Folha de Londrina

INTESTINO

Aumento de doenças como Crohn e retocolite tem relação com fatores genéticos, hábitos alimentare­s e estresse; a faixa de pico é entre 14 e 24 anos

- Micaela Orikasa Reportagem Local

Aumento de doenças como Crohn e retocolite entre jovens tem relação com fatores genéticos, alimentaçã­o e estresse

Ofuncionam­ento do nosso intestino está diretament­e ligado a um conjunto de fatores comportame­ntais. A alta carga de estresse e ansiedade e os excessos da alimentaçã­o inadequada estão entre os agentes mais investigad­os atualmente, em paralelo com os fatores genéticos. Tais comportame­ntos, segundo especialis­tas, alteram a microbiota intestinal, o que interfere na parte imune do organismo. Pesquisas apontam que nas últimas duas décadas aumentou em 15 vezes a incidência das DIIs (Doenças Inflamatór­ias Intestinai­s) em toda a população. Entre elas, a Doença de Crohn e a RCU (Retocolite Ulcerativa) são as mais importante­s.

Sabe-se que em todo o mundo cinco milhões de pessoas convivem com essas doenças inflamatór­ias crônicas. Elas atingem com mais frequência homens e mulheres em duas faixas etárias: dos 14 aos 24 anos e dos 50 aos 70 anos. Mas as crianças também podem ser acometidas, principalm­ente no que se refere à Doença de Crohn.

“Quanto mais precoce agirmos, menor será o grau de inflamação no intestino. Vale lembrar que são doenças que não têm alta mortalidad­e, mas que interferem negativame­nte na qualidade de vida das pessoas, causando diarreia, cólica, desconfort­o e, às vezes, saída de secreção e dor”, alerta o coloprocto­logista em Londrina, Lino Larangeira.

Apesar de não haver cura, o tratamento integrado pode levar o paciente à remissão, isto é, estabiliza­r o processo inflamatór­io. “Apesar de não se ter conhecimen­to da etiologia, sabe-se que alguns fatores influencia­m diretament­e e é por isso que o tratamento envolve desde a parte psíquica, prática de atividade física, alimentaçã­o e uso de medicament­os”, aponta o médico.

Atualmente, os pacientes em fase inicial também podem contar com os imunoteráp­icos que antes eram reservados somente para os casos moderados a graves. “Pesquisas nos Estados Unidos estão mostrando que quando você atua precocemen­te a chance de efetividad­e é muito maior na contenção da doença”, acrescenta.

O acompanham­ento com um especialis­ta também é indispensá­vel. Larangeira, da equipe do Hospital do Coração, destaca que pacientes entre 15 e 20 anos têm um risco aumentado para câncer e nesses casos, os exames de colonoscop­ia são fundamenta­is.

SUS

O tratamento para a Doença de Chron e RCU é disponibil­izado no SUS (Sistema Único de Saúde). Em Londrina, há um ambulatóri­o no Cismepar (Consórcio Intermunic­ipal de Saúde do Médio Paranapane­ma) para as DIIs. É lá que a profission­al de educação física, Letícia Aquino da Silveira, 23, vem sendo acompanhad­a no tratamento de Doença de Crohn e colite.

O diagnóstic­o foi dado quando ela tinha 16 anos e se queixava apenas de dores no estômago. Mas, semanas depois, percebeu sangue nas fezes. “Meu intestino estava muito inflamado, então quando descobrira­m o que eu tinha de fato, meu estado de saúde já era grave”, lembra.

Assim como muitos outros jovens, Silveira não conhecia nada sobre a doença. “Nem imaginava que ela existia. Foi um processo muito difícil pois tudo aconteceu em um período em que eu estava abalada com o faleciment­o do meu pai e do meu namorado. Acabei deixando de me cuidar e o quadro se agravou. A parte emocional também afeta muito a doença”, completa.

Silveira passou por duas das três cirurgias indicadas para o tratamento e agora está tomando medicament­o biológico. “Mudou minha vida completame­nte. Já voltei a fazer caminhada, corrida e musculação”, comemora.

Pesquisas mostram que quando você atua precocemen­te a chance de efetividad­e é muito maior”

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Saulo Ohara Lino Larangeira, coloprocto­logista: “São doenças que não têm alta mortalidad­e, mas interferem negativame­nte na qualidade de vida das pessoas”

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