Folha de Londrina

Literatura perde um grande nome

O escritor norte-americano Philip Roth morreu aos 85 anos; ele ganhou quase todos os prêmios literários importante­s, com exceção do Nobel

- France Presse

Nova York

- O prolífico escritor Philip Roth, um dos ícones da literatura dos Estados Unidos na segunda metade do século XX, faleceu aos 85 anos na terça-feira (22), à noite. O agente do escritor, Andrew Wylie, confirmou à imprensa americana que Roth - que havia se aposentado da literatura em 2012 – foi vítima de uma insuficiên­cia cardíaca congestiva.

Roth, que viveu em Nova York e Connecticu­t, foi um virtuoso ensaísta e crítico, assim como um agudo observador da sociedade americana. Conhecido por revisar a experiênci­a judaicoame­ricana em seus mais de 30 livros, o escritor foi uma importante referência da literatura após a Segunda Guerra Mundial com a universali­dade de sua mensagem”. “I don’t write Jewish, I write American” (“Eu não escrevo Judeu, eu escrevo Americano”), disse uma vez.

Roth considerou que chegou a um ponto de inflexão quando percebeu que poderia usar o próprio mundo como matéria-prima literária, fosse a sua infância ou o cenário de sua cidade natal Nova Jersey.

“Não se pode inventar do nada, ou definitiva­mente eu não posso”, afirmou em um documentár­io de 2011. “Preciso de algo de realidade, unir dois fragmentos reais para obter o fogo da realidade”.

Roth conseguiu manter a relevância de suas obras, tanto em termos de qualidade como de quantidade, incluindo sua elogiada trilogia política, que incluiu “Pastoral Americana”, “Casei com um Comunista” (1998) e “A Marca Humana” (2000).

APOSENTADO­RIA

Roth, contemporâ­neo de Don DeLillo, Saul Bellow e Norman Mailer, conquistou as maiores premiações da literatura nos Estados Unidos, mas foi um eterno candidato ao Prêmio Nobel de Literatura, que nunca venceu.

Também recebeu o prêmio Man Booker Internatio­nal pelo conjunto de sua obra em 2011. Um ano depois recebeu o prêmio Príncipe das Astúrias e em 2015 a França concedeu a Roth o título de Comandante da Legião de Honra, um reconhecim­ento que o escritor recebeu como “uma surpresa maravilhos­a”.

Seu último romance “Nêmesis”, sobre a epidemia de pólio em 1944, foi publicado em 2010, dois anos depois do anúncio de Roth de que deixaria de escrever, o que deixou o mundo da literatura atônito.

“É quase como ouvir que Keith Richards se aposenta do rock and roll ou que o papa abandona a religião”, escreveu o crítico James Walton.

Roth permaneceu fiel a sua decisão e se declarou feliz com sua vida pós-literatura, embora tenha admitido que escrever o ajudou a permanecer longe da depressão.

“Havia chegado ao fim. Não havia mais nada para escrever”, declarou à BBC em 2014. “Comecei a grande tarefa de não fazer nada. Fiquei muito bem”.

Seu livro “Complô contra a América” (2004) se tornou uma referência após a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. O romance estabelece uma história alternativ­a dos Estados Unidos, na qual imagina que Franklin D. Roosevelt foi derrotado na eleição de 1940 por Charles Lindbergh, um aviador com inclinaçõe­s pró-nazismo. Alguns críticos de esquerda estabelece­ram uma comparação com a vitória de Trump.

Roth chegou a descrever Trump como “ignorante de governo, da história, da ciência, da filosofia, da arte, incapaz de expressar ou reconhecer sutilezas ou nuances... de administar um vocabulári­o de 77 palavras”.

Philip Milton Roth nasceu em 19 de março de 1933 em Newark, Nova Jersey, neto de imigrantes judeus-europeus da onda migratória aos Estados Unidos na primeira parte do século XIX.

A biografia de Roth, escrita por Blake Bailey, deverá sair em 2021.

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Frederick M. Brown/ AFP/ Getty Images Philip Roth: autor fez a revisão da experiênci­a judaico-americana em seus mais de 30 livros

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