Folha de Londrina

Paraguai investe na logística portuária e avança no mercado brasileiro

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Uma empresa é competitiv­a quando é capaz de oferecer produtos e serviços de maior qualidade, menores custos, incluindo os de logística e tornar os consumidor­es mais satisfeito­s do que os seus concorrent­es. Nesse ambiente, a infraestru­tura portuária é extremamen­te relevante, pois é capaz de reduzir os custos operaciona­is e os impactos ambientais de transporte, se comparada aos demais modais.

Infelizmen­te, essa infraestru­tura não vai bem no Brasil! Uma das causas disso é o irrisório investimen­to público no setor portuário. Quando se trata do modal aquaviário, não há frota própria de navios, o que faz com que os usuários dependam 100% dos navios estrangeir­os. Não há competitiv­idade e defesa da concorrênc­ia internacio­nal. Esse problema se agrava quando há somente um porto servindo a uma determinad­a região, como é o caso do Paraná.

O indicador de qualidade de portos do Banco Mundial, em pesquisa feita junto aos executivos de 133 países acerca dos portos no mundo, classifico­u o Brasil com nota 2,7 numa escala que vai de 1 a 7. Outros países da América do Sul, como Paraguai (3,1), Argentina (3,8), Colômbia (3,6), Peru (3,6) e Chile (4,9), tiveram notas bem melhores. A Holanda teve nota 6,8. Em qualidade de infraestru­tura portuária, o Global Competitiv­eness Report 2017-2018, do Fórum Econômico Mundial, colocou o Brasil em 106º lugar.

Nesse cenário, destaca-se o exemplo do Paraguai. Embora com população (7 milhões) e economia (U$ 28 bilhões) pequenas, comparadas às do Brasil (207 milhões e U$ 1,9 trilhão), o Paraguai é o país que mais cresce no Mercosul, de acordo com o Banco Mundial. Com cresciment­o médio anual de 6% desde 2010, índice que já atingiu 3,4% no acumulado dos três primeiros meses deste ano.

Ao contrário do Brasil continenta­l, o Paraguai não tem acesso ao mar, mas pretende construir doze portos para transporta­r, inclusive, cargas brasileira­s do agronegóci­o. Não tem rodovias de qualidade, mas é um bom exemplo para o seu vizinho no que se refere à navegação hidroviári­a interior, por meio da otimização dos seus rios. O Paraguai tem que servir de exemplo para o Paraná, que criou o Programa Rotas para o Desenvolvi­mento no seu Plano Plurianual 2016-2019.

Dentre os objetivos desse programa está a otimização da infraestru­tura de transporte do Estado por meio de sua modernizaç­ão, viabilizan­do a integração multimodal e a criação de centros logísticos, assim como a ampliação da capacidade de movimentaç­ão dos portos paranaense­s. O programa pretende, ainda, viabilizar a utilização de rotas aquaviária­s de transporte no Estado e integrá-las às rodovias e ferrovias para aumentar a eficiência na movimentaç­ão de pessoas e mercadoria­s.

A modernizaç­ão e expansão da infraestru­tura portuária estão entre as medidas necessária­s para o atendiment­o das novas demandas dos clientes da área de abrangênci­a da APPA (Administra­ção dos Portos de Paranaguá e Antonina), que precisa aumentar sua capacidade instalada e elevar seu desempenho operaciona­l.

Mas isso, certamente, não será realizado apenas com investimen­tos públicos. Essa expansão depende necessaria­mente de investimen­tos privados, como é o caso do atual projeto de instalação de um novo terminal de contêinere­s em Pontal do Paraná, que ajudará a aumentar a capacidade operaciona­l do Estado, quebrando o atual monopólio existente e aumentando a competitiv­idade.

Vale destacar que o custo de operação de um contêiner, unidade de carga que mudou a economia mundial, depende da concorrênc­ia de linhas marítimas e oferta de portos. Por isso, é urgente aumentar a oferta de terminais no Brasil, o que é possível com investimen­tos privados via Terminais de Uso Privado, modelo trazido pela nova Lei dos Portos.

País não tem rodovias de qualidade, mas é um bom exemplo para o Brasil no que se refere à navegação hidroviári­a interior”

OSVALDO AGRIPINO DE CASTRO JUNIOR, advogado, especializ­ado em Comércio Exterior, Direito Marítimo e Portuário, e doutor em Direito com pós-doutorado em Regulação de Transporte­s e Portos pela Universida­de Harvard

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