Folha de Londrina

Greve dos caminhonei­ros tem clima de confratern­ização

Familiares se juntaram aos motoristas parados às margens da BR-369 e da PR-445; doações de alimentos pela população não param de chegar

- Simoni Saris

Oalmoço de família do domingo foi na beira da estrada para os caminhonei­ros que aderiram à greve nacional. Às margens da BR369 e da PR-445, entre Londrina e Cambé, mulheres e crianças se juntaram aos motoristas que cruzaram os braços na última segunda-feira (21) contra o aumento no preço do óleo diesel. Na BR-369, próximo à Granosul Agroindust­rial, cerca de 600 caminhões estavam parados e outros 460 veículos se aglomerava­m no Auto Posto Cupimzão, na PR-445, entre Londrina e Cambé. A macarronad­a e o churrasco fogo de chão foram feitos com as doações que não param de chegar desde o início da semana passada.

“Teve macarrão, carne assada, batata”, contou a diarista desemprega­da Ivonete Pereira, que foi com toda a família para a BR-369 encontrar o irmão, caminhonei­ro, que ficou a semana passada inteira na mobilizaçã­o da categoria. “Estou achando ótimo esse movimento e eles têm que ir até o fim”, defendeu.

O apoio, comemoram os caminhonei­ros, vem de todos os cantos. Religiosos já distribuír­am sopão, há bufês doando refeições e muita gente chega a todo momento com sacolinhas recheadas de comida, café e refrigeran­te. Na tarde deste domingo, Aline Ocampos chegou ao local com dois bolos. “Sou filha de caminhonei­ro. Meu pai está no movimento desde que começou e a gente está a semana inteira junto com ele”, disse. “No sábado, servimos o jantar para 1,3 mil pessoas aqui”, comentou o caminhonei­ro Vanderley Gumiero. Ele mora em Guarapuava (Centro) e quando a greve começou, estava voltando de uma viagem a Parauapeba­s (Pará). “Parei aqui e vou ficar enquanto durar a paralisaçã­o.”

Além das doações, a ajuda chega também de outras formas. Muitos motoristas que passam pela rodovia param para conversar com os grevistas e expressam solidaried­ade ao movimento. O eletricist­a Humberto Bock permitiu que os manifestan­tes escrevesse­m no vidro do carro dele palavras de apoio à mobilizaçã­o. “Apoio 100% essa paralisaçã­o e, se eu puder, apoio ainda mais. Falta muita vergonha na cara para esse governo”, disse.

A principal reivindica­ção da classe é a redução de 25% no preço do óleo diesel, mas os motoristas também querem a suspensão da cobrança do pedágio por eixo suspenso, a aprovação do marco regulatóri­o do transporte, a extinção da contribuiç­ão do PIS e Cofins do óleo diesel para o transporte rodoviário de cargas, entre outras solicitaçõ­es.

Os motoristas se queixam dos altos custos impostos à categoria, que têm reduzido ano após ano a lucrativid­ade. “Não tem mais como sobreviver nesse País. Estou parado bem antes da greve porque para mim não dá mais. Fui recentemen­te para Cuiabá (MT) com frete de R$ 4,3 mil e R$ 4 mil ficaram na estrada. Há um mês tive que fazer o motor do caminhão, ficou em R$ 10 mil. Paguei parcelado e não sei se vou conseguir pagar a retífica. Estamos rodando sucateados porque não tem frete para cobrir nossos custos”, disse Davi Pereira.

“Na semana retrasada tive que renovar o registro da ANTT (Agência Nacional de Transporte­s Terrestres) e gastei R$ 860. Para onde vai esse dinheiro?”, questionou o caminhonei­ro Marcos Donadon. Ele disse estar feliz com as manifestaç­ões de solidaried­ade que a categoria tem recebido desde o início da mobilizaçã­o. “As pessoas entendem o que a gente passa e para os outros também está muito ruim, não é só para os caminhonei­ros. Está muito difícil a situação no Brasil.”

Na PR-445, nas proximidad­es do Auto Posto Cupimzão, os motoristas planejam meios de retribuir o auxílio dispensado a eles pela sociedade e, segundo Donadon, uma das ajudas possíveis seria a doação de sangue. “Se o ônibus do Hemocentro do HU estacionar aqui, vão conseguir muitos doadores. Vamos mostrar que temos sangue nas veias.”

Por volta das 16h30 deste domingo, centenas de veículos entre bicicletas, tratores, vans, caminhões e automóveis de passeio realizaram uma carreata na PR-445. Segundo os caminhonei­ros, o protesto foi organizado por agricultor­es favoráveis à paralisaçã­o e os participan­tes se reuniram em Cambé antes de seguir pela rodovia.

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Fotos: Gustavo Carneiro Motoristas que passavam pela rodovia eram saudados pelos manifestan­tes
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Sanduíches, macarronad­a e até churrasco fogo de chão foram divididos entre caminhonei­ros, familiares e curiosos que se juntaram nos locais de paralisaçã­o

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