A função do dinheiro é servir como facilitador entre quem quer vender e quem quer comprar algo
Se um dos problemas do governo é sua enorme dívida, porque ele simplesmente não emite mais dinheiro, e a paga? Interessante esta pergunta, porque sua resposta nos ajuda a entender porque muitas propostas que escutaremos nesta época de eleição são tão impraticáveis quanto esta.
A dívida pública ...
O FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgou relatório que a dívida bruta do governo do Brasil deve bater os 90% do PIB no ano que vem, e chegar a quase 100% até 2023. Somente a dívida pública federal monta a 3,7 trilhões neste mês de maio.
... impacta a economia
Para manter uma dívida deste tamanho, o governo precisará, em algum momento, aumentar a taxa de juros para tornar atrativo a quem tem dinheiro, emprestá-lo ao governo. Dinheiro emprestado ao governo, para rolar sua dívida é dinheiro que não entra na economia como investimento e consumo, desaquecendo uma economia já combalida.
O dono da máquina que faz dinheiro
A pergunta que muitos se fazem é: mas se o governo é a entidade responsável por fabricar dinheiro, por que simplesmente não emite dinheiro suficiente para pagar essa dívida e resolve o problema?
É preciso então entender melhor porque uma medida destas é inócua, embora já a tenhamos praticado.
Para que serve o dinheiro
A função do dinheiro é servir como facilitador entre quem quer vender e quem quer compra algo (intermediário de troca). Serve também como referência do valor das coisas (medida de valor), e como garantia de poder de compra futura (reserva de valor)
Três demandas para o dinheiro
As pessoas então querem dinheiro fundamentalmente para três coisas: para negociar (transação), para se precaver para o futuro (precaução) ou ainda para ganhar juros por emprestá-lo a outros (especulação)
Quanto de dinheiro deve ser impresso
A Autoridade Monetária deverá disponibilizar papel moeda suficiente e na medida correta para atender a necessidade de transações, portanto, a quantidade de moeda disponível é resultado da multiplicação do preço dos produtos pela quantidade deles. É preciso também levar em conta a quantidade de vezes que uma mesma moeda é utilizada, mas deixaremos de lado esta variável, pois não afeta nosso raciocínio.
Pagar a dívida emitindo moeda
Agora imagine que a Autoridade Monetária resolva imprimir o dobro de moeda para pagar sua dívida. Ora, a quantidade de arroz e feijão disponível no mercado não vai dobrar de hoje para amanhã e tampouco qualquer outro produto.
Para fechar a conta
Como a quantidade de moeda deve ser igual a quantidade de produtos vezes seu preço e sabendo que os produtos não dobrarão, o que ocorre é que os preços subirão exatos 100%.
O óbvio ululante
É elementar o raciocínio. Se a quantidade de dinheiro aumentou, mas a quantidade de produtos não, o preço dos produtos aumentará para compensar a maior disponibilidade de dinheiro. Portanto, o único que conseguimos é produzir inflação.
Leve isso em consideração
Embora tenha exposto de forma muito simplificada, esse mesmo entendimento se presta para analisar as propostas do tipo: dobrar o valor do salário mínimo como alternativa para sair da recessão, ou utilizar as reservas internacionais para pagar a dívida.
Soluções demagógicas
Não faltará, nesta época de eleições, quem proponha ideias simplistas e inconsequentes. Atento a elas, que tem o condão de nos levar mais para o fundo do poço.