Folha de Londrina

O CINÉFILO FIEL

Aproveitan­do o momento do protagonis­mo feminino, produção hollywoodi­ana mostra que está acordada com “Oito Mulheres e Um Segredo”, onde elas dão as cartas

- Carlos Eduardo Lourenço Jorge Especial para a Folha2

Na produção hollywoodi­ana “Oito Mulheres e Um Segredo”, as mulheres dão as cartas

Em tempos de #MeToo e #TimesUp, a produção hollywoodi­ana deu mostras que está bem acordada e rápida nos reflexos. Aproveitan­do o momento do protagonis­mo feminino, deu à luz a este “Oito Mulheres e Um Segredo”, filme no qual as mulheres dão as cartas. Nem por isso “Ocean’s Eight” se mete a feminista. E deixa isso claro logo de saída, quando Debbie Ocean, a personagem de Sandra Bullock, o cérebro do golpe do século (pelo menos até agora, mas logologo virá trama ainda mais milionária), furta batons e perfumes numa grande loja de cosméticos. Questão de prioridade­s do sexo forte, que cuida do glamour antes de esvaziar os cofres alheios.

Depois de um bom tempo gestando o plano na penitenciá­ria, Debbie, irmã daquele Danny/George Clooney da refilmagem de “Onze Homens e um Segredo” (2001), está pronta para por em prática aquilo que aprendeu com as malandrage­ns da família Ocean em três filmes de Steven Soderberg – os outros são de 2004 e 2007. E o universo era então quase inteiramen­te masculino, misoginia quebrada por Julia Roberts.

Como nos filmes precedente­s, o que também não falta agora é elenco. Ou como diria o espectador machão, último dos moicanos: “esta mulherada está impossível”. Ou um elogio mais pesado, bem mais pesado...

O plano das meninas é se apoderar da obra-prima da joalheria, um colar Cartier avaliado em 150 milhões de dólares. O cenário dos filmes anteriores – hotéis-cassinos de Las Vegas – foi substituíd­o aqui pela exclusivís­sima gala anual do Metropolit­an Museum de Nova York. É como se o ambiente reproduzis­se ao vivo, a cores e aromas das mais diversas grifes, sofisticad­as edições das revistas Vanity Fair e Vogue.

A quadrilha montada por Debbie e sua amiga Lou (Cate Blanchett) é um leque de correção política, para não sair do tom agora imperante no show business, todo multiétnic­o e reverente às minorias. Todas as ladies convocadas têm lá suas expertises, como a surpreende­nte e enfumaçada rasta-hacker Rihanna (além do trabalho na quadrilha, ela rouba todas as cenas em que aparece).

Muito divertidas também estão Anne Hathaway e sua designer de moda pessoal, uma Helena Bonham-Carter aparenteme­nte saída de um set estapafúrd­io de um filme de seu ex-marido, o não menos bizarro Tim Burton. Como produção, “Oito Mulheres e Um Segredo” é impecável. Mas a mão indiferent­e, neutra do diretor Gary Ross (“Jogos Mortais”) não encontra o melhor caminho para construir o desejado suspense. Que se esperavam qualquer estilo, desde que fosse genuíno, é bom que se diga. Mas não é: há leveza em demasia, tudo está muito bem orquestrad­inho, a previsibil­idade reina absoluta. Além das ladras de saias, nada de novo sob o sol.

Não chega a ser um thriler, ficando nas franjas da comédia de assalto. É um filme que não assume riscos, esperando sempre que o espectador acate aquele próximo movimento. Fazem falta as qualidades de Soderberg – leveza, ritmo, swing. Mais classe, como aquela que havia de sobra lá atrás, bem lá atrás. Em 1960, mais precisamen­te, quando o grande Lewis Milestone dirigiu nada menos que The Rat Pack – Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr. e Peter Lawford, todos orquestrad­os pela sonoridade genial de Nelson Riddle. Aqui Soderberg assina apenas a produção executiva. E simplesmen­te as estrelas masculinas foram trocadas pelas femininas. E as participaç­ões especiais (Katie Holmes, Kim Kardashian, Heidi Klum) são... as participaç­ões especiais.

Para prestar atenção. Sandra Bullock e Cate Blanchett parecem disputar tacitament­e um concurso de cirurgias plásticas. Lívidas, quase cerúleas: alguém se lembra da dupla antes dos passeios pelo botox? Bem, pelo menos La Bullock está menos parecida com Michael Jackson. Ponto a favor.

 ?? Divulgação ?? Sandra Bullock e Cate Blanchett: plano é se apoderar da obra-prima da joalheria, um colar Cartier avaliado em 150 milhões de dólares
Divulgação Sandra Bullock e Cate Blanchett: plano é se apoderar da obra-prima da joalheria, um colar Cartier avaliado em 150 milhões de dólares

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