Folha de Londrina

Detentos ajudam a reformar escolas

Projeto Mãos Amigas, uma parceria entre Fundepar e Depen, já beneficiou 289 instituiçõ­es no Paraná

- Vítor Ogawa Reportagem Local

OPrograma Mãos Amigas, que visa a ressociali­zação de presos do sistema semiaberto, foi colocado em prática em Londrina há pouco mais de 60 dias, mas já vinha sendo preparado para ser implantado na região desde 2017. Ele já existe no estado há pouco mais de cinco anos, mas se resumia a Curitiba e região metropolit­ana. Por meio dele, os detentos realizam limpeza, serviços de jardinagem e pequenas reformas nas instituiçõ­es de ensino.

O supervisor do programa, Carlos Alberto Belasqui, da Fundepar (Instituto Paranaense de Desenvolvi­mento Educaciona­l), explica que cada equipe é formada por oito apenados e a matéria-prima para a reforma é fornecida pela escola. “Quem participa são presos do regime semiaberto que estão perto de cumprir a totalidade da pena e que devem ganhar a liberdade em breve”, aponta. Se- gundo ele, programa é viabilizad­o por meio de parceria entre a Fundepar e o Depen (Departamen­to Penitenciá­rio do Estado do Paraná).

De acordo com o coordenado­r do programa, Nabor Bettega Junior, que também é da Fundepar, já foram atendidas 289 escolas no Estado. “Este ano expandimos o programa para municípios fora de Curitiba e região metropolit­ana. Ao todo são quase mil presos trabalhand­o em municípios como Londrina, Ponta Grossa, Francisco Beltrão, Guarapuava e Maringá”, enumera.

Em Londrina os presos já realizaram serviços de manutenção na sede do NRE (Núcleo Regional de Educação), no Colégio Estadual Antônio de Moraes Barros e na Escola Estadual Cássio Leite Machado. Existem mais 20 escolas na fila para receber o serviço.

Bettega Junior contabiliz­ou uma economia de quase R$ 3 milhões desde a criação do programa. Devido à remissão da pena (um dia de pena a menos a cada três dias de trabalho), ele explica que por ano são três meses a menos que o Estado gasta com o preso, o que equivale a uma economia de R$ 7,5 mil anuais com cada um. “Além disso existe a questão da mão de obra. Se o Estado fosse realizar uma licitação para contratar uma empresa para fazer a manutenção das escolas gastaria R$ 165,36 por dia somente com a mão de obra, e com os presos esse valor é bem mais baixo”, apontou.

O dia de trabalho, incluindo a alimentaçã­o e o transporte do apenado, sai por R$ 65. A relação custo/benefício por dia de trabalho efetivo em comparação ao dia de trabalho do apenado é de R$ 100,36. “O custo da obra fica em torno de 50% a 60% do valor se o Estado contratass­e uma empresa. Os presos recebem 75% do salário mínimo (R$ 715,45), dos quais 20% ficam em uma poupança para ele receber no dia em que sair da prisão, e o restante do valor vai para a família do apenado.”

Um dos presos participan­tes do programa é Nilson Leal, 53. “Meu comportame­nto mudou bastante, porque a gente sente que está voltando para a sociedade. É preciso fazer esse retorno de cabeça erguida, para ter uma vida melhor”, afirma, explicando que o dinheiro que recebe repassa para os filhos. “Tenho um filho pequeno que precisa voltar para a escola”, destaca. “Eu sempre trabalhei na lavoura ou com jardinagem. Nas escolas eu ajudo na poda, cortando gramados e tudo o que aparece a gente faz. Não tinha tanta experiênci­a com pintura, mas a gente vai aprendendo.”

“Meu comportame­nto mudou, porque a gente sente que está voltando para a sociedade”

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