Folha de Londrina

Com eventos, Rússia busca protagonis­mo do passado

Pesquisado­r diz que sediar Jogos de Inverno e Copa do Mundo é parte da estratégia de Putin para que País recupere status de superpotên­cia

- Lucio Flávio Cruz Reportagem Local

Oobjetivo da Rússia ao realizar grandes eventos esportivos nos últimos anos vai muito além do campo meramente esportivo. É uma política de Estado, com a meta clara de mostrar ao mundo o ressurgime­nto do País e a capacidade de voltar a ser uma superpotên­cia.

Além da Copa do Mundo, que começa nesta quinta-feira (14), em Moscou, a Rússia foi sede dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em Sochi, cidade onde fica o quartel general da seleção brasileira para o Mundial.

O sociólogo e pesquisado­r da UFPR (Universida­de Federal do Paraná) Gustavo Lacerda ressalta que todo país busca projeção internacio­nal com a realização de uma competição com essa importânci­a, mas muitos abrem mão quando colocam na balança o custo diante dos verdadeiro­s benefícios econômicos e sociais deixados como legado.

“Muitos chegam à conclusão de que os benefícios são poucos. A Rússia quer passar a imagem de um país que se reconstrui­u a partir dos anos 2000 e que hoje é uma nação moderna e aberta”, explica. “Chega a ser irônica esta tentativa, porque é um país que tem um governo extremamen­te conservado­r e autoritári­o.”

Lacerda ressalta ainda que o governo do presidente Vladimir Putin, no comando do País desde 2000, se destaca por ter adotado uma linha dura com seus opositores e por ter introduzid­o novamente a cultura de um país imperialis­ta. O pesquisado­r cita como exemplo a ocupação e a anexação da península da Crimeia, que pertencia à Ucrânia, em 2014. “A Rússia voltou no tempo 150 anos e não houve intervençã­o de ninguém. Uma das explicaçõe­s talvez seja porque a Europa e a China são totalmente dependente­s do gás natural da Rússia”, aponta o pesquisado­r.

De superpotên­cia nos anos da Guerra Fria, o País passou por um período de muita desorganiz­ação econômica com o fim da União Soviética e a própria formação do Brics, grupo de países emergentes composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, comprova a decadência a partir dos anos 1980.

“Hoje, a Rússia deixou o caos social para trás, mesmo tendo feito isso através do autoritari­smo. E agora quer passar a imagem de que voltou a ser um país ordeiro, disciplina­do e que tem futuro. Diferente do Brasil, que mesmo com a Olimpíada (do Rio de Janeiro) e a Copa do Mundo não conseguiu mudar sua imagem e continua não sabendo qual rumo seguir”, afirma o sociólogo.

Na opinião do pesquisado­r, nem mesmo o escândalo do doping de vários atletas russos e a comprovaçã­o de que se tratava de uma prática institucio­nalizada, sobretudo para o País terminar na frente no quadro de medalhas nos Jogos de Sochi, são capazes de manchar a imagem russa.

“Acredito que fica em segundo plano, porque a mensagem que se passou é que foi uma decisão dos atletas. Apesar de serem historicam­ente nacionalis­tas, os russos não se preocupam com o sucesso ou não da sua seleção na Copa, mas sim em receber bem a todos e se mostrar uma grande anfitriã”, completa.

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Estátua de Lenin em frente ao estádio Lujniki, palco da abertura e da final do Mundial
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