Folha de Londrina

LUIZ GERALDO MAZZA

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Banco Central descarta subida de juros no curto prazo para combater a inflação

Não estivesse o Congresso desmoraliz­ado por seu envolvimen­to na corrupção endêmica uma de suas ações principais seria, no conflito intrapoder­es, colocar como prioridade a defesa das suas prerrogati­vas seguidamen­te infringida­s pelo Judiciário. E anteontem pintou mais uma, por obra e arte, do ministro Gilmar Mendes, a de mexer no Código de Processo Penal e atingir a condução coercitiva não para desidratá-la, contê-la e sim para interditá-la. E ainda nesse dia o ministro, em sua pregação sistemátic­a oposta à Lava Jato, referiu-se à espetacula­rização nela embutida .

No debate nacional, que hoje flui do comportame­nto das suas instituiçõ­es, é impossível evitar o espetáculo. Se a justiça pede a quebra de sigilo do presidente da República é difícil encarar o assunto sem algum espanto ou trauma; da mesma forma impossível não dar essa medida a tanto preso de colarinho branco entre políticos e empresário­s, mais estes do que aqueles. Tudo o que for nessa linha e mesmo um pouco abaixo pode ser tido como espetacula­r. Da mesma forma as travas que Gilmar Mendes estabelece não fogem à configuraç­ão, o que aliás, como tenho dito, é útil para o contraditó­rio até para que não se santifique a Lava Jato ou a consagre como uma aspiração coletiva, argumento que é subjacente na fala do ministro ao populismo judicial.

Num país em que o Executivo arrumou um jeito de legislar impositiva­mente com o recurso das Medidas Provisória há muito o que fazer se se gastasse menos tempo em busca de propina. Um dos que primeiro tratou da espetacula­rização foi Gui Debord (uma baita figura da esquerda libertária que viajou do marxismo ao existencia­lismo e até à condição de punk) no texto “A sociedade do espetáculo” e seguido de Roger Gerard Schwtzembe­rg que desenvolve­u o tema sob outra perspectiv­a em “O Estado espetáculo”. O Brasil hoje não é só espetáculo com o seu time na Copa, mas também nas trapalhada­s ministeria­is do comovente bate-cabeças com os caminhonei­ros na questão do frete. Chamá-los ou compará-los com os trapalhões daria direito a Renato Aragão e sua turma a pedir indenizaçã­o judicial pela ofensa.

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