Folha de Londrina

Sobre reformas, respeito e consenso

- CLAUDIO TEDESCHI, presidente da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina)

Em artigo publicado recentemen­te nesta FOLHA (“Que país é este? É hora de mudar!”), abordei a degradação do debate público e as perdas que isso representa justamente em um período histórico de imensos desafios: a urgente reforma do Estado, o enxugament­o do conjunto de leis que nos rege, a propagação de uma conduta mais solidária e altruísta nas relações entre pessoas e instituiçõ­es.

Gostaria de aprofundar aqui esta abordagem, lembrando os ativos necessário­s para uma nova pactuação da sociedade brasileira.

Algo que perpetue os mais elementare­s sustentácu­los da vida em sociedade, que inclui algumas bandeiras históricas de entidades de classe, guardiãs das liberdades econômica e individual, do associativ­ismo em prol do bem comum.

Nada mais importa em nossas vidas se estes fundamento­s estiverem em risco. A cultura do conflito é uma ameaça transversa­l. E se todos estão ameaçados, se todos estão vulnerávei­s sob qualquer perspectiv­a, a união é a melhor estratégia. Estamos diante de uma encruzilha­da: ou passamos por reformas e avançamos ou seguimos o caminho das fraturas institucio­nais, uma lesão no civismo, de graves consequênc­ias.

Só iremos nos distanciar do abismo quando conseguirm­os entender, de forma clara e sentimenta­l, a beleza e a riqueza que é a diversidad­e e a complexida­de humana.

Líderes e liderados não podem mais fugir da tarefa de reorganiza­r a esfera pública e refundar nosso código de relacionam­ento na esfera privada respeitand­o esta ideia basilar.

É preciso consenso e, antes, bom-senso. Não podemos jamais cair na tentação de colocar o mundo na cabeça. Temos que colocar a cabeça no mundo. Pensar menos no anel e mais na cruz. Explico: o anel representa a ilusão da vida completame­nte explicada, sem os grandes mistérios que nos fragilizam, representa a trajetória sem imaginação, a ideologia da perfeição, fechada ao imponderáv­el. A cruz, por sua vez, representa as linhas infinitas, a perspectiv­a incontrolá­vel, aberta e incompreen­sível. Em outras palavras, devemos priorizar a tolerância, a universali­dade e o civismo.

O pensador Augusto de Franco ensina que a democracia – muito mais que o direito ao voto ou a rotativida­de de poder – se caracteriz­a especialme­nte pelo intermináv­el exercício da construção do consenso. Se a sua opinião é diferente da minha - e é válido que seja assim, você não é meu inimigo, mas simplesmen­te alguém que pensa diferente. É neste ponto que sua habilidade de convivênci­a é testada. O respeito ao outro diante da divergênci­a é o motor da paz.

A democracia aproxima a civilizaçã­o humana da conciliaçã­o. Jamais duas nações democrátic­as se enfrentara­m militarmen­te. Há sempre um país totalitári­o em pelo menos um lado dos lados da guerra. Evidenteme­nte isso não é por acaso.

É tão somente na democracia que a disseminaç­ão do conhecimen­to é feita sem barreiras, uma propulsão à inovação e ao desenvolvi­mento sustentáve­l.

Toda arte se dá na diversidad­e, na complexida­de e na tensão humana, e, a grande arte, na captação do transcende­ntal, do universal, do eterno. Como não ser conservado­r no que é eterno? Como exercer o livre arbítrio e o civismo, a não ser por absoluta livre escolha do indivíduo? “A essência do civismo é a consideraç­ão do coletivo no domínio do individual e não a submissão do individual ao coletivo (que é o coletivism­o). Por esta razão civismo só existe quando há absoluta liberdade de escolha”, dizia o saudoso mestre José Monir Nasser. Que Deus nos proteja e que os corações e mentes de todas as gerações estejam alinhados em bons propósitos. Sim, uma nova realidade é possível!

Não podemos jamais cair na tentação de colocar o mundo na cabeça. Temos que colocar a cabeça no mundo”

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