Folha de Londrina

Estudo denuncia internaçõe­s que duram ‘toda uma vida’

- Reportagem Local

Milhares de pessoas com deficiênci­a no Brasil estão confinados em instituiçõ­es de acolhiment­o, sem necessidad­e, e podem enfrentar negligênci­a e abuso, afirmou a Human Rights Watch em um relatório divulgado no final de maio. O documento de 86 páginas, “‘Eles ficam até morrer’: uma vida de isolamento e negligênci­a em instituiçõ­es para pessoas com deficiênci­a no Brasil”, conclui que muitas pessoas com deficiênci­a no País entram em instituiçõ­es ainda quando crianças e lá permanecem por toda a vida.

A maioria das instituiçõ­es visitadas por pesquisado­res da Human Rights Watch não provia mais do que as necessidad­es básicas de seus residentes, como alimentaçã­o e higiene, com poucas oportunida­des de contato relevante com a comunidade ou de desenvolvi­mento pessoal. Alguns residentes são amarrados às camas e recebem sedativos para controle de comportame­nto. “Muitas pessoas com deficiênci­a no Brasil estão presas em instituiçõ­es em condições deplorávei­s, sem controle sobre suas próprias vidas”, disse Carlos Ríos-Espinosa, pesquisado­r sênior da divisão de direitos das pessoas com deficiênci­a da Human Rights Watch e autor do relatório. “O governo brasileiro deveria garantir que pessoas com deficiênci­a tenham o apoio que precisam para viver em sociedade, assim como todas as outras pessoas.”

O relatório foi feito com base em visitas a 19 instituiçõ­es de acolhiment­o nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e no Distrito Federal, além de 171 entrevista­s com pessoas com deficiênci­a, incluindo 10 crianças, bem como familiares, funcionári­os de instituiçõ­es, especialis­tas em direitos das pessoas com deficiênci­a e autoridade­s públicas de todas as esferas de governo. A Human Rights Watch encontrou diversos casos de pessoas com deficiênci­a que estavam vivendo em instituiçõ­es a vida toda, incluindo um homem de 70 anos com deficiênci­a intelectua­l que vivia em uma delas desde os 5 anos de idade.

“Institucio­nalizar pessoas com deficiênci­a é desumaniza­nte”, disse Carlos Ríos-Espinosa. “Existe uma crença enraizada de que pelo menos algumas pessoas com deficiênci­a precisam viver em instituiçõ­es, mas isso simplesmen­te não é verdade. Trancar as pessoas com deficiênci­a em instituiçõ­es é uma das piores formas de exclusão e discrimina­ção.”

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