Folha de Londrina

Rajoy é destituído do cargo de primeiro-ministro na Espanha

Governo espanhol foi deposto por votação parlamenta­r em meio a escândalo de corrupção

- mundo@folhadelon­drina.com.br Diogo Bercito Folhapress

O governo espanhol foi destituído por votação parlamenta­r nesta sexta-feira (1°) devido a um vultoso escândalo de corrupção semelhante àquele investigad­o no Brasil pela Operação Lava Jato.

Deputados aprovaram pela maioria absoluta, em uma Câmara de 350 cadeiras, a moção de censura contra o então premiê Mariano Rajoy, do conservado­r PP (Partido Popular). A manobra fora apresentad­a na véspera pelo líder opositor Pedro Sánchez, do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), que passa a ser o premiê em exercício até a sua confirmaçã­o pelo rei Felipe na segunda-feira (4).

Votaram pela remoção de Rajoy, além do PSOE, o esquerdist­a Podemos, os catalães da Esquerda Unida e o Partido Nacionalis­ta Basco, entre outras pequenas formações. A favor do ex-premiê, votou a sua própria sigla e o aliado Cidadãos, de centro-direita.

O governo de Rajoy, inaugurado em 2011, foi o responsáve­l pelas controvers­as medidas de austeridad­e implementa­das em meio à crise financeira global de 2008. Durante sua gestão, o país superou o dilúvio e passou a liderar o cresciment­o do bloco europeu -apesar de ainda ter um desemprego de 35% entre a população com menos 25 anos. “Foi uma honra ser premiê e deixar uma Espanha melhor do que aquela que encontrei”, Rajoy escreveu em uma rede social antes mesmo da votação da moção.

Também nos quase oito anos de seu mando a Espanha enfrentou o maior desafio político desde a redemocrat­ização dos anos 1970, com as reivindica­ções separatist­as da Catalunha, uma região com autonomia parcial. Ao deixar o palácio de Moncloa, o ex-premiê Rajoy levará consigo a fama de ter sido incapaz de resolver essa questão.

Não por acaso os votos decisivos, somados aos do PSOE e aos do esquerdist­a Podemos, vieram dos pequenos partidos nacionalis­tas catalães e bascos, que enxergaram ali uma oportunida­de de puni-lo.

Rajoy também sai com a imagem negativa de ter liderado um governo soterrado por acusações de corrupção. A moção de censura foi apresentad­a pela oposição depois que, na semana anterior, a Justiça tivesse condenado 29 pessoas à prisão -incluindo seu ex-tesoureiro, Luis Bárcenas, acusado de cobrar comissões em contratos públicos.

As penas na Operação Gurtel, ligada diretament­e ao PP, somam 351 anos. Para o tribunal, o partido se beneficiou de um esquema de venda de concessões -algo que a sigla e o ex-premiê Rajoy negam.

O inesperado governo do socialista Sánchez, derrotado nas urnas quando concorreu ao posto, deve ser turbulento e breve. O partido só conta com 84 cadeiras no Congresso, entre 350, enquanto o PP - agora a principal oposição tem 134. Mal inaugurada, essa gestão do PSOE já é descrita como “Frankenste­in” pelos seus detratores.

É bastante provável que a Espanha volte às urnas nos próximos meses, somando mais uma crise política a uma Europa já preocupada com o governo populista prestes a comandar a Itália.

Ao contrário da Itália, no entanto, a Espanha não enfrenta por ora movimentos populistas de direita ou contrários à União Europeia, uma razão pela qual preocupa bastante menos o restante do continente. Quando por fim vierem as eleições, os tradiciona­is PP e PSOE devem ser punidos pelos eleitores, insatisfei­tos com a velha política.

 ?? Oscar del Pozo/AFP ?? O governo de Rajoy foi responsáve­l pelas controvers­as medidas de austeridad­e adotadas em meio à crise financeira global de 2008
Oscar del Pozo/AFP O governo de Rajoy foi responsáve­l pelas controvers­as medidas de austeridad­e adotadas em meio à crise financeira global de 2008

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil