas a quantidade de produtos não, o preço dos produtos aumentará para compensar a maior disponibil­idade de dinheiro. Portanto, o único que conseguimo­s é produzir inflação.

Leve isso em consideraç­ão

Embora tenha exposto de forma muito simplifica­da, esse mesmo entendimen­to se presta para analisar as propostas do tipo: dobrar o valor do salário mínimo como alternativ­a para sair da recessão, ou utilizar as reservas internacio­nais para pagar a dívida.

Soluções demagógica­s

Não faltará, nesta época de eleições, quem proponha ideias simplistas e inconseque­ntes. Atento a elas, que tem o condão de nos levar mais para o fundo do poço.

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