Espanha receberá barco com mais de 600 migrantes
Embarcação, que teve acolhida negada por Itália e Malta, resgatou grupo no sábado; destino será o porto de Valencia
Madri - A Espanha receberá o barco Aquarius com 629 migrantes, atualmente em águas do Mediterrâneo, depois que Itália e Malta se negaram a acolhê-lo, anunciou nesta segunda-feira (11) o governo de Pedro Sánchez, afirmando que a decisão pretende evitar uma catástrofe humanitária. “É nossa obrigação ajudar a evitar uma catástrofe humanitária e oferecer ‘um porto seguro para essas pessoas”, disse o comunicado do governo. A nota diz ainda que o porto escolhido por Sánchez para a recepção do barco é o de Valencia, no leste do país.
O Aquarius, fretado pela organização não governamental francesa SOS Méditerranée, resgatou no sábado (9) 629 migrantes, incluindo sete mulheres grávidas, 11 crianças pequenas e 123 menores de idade sem responsáveis, mas a embarcação estava em “stand-by” no mar, perto de Itália e Malta, que se negaram a dar acesso a qualquer porto.
Em um comunicado, o Acnur - braço da ONU (Organização das Nações Unidas) para refugiados - fez um “apelo aos governos envolvidos para permitir o desembarque imediato de centenas de pessoas retidas no Mediterrâneo desde sábado a bordo de um barco de resgate, o Aquarius”, e acrescentou que as “pessoas na embarcação estão ficando sem mantimentos”.
Malta reiterou neste domingo (10) sua recusa a receber o barco, apesar do pedido da Itália, que também se mostra decidida a não permitir a entrada em nenhum de seus portos. O ministro do Interior italiano e chefe do partido de extrema direita A Liga, Matteo Salvini, confirmou nesta segunda-feira
que não tinha intenção de voltar atrás. “Salvar vidas é um dever, transformar a Itália em um campo de refugiados, não, a Itália deixou de abaixar a cabeça e obedecer, desta vez tem alguém que diz não”, escreveu Salvini em uma rede social. O ministro também reagiu à chegada pela manhã, em frente ao litoral da Líbia, de outro barco fretado por uma ONG alemã, a Sea Watch.
O premiê italiano, Giuseppe Conte, anunciou que foram
enviados dois barcos de patrulha com medicamentos e prontos a atender às necessidades das pessoas a bordo. É a primeira vez desde a chegada ao poder da coalizão entre A Liga e o Movimento Cinco Estrelas (M5S, antissistema) que a Itália bloqueia seus portos. Salvini fez campanha antes das eleições em março prometendo o fechamento das fronteiras aos migrantes.
Desde o resgate dos migrantes, na noite de sábado, o barco fretado pela SOS Méditerranée buscava um porto seguro para desembarcar. Vincent Cochetel, enviado especial da agência da ONU para o Mediterrâneo central disse que “as pessoas a bordo estão angustiadas, faltam provisões e precisam de ajuda rapidamente”.
A Itália, que em 2013 viu desembarcar em seu litoral cerca de 700 mil migrantes, sente que durante a crise migratória a deixaram sozinha na condução da situação sem qualquer ajuda de seus sócios da União Europeia.
Salvar vidas é um dever, transformar a Itália em um campo de refugiados, não”