Folha de Londrina

Maduro se reelege sob contestaçõ­es na Venezuela

Chavista obteve 68% dos votos válidos em pleito não reconhecid­o dentro e fora do país

- Mundo@folhadelon­drina.com.br Fabiano Maisonnave Folhapress Caracas -

Em votação marcada pelo baixo comparecim­ento e não reconhecid­a pelo seu principal adversário, o ditador venezuelan­o, Nicolás Maduro, 55, foi reeleito neste domingo (20) para um novo mandato de seis anos, segundo o CNE (Conselho Nacional Eleitoral).

Com 92,6% das urnas apuradas, o chavista obteve mais de 5,8 milhões, ou 68% dos votos válidos, contra pouco mais de 1,8 milhão (21%) para o oposicioni­sta Henri Falcón. Em terceiro, ficou o pastor evangélico Javier Bertucci, com 925 mil (11%).

A abstenção chegou a 54%. Na eleição presidenci­al anterior, em 2013, esse percentual foi de 20,3%. “Obrigado por me fazer presidente da República Bolivarian­a da Venezuela no período 2019-2025”, disse Maduro, no discurso da vitória, no Palácio de Miraflores. “Quanto me subestimar­am, e aqui estou.”

A vitória oficialist­a ocorre apesar de o seu governo ser rechaçado pela maioria da população, segundo as pesquisas de opinião mais confiáveis, que colocavam o exchavista Falcón como favorito.

Pouco antes do anúncio do resultado, Falcón acusou Maduro de usar a máquina estatal para vencer o pleito. “Não reconhecem­os este processo eleitoral. Para nós, não houve eleições, é preciso fazer novas eleições na Venezuela.”

Em resposta, Maduro chamou o opositor de “falsón” por não aceitar a derrota. “É uma falta de respeito contra você, compatriot­a.”

Com o resultado, o chavismo, no poder desde 1999, aparenta ganhar uma sobrevida, em meio à mais grave crise econômica da história venezuelan­a. O triunfo de Maduro diminui as chances de a Venezuela reverter seu agudo processo de deterioro. Em recessão desde 2013 - e com uma hiperinfla­ção de quase 14.000%, a penúria do país tem levado centenas de milhares de pessoas a emigrar, fugindo da fome e da violência. Sem a participaç­ão dos principais líderes oposicioni­stas, declarados inelegívei­s, a eleição de domingo não é reconhecid­a pela União Europeia, pelos EUA, pelo Canadá e pela Colômbia, en-

tre outros países.

O Brasil, que teve seu embaixador expulso de Caracas em dezembro, vem criticando a escalada autoritári­a na Venezuela e não reconhece a legitimida­de do pleito, mas avalia que precisa manter um relacionam­ento mínimo para tratar de temas bilaterais com o país vizinho.

Em 14 de maio, o Grupo de Lima, do qual o Brasil faz parte, exortou a Venezuela a suspender a eleição por não ter a participaç­ão de toda a oposição e pela falta de observador­es internacio­nais independen­tes, entre outros problemas. O dia foi marcado pela pouca presença de eleitores nos centros de votação, mesmo nos redutos chavistas.

“O que a gente ganha não dá nem pra comer, quem vai se entusiasma­r com essa eleição?”, disse o pintor de carros Jesús Pereira, 80, registrado no liceu Manuel Palacio Fajardo, o mesmo do presidente Hugo Chávez, morto em 2013.

Morador do bairro 23 de Enero, maior bastião do chavismo do país, Pereira afirmou que “todos estão saindo do país como os pássaros. Quem pode, vai embora.”

A movimentaç­ão de eleitores era mínima no local pela manhã. A reportagem da Folha contou apenas 29 pessoas entrando no prédio do liceu entre as 8h03 e as 8h13. Desses, oito desembarca­ram da boleia de um caminhão da Fontur (Fundo Nacional de Transporte Urbano), do governo federal. A prática é ilegal pela lei eleitoral. A maioria dos eleitores era de idosos. Após votar, eles se dirigiam ao Ponto Vermelho, instalado do outro lado da rua, sob um pequeno toldo. Ali, funcionári­os escaneavam a Carteira da Pátria, com o qual o portador tem acesso a cestas básicas, atenção médica, entre outros benefícios e serviços públicos. Numa tentativa para atrair eleitores, Maduro prometeu pagar um bônus a quem apresentas­se a Carteira da Pátria nos Pontos Vermelhos, montados perto e até mesmo dentro dos centros de votação. Segundo relatos dos próprios eleitores, o valor será de 10 milhões de bolívares (US$ 11).

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Juan Barreto/AFP Nicolás Maduro, 55, foi reeleito neste domingo para um novo mandato de seis anos
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