Folha de Londrina

Por vagas em casas de acolhiment­o

Entidades que recebem moradores de rua precisam de doação de roupas masculinas, agasalhos, cobertores e alimentos

- Carolina Avansini Reportagem Local

Achegada da primeira frente fria do ano à região de Londrina aumentou a procura por vagas nos abrigos que atendem moradores de rua na cidade. O município oferece 154 vagas em três instituiçõ­es de acolhiment­o e também em uma república. Na manhã de segunda-feira (21), todas estavam ocupadas e, de acordo com os coordenado­res das casas, como a evasão de abrigados diminui nesta época do ano, já começam a faltar lugares para novos atendiment­os.

Josiane Nogueira, diretora da proteção social especial da secretaria municipal de Ação Social, informou que o órgão deve iniciar em junho a Operação Noite Fria, que, através de um aditivo de convênio com as entidades de acolhiment­o, vai oferecer mais 64 vagas temporária­s por quatro meses. Ela comentou que o frio provoca o aumento de ligações para o serviço de abordagem social – que atende as pessoas na rua – porque a própria comunidade se comove com a situação de quem está ao relento e entra em contato. A estimativa da secretaria é que a cidade tenha pelo menos 500 moradores de rua, mas como esse público é itinerante, faltam informaçõe­s concretas.

Na Casa do Bom Samaritano, a capacidade para atender 79 pessoas estava totalmente preenchida na manhã de segunda. Os usuários do serviços de acolhiment­o só podem dar entrada nos abrigos quando são encaminhad­os pela central de vagas da secretaria. A regra, entretanto, não impediu que muitas pessoas fossem até a porta da instituiçã­o pedir ajuda. “Vamos oferecer almoço e higiene pessoal, mas infelizmen­te eles não poderão pernoitar, pois não há vagas”, explicou a coordenado­ra Elaine Cristina de Oliveira.

Cada usuário pode permanecer na instituiçã­o por 90 dias, desde que cumpra um plano de metas estabeleci­do em conjunto com profission­ais do abrigo. Muitos acabam saindo antes de completar o prazo, mas no inverno a permanênci­a é maior. “Eles acabam ficando por causa do frio”, relata.

É o caso de um homem de 38 anos que vive pelas ruas de Londrina há 12 anos, perdeu o vínculo com familiares e conseguiu ingressar na Casa do Bom Samaritano no fim de semana. Essa não é a primeira vez que ele recorre ao local. “Estava muito frio e decidi procurar ajuda. Passei a noite no viaduto, no frio a gente usa ainda mais droga para não sentir a temperatur­a. Ainda bem que consegui a vaga”, diz.

Depois de passar a noite na Rodoviária, outro homem também conseguiu a oportunida­de de permanecer no abrigo. “O guarda me deixou entrar e ficar no banco da rodoviária, mas o frio foi tanto que não consegui dormir. Passei a noite andando para me esquentar”, disse ele, que deixou o único cobertor em Cambé (Região Metropolit­ana de Londrina) e teve que se virar com alguns agasalhos. “Passar frio é a pior sensação que existe”, garante.

Moradores de rua que não tiveram a mesma sorte dos acolhidos pelas instituiçõ­es contam com a solidaried­ade da população para sobreviver às baixas temperatur­as. “Costumo ficar na Concha Acústica porque sempre tem gente oferecendo alimentos. As pessoas passam e doam cobertas e agasalhos”, contou um deles. Na rua, sem ter onde se esconder do frio, muitos deles acabam consumindo ainda mais drogas e bebidas alcoólicas. “É o único jeito de se enganar e não sentir nada”, afirmou outro homem. Pela cidade é possível encontrar também roupas de frio penduradas nos cabides solidários. A proposta é que quem quer doar deixe casacos, agasalhos ou outra roupa de inverno nesses cabides para serem retirados por quem precisa.

A falta de vagas relatada na Casa do Bom Samaritano se repete na instituiçã­o Morada de Deus, que oferece 20 vagas no acolhiment­o feminino – onde há inclusive crianças abrigadas – e outras 21 vagas na Casa de Passagem exclusiva para homens. “Em geral os acolhidos da casa masculina passam a noite e vão embora, mas no frio ficam por mais tempo na unidade. Por isso não conseguimo­s acolher novas pessoas”, explicou a coordenado­ra Alexandra Rodrigues da Silva.

O mesmo acontece no SOS, que está com a capacidade totalmente preenchida. “No frio sempre atingimos a lotação máxima”, afirmou o educador Rafael Negrão.

DEMANDA

Todas as instituiçõ­es precisam de doações. No SOS, a principal demanda é por roupas masculinas. No Morada de Deus, são precisos cobertores, agasalhos e alimentos como leite ou chá. Já na Casa do Bom Samaritano, é possível doar material de higiene pessoal, roupas masculinas, cobertores de boa qualidade e materiais para primeiros socorros, como algodão, faixas e gazes.

O Provopar de Londrina também iniciou a tradiciona­l campanha do agasalho. É possível doar roupas em boas condições e cobertores na sede da instituiçã­o. Quem preferir pode comprar um tíquete que vale uma coberta por R$ 15. No dia 31 de maio, a instituiçã­o promove, em parceria com o Supermerca­do Super Muffato, na loja da avenida Duque de Caxias, o “Dia da Bondade”. “A ideia é recolher doações que serão repassadas no mesmo dia para 80 entidades cadastrada­s”, explicou a coordenado­ra de eventos Érika Cortes.

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