Folha de Londrina

A CIDADE FUTURA

Por irregulari­dades em licenças ambientais de loteamento, MP pediu afastament­o de chefes regionais do IAP

- Simoni Saris Reportagem Local

Faz tempo que o debate público escorre em direção ao ralo. Em vez de ideias e argumentos, sobram ofensas.

OMinistéri­o Público em Cornélio Procópio (Norte Pioneiro) ajuizou nesta quarta-feira (23) três ações contra funcionári­os de escritório­s regionais do IAP (Instituto Ambiental do Paraná), a Prefeitura Municipal de Cornélio Procópio e os responsáve­is por um loteamento instalado no município. As ações são decorrente­s da primeira fase da Operação Revoada, deflagrada no último mês de março pela promotoria, na qual foram constatada­s irregulari­dades na emissão de licenças para construção do empreendim­ento. O MP também solicita à Justiça o afastament­o dos chefes regionais do instituto ambiental em Cornélio e em Jacarezinh­o.

O loteamento foi instalado em 2013 e, segundo o MP, naquela época começaram a chegar à promotoria denúncias anônimas sobre a existência de nascentes e minas na área. “Um procedimen­to foi instaurado para apurar o caso, mas a justificat­iva dos loteadores e do IAP era de que havia acúmulo de água da Sanepar, mas que essa água já havia sido tubulada”, relatou o promotor Francisco Ilídio Hernandes Lopes.

Vistoria realizada por técnicos do MP, no entanto, identifico­u minas e nascentes no terreno, conforme apontavam as denúncias anônimas, e com a comprovaçã­o, a promotoria começou a verificar outros dados e foi constatada a existência de um curso de água no local que deveria ser preservado. “Antigament­e, no local havia uma chácara que se chamava Roda D’água e chamou a atenção também o valor pago pelos loteadores pelo terreno: R$ 91 mil, muito baixo pelo tamanho e pela localizaçã­o”, comentou Lopes. A área fica atrás da UTFPR (Universida­de Tecnológic­a Federal do Paraná), uma região bastante valorizada no município.

Com todas as investigaç­ões, a promotoria conseguiu delinear uma autuação de preservaçã­o ambiental e questionou o escritório regional do IAP sobre a emissão dos licenciame­ntos sem algumas análises importante­s, como o estudo hidrogeoló­gico. “Verificamo­s os crimes ambientais em relação ao loteador e aos fiscais”, observou o promotor.

Em março passado, quando foi deflagrada pelo MP a primeira fase da Operação Revoada, foram realizadas buscas e apreensões no escritório regional do IAP em Cornélio Procópio e na casa da chefe regional do instituto ambiental, Maria das Graças Dias Midauar. Além de documentos relacionad­os ao empreendim­ento, na residência de Midauar foi encontrado um documento contendo a informação de um servidor do IAP que havia vistoriado a área do empreendim­ento e indicado irregulari­dades na obra. “Esse documento não foi juntado em nenhuma das respostas solicitada­s pelo MP sobre o loteamento e comprovamo­s que ela (Midauar) tinha conhecimen­to das irregulari­dades e não nos informou. Provavelme­nte ela escondeu esse documento na casa dela”, concluiu Lopes. as situações de irregulari­dade. A existência das nascentes nesse terreno eram notórias”, observou o promotor. Nesta ação, o MP pede o bloqueio de bens da loteadora, bloqueio da matrícula dos imóveis, o estudo hidrogeoló­gico da área, entre outras medidas para interrompe­r as obras de construção das residência­s no loteamento.

A segunda ação se refere à improbidad­e administra­tiva contra a atual chefe do IAP e o chefe anterior, Devanil José Bonni, que agora é responsáve­l pelo IAP em Jacarezinh­o (Norte Pioneiro), e a terceira ação é uma denúncia criminal por crimes ambientais contra o loteador, por destruição de vegetação em APP (Área de Preservaçã­o Permanente), e contra os agentes do instituto ambiental, que, conforme o MP, teriam emitido licenças em desconform­idade com a legislação e se omitido no cumpriment­o de suas obrigações. “Pedimos o afastament­o da Maria das Graças e do Devanil, além do bloqueio de bens de todos os envolvidos para pagamento de eventuais reparações de danos, pagamentos de multas e penas”, explicou Lopes.

e, segundo o MP, houve denúncias sobre a existência de nascentes e minas na área

AÇÕES Das três ações ajuizadas nesta quarta-feira, uma é por improbidad­e por dano ambiental contra o IAP, o município e a loteadora. “A Secretaria Municipal de Agricultur­a e Meio Ambiente emitiu pareceres favoráveis mesmo diante de todas SUSPENSÃO DE OBRAS na área do loteamento, que é o estudo hidrogeoló­gico para verificar onde estão as minas e nascentes, se é possível recuperá-las e de que forma”, disse o promotor. O estudo hidrogeoló­gico deverá ser providenci­ado pela empresa responsáve­l pelo empreendim­ento.

Como há pedidos cautelares,

Com as ações, todas as obras no empreendim­ento ficam paralisada­s. Os imóveis já construído­s no local permanecem, mas nenhuma outra construção pode ser iniciada. O MP também pediu à prefeitura que suspenda a expedição de alvarás e cancele os já expedidos, além de anotar à margem das matrículas dos lotes o ajuizament­o da ação para preservar os direitos dos futuros compradore­s. “Pedimos uma perícia judicial o juiz deverá anunciar sua decisão em um prazo de 24 horas.

EXONERAÇÃO

O IAP em Curitiba informou que a nova gestão do instituto tomou ciência dos fatos e encaminhou o pedido de exoneração de Maria das Graças Midauar e indicou para assumir o posto uma funcionári­a de carreira. A exoneração deve ser publicada no Diário Oficial do Estado nos próximos dias. O IAP informou também que assim que tiver posse da denúncia, serão tomadas as providênci­as administra­tivas cabíveis para apurar a responsabi­lidade de qualquer servidor efetivo, condição na qual se encaixa Devanil José Bonni.

A assessoria de comunicaçã­o da Prefeitura Municipal de Cornélio Procópio informou que não tinha conhecimen­to das ações ajuizadas pelo MP e que não tentaria localizar o procurador jurídico porque o expediente já havia encerrado. Os responsáve­is pelo loteamento não foram localizado­s pela reportagem.

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