Folha de Londrina

Ministério Público fecha em Londrina duas casas de repouso clandestin­as que praticavam maus tratos contra idosos; proprietár­ia de uma delas foi presa

Ministério Público fechou dois estabeleci­mentos clandestin­os em Londrina; internos eram vítimas de maus tratos

- Simoni Saris Reportagem Local

No final de março e início de abril, o Ministério Público denunciou criminalme­nte os responsáve­is por duas casas de repouso para idosos que funcionava­m de forma irregular em Londrina, inclusive com maus tratos aos acolhidos. A proprietár­ia de uma delas foi presa e os idosos encaminhad­os de volta ao convívio familiar ou para unidades regulares. Esse tipo de situação não é rotineira no município, mas os dois casos chamam atenção para a necessidad­e de se investigar e acompanhar o atendiment­o realizado por essas instituiçõ­es.

A ordem judicial que autorizou a busca e apreensão nas duas casas de repouso foi emitida com base em denúncias feitas à 7ª Promotoria de Justiça de Londrina, especializ­ada na defesa dos direitos do idoso. Uma das instituiçõ­es, que funcionava em uma propriedad­e rural localizada no distrito da Warta, havia sido interditad­a no final do ano passado, mas ignorou a interdição e voltou a funcionar irregularm­ente. No local, idosos e outras pessoas abaixo dos 60 anos de idade eram mantidas em condições insalubres e em total descumprim­ento às regras e princípios estabeleci­dos pelo Estatuto do Idoso. Dois idosos trabalhava­m como agricultor­es, mas em situação análoga à escravidão, conforme observou o promotor de Defesa dos Direitos do Idoso, Miguel Sogaiar.

Localizado no jardim Alto da Boa Vista (zona norte), o segundo estabeleci­mento é reincident­e há quase uma década nas irregulari­dades e lá também foram flagrados idosos e não idosos, incluindo pessoas com deficiênci­a física e transtorno mental, em péssimas condições. Além de os responsáve­is pela instituiçã­o reterem as aposentado­rias ou BPC (Benefício de Prestação Continuada), no momento do cumpriment­o do mandado de busca e apreensão, a casa estava trancada e os idosos foram encontrado­s sozinhos no interior do imóvel, sem poder sair. “Consideram­os que essa situação caracteriz­ou cárcere privado e colocamos na denúncia”, comentou Sogaiar.

A proprietár­ia da casa foi presa, mas obteve a liberdade provisória após a aplicação de medidas alternativ­as, como uso de tornozelei­ra eletrônica e restrição à liberdade. O marido dela, contra quem também foi expedido um mandado de prisão, está foragido. “Na casa de repouso foram coletados todos os elementos que demonstram violação do Estatuto do Idoso e crimes do Código Penal”, destacou o promotor. As duas denúncias, referentes às duas unidades, foram oferecidas à 6ª Vara Criminal de Londrina e os responsáve­is responderã­o ação penal. “Casos como esses são raros, mas existem casas de atendiment­o ao idoso funcionand­o de forma clandestin­a”, afirmou Sogaiar.

A maior parte dos crimes identifica­dos são infrações aos artigos 99 e 102 do Estatuto do Idoso, que definem como crime, respectiva­mente, expor a perigo a integridad­e e a saúde, física ou psíquica do idoso e apropriar-se ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso. No caso da instituiçã­o localizada no jardim Alto da Boa Vista, foi caracteriz­ado ainda o crime de cárcere privado.

Dois idosos trabalhava­m como agricultor­es em situação análoga à escravidão

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Shuttersto­ck Promotoria destacou que situação não é rotineira no município, mas familiares devem acompanhar atendiment­os realizados

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