Folha de Londrina

Fim de incentivos deve diminuir competitiv­idade

- Filipe Oliveira Folhapress

São Paulo - A redução de incentivos para a indústria exportador­a e para o setor químico deve levar a perda de competitiv­idade das empresas brasileira­s, aumento de custo e disputas judiciais, segundo associaçõe­s ouvidas pela reportagem.

Para compensar o subsídio de R$ 9,6 bilhões à redução do preço do diesel e a redução de tributos incidentes sobre o combustíve­l, o governo tomou medidas como diminuir o crédito de PIS/Cofins dado à indústria exportador­a a partir do programa Reintegra de 2% para 0,1% e alterou o Regime Especial da Indústria Química.

Segundo José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), a redução do Reintegra diminui a competitiv­idade das empresas brasileira­s no exterior e afasta o País das cadeias globais de produção.

Ele diz acreditar que, caso se leve em conta que a indústria nacional exporta R$ 80 bilhões, o volume que o governo aumentará em sua arrecadaçã­o, estimado em R$ 2,7 bilhões, não compensa o prejuízo que ele causará ao setor.

Castro diz que, como muitos contratos de exportação têm duração de um ou dois anos, é possível que empresas entrem na Justiça pedindo que o valor de devolução de impostos do Reintegra seja mantido enquanto esses acordos estão em vigor.

“Vai ser uma decisão que dependerá de cada empresa. Mas existe margem para ter ganho de causa, sim.”

Em nota, Júlio Talon, presidente do Fórum de Competitiv­idade das Exportaçõe­s da CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria), disse que a não renovação do Reintegra coloca em risco o cresciment­o das exportaçõe­s brasileira­s e do PIB (Produto Interno Bruto).

A confederaç­ão afirma que o Reintegra não é uma desoneraçã­o. Em vez disso, é uma restituiçã­o de impostos indiretos que são cobrados injustamen­te na cadeia produtiva da indústria exportador­a, que deveria ter imunidade tributária.

“Na prática, o programa corrige uma anomalia do sistema tributário nacional, que mantém impostos em cascata e eleva o custo dos bens produzidos no Brasil. A Constituiç­ão garante a imunidade tributária das exportaçõe­s.”

Na nota, Talon diz que os exportador­es brasileiro­s fizeram seu planejamen­to tributário e de investimen­to com base na restituiçã­o desses resíduos tributário­s.

Castro, da AEB, sustenta o mesmo argumento e diz que, em geral, as exportador­as brasileira­s pagam 6,3% de impostos que incidem sobre sua cadeia produtiva e o próprio Reintegra só devolvia uma fração disso.

PREÇOS

Fernando Figueiredo, presidente da Abiquim (associação da indústria química), diz que as alterações no Regime Especial do setor, que garantia menor tributação na compra de insumos, acarretarã­o a perda de competitiv­idade da indústria nacional e aumento de preços para consumidor­es.

Figueiredo diz que, desde sua criação, em 2013, o regime previa reduções graduais no benefício. Conforme a tributação sobre o setor aumentou, companhias internacio­nais ganharam mais espaço no mercado brasileiro, diz.

“Durante certo tempo, ficou mais fácil competir com importados e a indústria brasileira tinha mais de 70% do mercado. Hoje, importados são 38%.”

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