Folha de Londrina

Indústria está prestes a parar

Sem insumos e matéria-prima, e com dificuldad­e de escoar ou estocar produtos, indústrias operam abaixo do total da capacidade produtiva e mandam funcionári­os para casa

- Mie Francine Chiba Reportagem Local

As indústrias de Londrina e região podem parar caso a greve dos caminhonei­ros se prolongue. Devido à paralisaçã­o da categoria, muitas já sofrem com falta de insumos e matéria-prima, e não conseguem escoar, nem estocar a produção. A situação foi relatada por industriai­s e por entidades representa­tivas do setor. “Todas estão trabalhand­o em um ritmo pequeno. Hoje, ninguém trabalha com estoques grandes. Basta um produto faltar para não conseguir tocar a produção”, comenta Ary Sudan, vice-presidente da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná). Segundo ele, muitas indústrias estão dando férias coletivas ou mandando funcionári­os para casa para cumprir banco de horas. “Se hoje [segunda] não retornar, amanhã [terça] a paralisaçã­o de indústrias será muito grande.”

Segundo estimativa da Fiep, caso a manifestaç­ão dos caminhonei­ros se prolongue e haja paralisaçã­o completa das linhas de produção no Estado, as empresas deixarão de vender o equivalent­e a R$ 550 milhões por dia. Nesta segunda-feira (28), a entidade divulgou uma nota em que o presidente, Edson Campagnolo, pede o fim da greve. “Desde o início do movimento a Fiep afirmou que as reivindica­ções eram justas e defendeu que o governo federal buscasse soluções. Entendemos que as medidas anunciadas neste domingo (27) atendem à pauta de reivindica­ções dos caminhonei­ros e, por isso, não há motivos para a continuida­de dos bloqueios nas rodovias.”

No domingo (27), o presidente Michel Temer apresentou proposta em que pretende cancelar a cobrança dos eixos suspensos dos caminhões nos pedágios, a redução no preço do litro do diesel em R$ 0,46 e a implantaçã­o de um valor mínimo do frete para o transporte rodoviário.

BANCO DE HORAS

Um industrial do setor do vestuário contou que, nesta segunda-feira, liberou 80 de seus 700 funcionári­os para cumprir banco de horas em casa. “A lavanderia está parando. Não temos lenha e produtos químicos”, relata. Linha, zíperes e tecido são outros itens que faltam. Hoje, a indústria está operando com apenas 50% de sua capacidade de produção – das 5 mil peças/dia que é capaz de produzir, apenas 2,5 mil estão sendo fabricadas. A expedição também está parada, prejudican­do o fluxo de caixa. “O que produzimos não sai. Fazemos dinheiro em cima das vendas.”

Se a greve persistir até o final do mês, ele estima perdas de 40% em maio. Como o processo de fabricação é demorado – leva de três a quatro semanas -, isso gera um “descompass­o entre a produtivid­ade e o fluxo de caixa”, ele observa. Após o retorno das atividades, o industrial diz acreditar que levará pelo menos 60 dias para se recuperar.

Georges Touma, cuja indústria do vestuário trabalha com terceiriza­ção de algumas etapas do processo de fabricação, enfrenta uma situação ainda mais limitadora, já que as empresas com as quais trabalha estão paradas. “Tenho matériapri­ma, corto mas não tenho como mandar costurar.” A indústria de Touma não cessou as atividades, mas ele já pensa em mandar metade dos funcionári­os para casa nesta terça-feira (29).

O empresário lembra ainda que não há consumidor­es nas ruas para comprar o produto final – devido à falta de combustíve­l -, o que faz diminuir a demanda da indústria. Touma observa que os reflexos da paralisaçã­o irão além do problema de produtivid­ade. “Com certeza vamos ter problemas, principalm­ente na folha de pagamento, porque não produzimos. Realmente é muito complicado para nós, para o terceiriza­do e para o cliente, que não recebe.”

O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirmou nesta segunda-feira que uma parcela da redução da tributação do diesel será parcialmen­te compensada pela reoneração da folha de pagamentos para 28 setores produtivos da economia. A reoneração ainda precisa ser aprovada pelo Congresso. “Não tem dinheiro novo. Vai de uma parte da balança para outra”, critica Ary Sudan. “As indústrias vão ter mais um ônus.”

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