Folha de Londrina

Barrados por “vícios de iniciativa”

- ( V.S.)

Além das crises internas, o cientista político Mário Sérgio Lepri cita a própria legislação como uma grande amarra na atuação de um legislador municipal. “Entra uma questão de competênci­a. Brasília tem o cofre. Se diluir perde o poder. Isso é o problema da nossa Constituiç­ão. Os grandes problemas estão nas cidades e a própria pauta é capturada pelo Executivo. Estas questões da ponta sequer entram na agenda. Aqui (municípios) não se tem competênci­a pra legislar e lá (União) não tem interesse. Não é só Londrina, o Brasil inteiro é assim”, afirma.

E foram vários exemplos neste ano em que vícios de iniciativa impediram a tramitação de alguns projetos de lei, o que para o procurador jurídico da Câmara, Miguel Aranega Garcia, pode ser encarada como “natural” em início de legislatur­a.

O vereador Tio Douglas (PTB), por exemplo, apresentou um projeto de lei com o objetivo de instaurar plantões de 24 horas de pelo menos dois guardas municipais em unidades de saúde que funcionam pelo mesmo período com o objetivo de aumentar a segurança de usuários e funcionári­os. Sobre esta matéria a Procurador­ia Jurídica da Casa emitiu parecer contrário explicando que “trata-se de iniciativa privativa do prefeito”, como consta na Lei Orgânica do município.

Já João Martins (PSL) tentou proibir a produção de imagens por parte de amadores em acidentes de qualquer natureza e tentativas de suicídio ou outros eventos em que haja a intervençã­o da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Siate ou Samu a fim de não constrange­r os próprios acidentado­s e suas famílias. O PL também determinav­a que fosse demarcada uma área de 20 metros de distância do local do acidente e que a fiscalizaç­ão seria uma competênci­a do Município. A Procurador­ia Jurídica apontou inconstitu­cionalidad­e no PL questionan­do o caráter da medida, eminenteme­nte administra­tiva.

Martins também tentou criar uma campanha educativa de conscienti­zação sobre o perigos do consumo de cigarros e outros fumígenos no período da gestação. O parecer jurídico também foi contrário, pois o objetivo do PL já encontra-se amparado na lei Orgânica do Município. Desta forma, a Procurador­ia lembra que o vereador pode indicar ao Executivo a realização da campanha “a título de colaboraçã­o e sem força coativa ou obrigatóri­a”.

O presidente da Câmara, Ailton Nantes, afirma que os vereadores e o Executivo estão tomando mais cuidado em função dos fato socorridos no passado eque, entre qualidade e quantidade de PL´s há um “equilíbrio”. “Alguns dizem que está demorando, no caso o PL de iniciativa popular que revoga o IPTU, mas o vereadores também estão receosos de dar algum passo e esse passo ser interpreta­do de maneira errônea e trazer problemas”, afirma.

Já com relação a fiscalizar­a atuação do Executivo neste período esta legislatur­a também se manteve em equilíbrio, se comparada ao mesmo período da anterior. Nas 29 primeiras sessões foram 103 pedidos, contra 116. “Embora nós estejamos num contexto nacional de afluição de problemas, e eu vejo com bons olhos a Lava Jato e a Publicano, isso está mostrando que as coisas estão mudando e a Câmara está seguindone­sta trilha ”, completa.

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