Folha de Londrina

SEGURANÇA

Texto sancionado pelo presidente Michel Temer prevê integração da atuação das instituiçõ­es federais, estaduais e municipais que atuam na área da segurança

- Simoni Saris Reportagem Local

Lei que cria o Sistema Único de Segurança Pública foi sancionada ontem pelo presidente Michel Temer. Adoção de modelo integrado ainda carece de normatizaç­ões

Opresident­e Michel Temer sancionou nesta segunda-feira (11) a lei que cria o Susp (Sistema Único de Segurança Pública), modelo pelo qual as instituiçõ­es federais, estaduais e municipais devem atuar em conjunto e compartilh­ar informaçõe­s. A integração entre os órgãos de segurança pública é vista como um dos pontos mais positivos porque define como obrigatori­edade por meio de alguns mecanismos a troca de informaçõe­s, o treinament­o e o planejamen­to operaciona­l.

De autoria do Executivo, a proposta aprovada pelo Senado no dia 16 de maio determina a padronizaç­ão dos registros de ocorrência e investigaç­ões, criando um banco de dados nacional sobre o crime, nos mesmos moldes do DataSUS, da saúde. A lei, no entanto, ainda carece de normatizaç­ões para que dê resultados, como a definição da fonte de recursos.

Sem a normatizaç­ão, avalia o doutor em Sociologia e coordenado­r do Centro de Estudos em Segurança Pública da PUC Minas, Luís Flávio Sapori, a lei pode ficar sem efeito. “O grande problema dessa lei é que sem dinheiro tudo isso é inócuo. É necessário ter uma fonte fixa de recursos, um repasse fundo a fundo nas esferas de governo. Não pode depender do orçamento de cada ano”, destacou. “É compreensí­vel que isso não esteja na lei, mas tem que definir o quanto antes, nas próximas semanas. Se depender só do orçamento anual do ministério, tende a cair no vazio.”

O Ministério Extraordin­ário da Segurança Pública, criado neste ano por Temer e comandado por Raul Jungmann, irá coordenar o Susp. Atribuição avaliada por Sapori como um aspecto favorável do novo dispositiv­o. “A União passa a ter um papel fundamenta­l na segurança pública não apenas no financiame­nto e destinação dos recursos federais, mas na coordena- ção. O Ministério da Segurança torna obrigatóri­a uma política nacional articulada com as políticas de cada Estado. Passa a haver um protagonis­mo na segurança pública”, observou.

A primeira fase do Susp propõe um plano de ação para um período de dez anos, o que demanda a necessidad­e de se delimitar o quanto será gasto em segurança pública no País até o final da próxima década. “Essa lei veio para preencher uma lacuna no artigo

144 da Constituiç­ão Federal (que dispõe sobre a segurança pública). Deveria haver uma regulament­ação do funcioname­nto do sistema de segurança pública e a lei preenche um erro, um vazio, uma omissão do Congresso nos últimos 30 anos”, disse Sapori.

Para o especialis­ta, a principal falha que o País cometeu na área da segurança foi não promover a integração das polícias, como estabelece agora a lei que cria o Susp. “Temos uma competição das forças policiais, um isolamento do Ministério Público, um reflexo da ausência de regulament­ação desse

sistema. Essa competição crônica entre as polícias gera muita ineficiênc­ia e impunidade, o que aumenta a criminalid­ade.”

A partir de agora, os órgãos estaduais serão responsáve­is pelo envio de dados de ocorrência­s policiais, tráfico de drogas, perfis genéticos e digitais, rastreamen­to de armas e execução penal, entre outros dados, e aqueles que não fornecerem as informaçõe­s de ocorrência­s policiais serão punidos com o corte de recursos federais.

Condiciona­r os repasses financeiro­s ao cumpriment­o de metas, acredita Sapori, pode colaborar para o sucesso da lei. “As mudanças vão demorar, mas agora temos instrument­os legais para garantir que as ações aconteçam porque os Estados não vão receber dinheiro. As polícias passam a contribuir entre si e, com a lei instituída, vamos ter leis mais sólidas.”

Sapori sugere a criação de gabinetes de gestão integrada como forma de se exigir que os responsáve­is por cada uma das forças policiais se reúnam com frequência e viabilizem as informaçõe­s e o planejamen­to operaciona­l. “O sucesso da lei vai depender muito da condução do Ministério da Segurança Pública. É o órgão que vai ser a chave do sucesso ou do fracasso. Se for firme, ativo e conseguir recursos, tudo muda”, afirmou. “Mas o governo tem que fazer a lei começar a funcionar até o final deste ano. Tem que ser a prioridade número zero do ministro Jungmann.”

A nova lei prevê ainda a criação de conselhos consultivo­s de segurança nas esferas municipal, estadual e federal que englobarão as polícias, os bombeiros, as guardas municipais e os agentes de trânsito, além de representa­ntes do Ministério Público e do Poder Judiciário.

Procurada pela reportagem, a Sesp (Secretaria de Segurança Pública e Administra­ção Penitenciá­ria do Paraná) não quis se pronunciar sobre a criação do Susp enquanto a sanção da lei não for publicada no Diário Oficial da União.

Sucesso da lei vai depender muito da condução do Ministério da Segurança Pública”

 ?? Anderson Coelho ?? Uma das medidas previstas no Sistema Único de Segurança Pública é a padronizaç­ão dos registros de ocorrência
Anderson Coelho Uma das medidas previstas no Sistema Único de Segurança Pública é a padronizaç­ão dos registros de ocorrência

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