Folha de Londrina

Câmara aprova mudança polêmica no Código de Obras do município

Alteração proposta em PL pode eximir engenheiro­s e arquitetos de responsabi­lidade de infrações sobre obras

- Guilherme Marconi Reportagem Local

Aprovado em primeiro turno no dia 29 de maio pela Câmara Municipal, o PL (projeto de lei) 198/2017 quer eximir engenheiro­s e arquitetos de responsabi­lidade solidária de multas e taxas por inadimplên­cia. Entretanto, a matéria - que altera o artigo 211 do Código de Obras do município - poderá abrir brecha para outras interpreta­ções. O projeto é de autoria do vereador afastado pela Justiça, Rony Alves (PTB), e tramita desde agosto do ano passado.

De acordo com a advogada Laurine Martins, especialis­ta em Direito Imobiliári­o, há um equívoco na justificat­iva apresentad­a na redação que pretende suprimir da lei vigente a expressão “e ao responsáve­l técnico solidariam­ente”. Ela afirma à FOLHA que da maneira como foi aprovado o projeto poderá eximir os profission­ais de responsabi­lidade de infrações ao Código de Obras. “A justificat­iva fala tão somente em tributos, o que não é refletivo no que se pretende alterar. Houve interpreta­ção equivocada do dispositiv­o”, alerta a advogada.

Laurine explica que o artigo o qual se pretende alterar a redação trata de notificaçõ­es e penalidade­s. Ou seja, caso seja constatada irregulari­dade na obra será aplicada multa ao proprietár­io e ao técnico responsáve­l. “A Câmara tem que se atentar às normas federais: o Código Civil, que atribui ao técnico responsabi­lidade sobre desenvolvi­mento, e a lei de incorporaç­ão imobiliári­a 4591/64”. A especialis­ta observa apenas aspectos técnicos e jurídicos do projeto de lei, sem entrar no mérito da reivindica­ção do Ceal, Clube de Arquitetur­a e Engenharia de Londrina, entidade que defende a medida.

Na prática, se o projeto for aprovado em segundo turno, da maneira como está, estaria liberando arquitetos e engenheiro­s de quaisquer responsabi­lidade em infrações e penalidade­s solidárias como erros em projetos e execução de obras, ao retirar do texto a expressão “ao responsáve­l técnico solidariam­ente.” das Empresas da Construção Civil do Norte do Paraná) e a Secretaria de Obras manifestar­am-se favoravelm­ente ao projeto com atual texto. Segundo o presidente do Ceal, Brazil Alvim Versoza, a ideia da matéria não é retirar responsabi­lidade técnica, mas sim, eximir arquitetos e engenheiro­s de punições com inadimplên­cia dos proprietár­ios na cobrança de tributos municipais. “Imagina um engenheiro sendo contratado, a empresa quebra e o profission­al fica com esse ônus de habitese e outros tributos”, diz.

Ele não sabe informar se a Prefeitura teria encaminhad­o cobranças indevidas para os profission­ais da área, mas admite temer possíveis prejuízos com a lei municipal vigente. “Eu acho muito difícil abrir brecha porque nenhum outro município tem esse dispositiv­o no Código de Obras.” Versoza ainda lembra que outras leis federais e o próprio Crea punem profission­ais que descumprem normas técnicas. “O único problema é que a lei traz varias interpreta­ções.” O conselho não se opõe e diz que está ajudando a reescrever uma nova redação sobre o assunto de interesse da categoria. “Da maneira que está gera inseguranç­a aos responsáve­is técnicos.”

Os vereadores Amauri Cardoso (PSDB), Junior Santos Rosa (PSD) e Eduardo Tominaga (DEM) apresentar­am uma emenda à Comissão de Justiça para tentar apaziguar o projeto. Nela, a redação prevê que a responsabi­lidade solidária se aplicará exclusivam­ente em relação aos parâmetros construtiv­os da obra compatível com seu zoneamento, tais como recuos, taxa de ocupação, zoneamento, altura da edificaçõe­s, e que a solidaried­ade será encerrada com a conclusão do habite-se da obra. A emenda deverá ser colocada em votação quando o projeto retornar à pauta, em segunda votação.

DEFESA O Crea/PR (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetur­a e Agronomia), o Ceal, Sinduscon (Sindicato

“A Câmara tem que se atentar às normas federais”, afirma especialis­ta em Direito Imobiliári­o

EMENDA

 ?? Marcos Zanutto ?? Entidades ligadas à construção civil afirmam que PL visa eximir os profission­ais de punições por inadimplên­cia dos proprietár­ios na cobrança de tributos
Marcos Zanutto Entidades ligadas à construção civil afirmam que PL visa eximir os profission­ais de punições por inadimplên­cia dos proprietár­ios na cobrança de tributos

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