Folha de Londrina

SEM SOLUÇÃO

Sema planeja fazer um manejo das árvores para recuperar a flora, mas não há garantias de que a mudança no habitat vá espantar as aves que sujam o parque e afastam usuários

- Carolina Avansini Reportagem Local

Sujeira provocada por excesso de pombos no Bosque Central é alvo de críticas de quem mora ou trabalha nos arredores ou passa com frequência pelo local. Área de lazer foi revitaliza­da há uma semana, com pintura de bancos e podas de árvores. Frequentad­ores apontam, no entanto, que manutenção adequada depende do controle da superpopul­ação das aves.

Aauxiliar de limpeza Eva de Oliveira trabalha na manutenção de uma empresa próxima ao Bosque, no centro de Londrina, e todos os dias assiste o serviço realizado em frente à instituiçã­o ir literalmen­te por água abaixo em poucas horas. Por mais que os funcionári­os limpem, em pouco tempo os pombos que habitam o Bosque e arredores defecam no local e sujam toda a calçada. “A gente lava toda semana, mas não adianta, é um trabalho sem fim. Esses pombos espalham doenças, a prefeitura devia dar um jeito neles”, opina.

A reclamação de Oliveira faz coro com quase todo mundo que mora, trabalha ou passa perto do Bosque diariament­e. A área de preservaçã­o que deveria ser usada para lazer e descanso da população da região acaba subutiliza­da porque ninguém consegue permanecer por muito tempo no local. A revitaliza­ção realizada recentemen­te no Bosque, com pintura, podas de árvore, liberação de espaço para circulação e redução dos poleiros usados pelas pombas deixou o parque mais bonito. Frequentad­ores do local – que inclusive se manifestar­am através da seção de opinião de leitores da FOLHA – reclamam que as reformas não são suficiente­s para garantir a usabilidad­e do Bosque.

“A sujeira das pombas afasta os frequentad­ores”, aponta o aposentado Amadeu Valério Filho, que costuma fazer exercícios na academia do local, mas antes de sair de casa olha o clima para saber se o cheiro estará suportável. “Logo depois de uma chuva, quando sai o sol, o odor é impossível de aguentar. Quando está assim eu não me arrisco a passar pelo Bosque”, diz ele, que não acredita em solução para o problema. “Já tentaram de tudo e nada resolveu”, lamenta.

Aparelhos eletromagn­éticos emissores de ondas que desorienta­riam os pombos, multa para quem alimenta as aves, construção de um pombal no cemitério São Pedro e aplicação de gel nos galhos das árvores do Bosque foram algumas tentativas dos últimos dez anos para minimizar o problema. A secretaria do Ambiente em Londrina, Roberta Silveira Queiroz, reconhece que as diversas tentativas não tiveram o resultado esperado. “É uma questão de política a longo prazo, com recuperaçã­o florestal no entorno da cidade de forma a atrair predadores naturais. Cheguei a pensar em abate, mas as pombas são aves migratória­s e logo haveria outras no local”, pontua.

ESPAÇO PARA CRESCER

O agrônomo Paulo Guilherme, diretor operaciona­l da Sema, informou que a secretaria tem um grupo de trabalho debatendo possíveis manejos para a superpopul­ação de pombos, mas não há solução conclusiva. “É uma situação complicada que se arrasta há mais de uma década”, diz. De concreto, ele anunciou que a Sema vai terminar até o início de junho um plano de manejo das árvores do Bosque para então pedir autorizaçã­o ao IAP (Instituto Ambiental do Paraná) para erradicar espécies sem condições de se desenvolve­rem. “A mudança no habitat das pombas vai causar estresse e pode incomodar as aves”, acredita. Não há certeza, porém, na eficácia do manejo em relação à diminuição das aves. “O foco principal é a sobrevivên­cia do Bosque.”

Segundo ele, o Bosque está se degradando por causa da germinação de espécies grandes muito próximas umas das outras. “As árvores ficam estioladas por falta de espaço para crescer”, aponta, referindo-se ao fato de ficarem finas e altas. “Dessa forma, há risco de caírem com o vento”, alerta. No final de 2017, uma fiscal que atuava no serviço de Zona Azul morreu após ser atingida por um galho que caiu de uma árvore do local e atingiu a calçada da avenida Rio de Janeiro.

Perobas e pau d’alhos são espécies nativas que cresceram sem controle. “Teremos que escolher as mais viáveis para preservar”, esclareceu o agrônomo, destacando quem em uma segunda fase serão plantadas outras espécies nativas de menor porte para aumentar a diversidad­e. “No início o Bosque vai ficar parecido com uma praça, com a luminosida­de chegando ao solo”, acredita.

LAVAGEM

Para minimizar a sujeira das pombas, a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanizaçã­o) realiza de segunda a sexta-feira a lavagem do Bosque Central. Conforme nota enviada pela assessoria de imprensa, são lavadas as calçadas das avenidas Rio de Janeiro e São Paulo; da rua Pará, da travessa Padre Bernardo Greis, além do Zerinho, das calçadas internas do Bosque e área de lazer. “A lavagem é feita a jato sem a utilização de nenhum produto químico, apenas com a pressão da água. Também é feita diariament­e durante a semana a varrição, a coleta das lixeiras e o recolhimen­to de entulhos”, informou o órgão.

A assessoria informou que a CMTU está trabalhand­o num Plano de Manejo do Bosque, mas não divulgou detalhes. Outra informação é que está fazendo levantamen­to para implantaçã­o de uma fossa séptica no Bosque ou a possibilid­ade de fazer o lançamento direto dos dejetos da lavagem na rede de esgoto da Sanepar, com o objetivo de evitar a poluição difusa.

No município são mais de 400 mil pombas nas zonas urbana e rural, segundo última estimativa feita na cidade.

 ?? Marcos Zanutto ??
Marcos Zanutto
 ?? Marcos Zanutto ?? A área deveria ser usada para lazer e descanso da população da região acaba subutiliza­da
Marcos Zanutto A área deveria ser usada para lazer e descanso da população da região acaba subutiliza­da
 ?? Marcos Zanutto ?? CMTU realiza de segunda a sexta-feira a lavagem das calçadas externa e interna
Marcos Zanutto CMTU realiza de segunda a sexta-feira a lavagem das calçadas externa e interna
 ?? Saulo Ohara ??
Saulo Ohara

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil