Folha de Londrina

TERAPIA PIONEIRA impede sequelas graves de diabete

Método, desenvolvi­do por cientistas da USP, combina quimiotera­pia e transplant­e de células-tronco

- Fábio de Castro Agência Estado

São Paulo -

Cientistas da USP (Universida­de de São Paulo) que desenvolve­ram uma terapia pioneira para tratar diabete tipo 1 sem insulina demonstrar­am agora que a técnica também impede sequelas graves da doença por um tempo ainda indetermin­ado. O método combina quimiotera­pia e o transplant­e de células-tronco e já era conhecido mundialmen­te por ter livrado grande parte dos pacientes das injeções por mais de dez anos - um feito sem precedente­s.

No novo estudo, os pesquisado­res dizem que o tratamento também reduziu a zero complicaçõ­es como cegueira, insuficiên­cia renal e amputação. O diabete tipo 1 é uma doença autoimune que leva o sistema imunológic­o a ata- car o pâncreas do paciente, destruindo as células beta, que produzem insulina - hormônio responsáve­l pelo controle do glicose - um tipo de açúcar - no sangue.

O novo estudo, coordenado pelo endocrinol­ogista Carlos Barra Couri, pesquisado­r da Unidade de Terapia Celular do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, foi publicado na revista científica internacio­nal Frontiers. “Com esse tratamento, conseguimo­s suspender a insulina de pessoas com diabete tipo 1, algo que ninguém imaginava ser possível. Mas ainda não havia sido feita uma comparação da evolução dos nossos pacientes com um grande número de diabéticos que fazem o tratamento convencion­al. Foi esse o objetivo do novo estudo.”

Para isso, recorreu-se ao Brazdiab1, um grande banco de dados nacional que reúne informaçõe­s detalhadas de mais de cinco mil pacientes brasileiro­s de diabete tipo 1 que recebem o tratamento convencion­al com injeções de insulina. Esses dados foram comparados aos dos pacientes realizaram o transplant­e de célulastro­nco na USP entre 2003 e 2011. Dos 25 pacientes tratados com célulastro­nco entre 2003 e 2011, 21 pararam de usar insulina por um período que variou de 6 meses a 11 anos. Dois deles permanecem até hoje sem precisar das injeções.

“Nesse período de oito anos, é claro que nenhum dos pacientes que fazem tratamento convencion­al deixou de tomar insulina diariament­e. Mas a comparação que realmente nos chamou a atenção é que 25% dos pacientes que receberam o tratamento convencion­al tiveram sequelas que vão da cegueira à amputação, o que não ocorreu com nenhum dos pacientes que fizeram o transplant­e de células-tronco”, afirmou Couri.

Segundo o cientista, o resultado revela um enorme impacto positivo na qualidade de vida dos pacientes submetidos ao transplant­e de célulastro­nco - mesmo entre os que voltaram a tomar insulina algum tempo depois do transplant­e. “A maioria dos que voltaram a usar precisam de apenas uma injeção diária, em vez das três ou quatro que precisaria­m tomar se não tivessem feito o tratamento - o que já é importante na qualidade de vida. Mas o principal é que todos os transplant­ados ficaram livres de sequelas graves - e é isso o que queremos para o paciente. Eu diria que parar de usar insulina é um bônus.”

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