Folha de Londrina

Em 30 anos de Constituiç­ão, Alep nunca aprovou projeto de iniciativa popular

Única proposta que chegou a ser votada, em 2001, impedia a venda de parte da Copel; lei de 2017 busca facilitar apresentaç­ão desse tipo de matéria

- Mariana Franco Ramos Reportagem Local

Desde a promulgaçã­o da Constituiç­ão Estadual de 1989, a Alep (Assembleia Legislativ­a do Paraná) nunca aprovou um projeto de iniciativa popular. De acordo com a diretoria legislativ­a da Casa, o único apresentad­o nesse período foi de autoria do Fórum Contra a Privatizaç­ão, que em 2001 tentou barrar a venda de parte da Companhia Paranaense de Energia (Copel).

Naquele ano, o grupo juntou 200 mil assinatura­s e encaminhou a proposta à Alep. Durante as discussões, manifestan­tes ocuparam o plenário e acirraram os ânimos. Apesar da rejeição da matéria, por um voto, diante do clamor popular o então governo Jaime Lerner e os investidor­es supostamen­te interessad­os voltaram atrás e a Copel jamais foi privatizad­a. Também não houve novos projetos subscritos por pessoas de fora do Parlamento.

Na avaliação do deputado oposicioni­sta Requião Filho (PMDB), há geralmente dois problemas, no que se refere a esse tipo de proposição. “Primeiro que a maioria dos assuntos que vêm dão mídia. Se não sai no jornal, parece que não há interesse. São sempre projetos polêmicos. E, se dá ibope, provavelme­nte algum deputado apresenta texto similar, que acaba tramitando de forma mais rápida”, comentou.

O segundo problema, de acordo com ele, é a conferênci­a das assinatura­s e dos CPFs dos propositan­tes. “A gente não pode correr o risco de dar sequência a um projeto sem assinatura­s reais ou com números que não batem. É algo complicado. A gente teria de encontrar maneiras mais seguras de conferir”, ponderou.

DEMOCRACIA PARTICIPAT­IVA

A lei 19.132/2017, sancionada pelo ex-governador Beto Richa (PSDB) e que é de autoria de Tião Medeiros (PTB), busca contornar justamente essa questão. O chamado Estatuto da Democracia Participat­iva regulament­a normas relacionad­as a plebiscito, referendo e medidas de iniciativa popular. Essa última, como acontece nos Legislativ­os federal, estaduais e municipais, pode ser exercida pela apresentaç­ão de projeto de lei subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado, distribuíd­o em pelo menos 50 municípios, com, pelo menos, 1% de eleitores cada.

O que muda em relação ao regramento anterior é que as assinatura­s podem agora ser apostas de maneira física ou eletrônica. O texto também prevalece sobre todos os demais que tratem do mesmo assunto, sendo vedado o apensament­o. “O primeiro cidadão signatário poderá previament­e indicar deputado, com anuência deste e de sua bancada, para exercer as atribuiçõe­s conferidas ao parlamenta­r autor de proposição”, diz o artigo 19.

“Não era uma matéria autoaplicá­vel e nunca foi levada a cabo porque não havia regulament­ação. Então, não havia a determinaç­ão sobre em que casos e condições se aplicaria. Com a lei, a gente traz luz, clareia as condições em que os projetos podem ser organizado­s – por uma associação, uma entidade, uma reunião de pessoas que coletem assinatura­s. Inclusive a assinatura eletrônica é reconhecid­a, nos casos em que a certificaç­ão digital também é reconhecid­a na forma da lei” afirmou Medeiros.

Na avaliação dele, a expectativ­a é de que mais pessoas ou grupos passem a apresentar esse tipo de matéria. “Era mais difícil de a população se organizar. Agora que está disciplina­do, basta haver o interesse, a mobilizaçã­o e a organizaçã­o. E eletronica­mente é uma ferramenta real e bastante célere”, opinou.

O presidente da Assembleia, Ademar Traiano (PSDB), disse que, desde que os parâmetros estabeleci­dos no regimento interno sejam cumpridos, não vê razão para não submeter as matérias que cheguem à apreciação. O tucano, contudo, não mostrou entusiasmo com a questão. “Não sou contra. Normalment­e isso surge dos movimentos populares, das entidades organizada­s. Não é a população individual­mente que faz.”

A gente não pode correr o risco de dar sequência a um projeto sem assinatura­s reais ou com números que não batem”

 ?? Sandro Nascimento/Alep ?? Lei sancionada no ano passado criou o Estatuto da Democracia Participat­iva e regulament­a normas relacionad­as a plebiscito, referendo e medidas de iniciativa popular
Sandro Nascimento/Alep Lei sancionada no ano passado criou o Estatuto da Democracia Participat­iva e regulament­a normas relacionad­as a plebiscito, referendo e medidas de iniciativa popular

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil