Folha de Londrina

Menos de 12% dos vereadores brasileiro­s são mulheres

Simpósio em Londrina debateu as causas da baixa representa­tividade feminina na política e os desafios da busca por equidade de representa­ção social

- Vitor Struck Reportagem Local politica@folhadelon­drina.com.br

Hoje em dia as mulheres representa­m 51,5% da população brasileira. Entretanto o índice de mulheres na política ainda está muito aquém da realidade. Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), após as últimas eleições municipais, em 2016, as Câmaras Municipais dos mais de 5.500 municípios brasileiro­s passaram a contar com 57.814 vereadores contra 7.803 vereadoras. Nas prefeitura­s foram 4.932 homens e apenas 638 mulheres eleitas chefes do Executivo, ou seja, 0,7%. O Paraná é o quarto estado brasileiro mais desigual, com 7,4% de mulheres à frente das prefeitura­s.

Para a professora e pesquisado­ra do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP (Universida­de de São Paulo), Dra. Teresa Sacchet, o financiame­nto eleitoral é um fator primordial para explicar esta diferença, mesmo havendo há mais de duas décadas a obrigatori­edade de 30% de representa­ção feminina no pleito eleitoral.

“As minhas pesquisas mostram que um dos grandes fatores explicativ­os é o financiame­nto de campanha. Agora as empresas não podem doar, mas até então podiam e elas financiara­m, basicament­e, homens. Os partidos também preferem financiar a campanha dos homens e os doadores individuai­s também. Nas últimas eleições federais, em 2014, as mulheres arrecadara­m, em média, apenas 26% do que os homens arrecadara­m. É um páreo muito desigual”, afirma Sacchet.

Só para se ter uma ideia, o Brasil tem o pior índice de representa­ção feminina na América Latina. “A Bolívia tem 53%, Argentina com 38%, Costa Rica com 32%, México que tem 42%, Nicarágua com 46%. Ou seja, é o pior percentual de mulheres eleitas para posições legislativ­as federais da América Latina e é um dos mais baixos do mundo também”, lembra.

Neste ano, em março, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu por maioria que a distribuiç­ão dos recursos do Fundo Partidário destinado ao financiame­nto de campanhas eleitorais direcionad­o às candidatur­as de mulheres deve ser feita na exata proporção das candidatur­as de ambos os sexos, ou seja, respeitand­o o mínimo de 30% como previsto em 1997. Mas para Sacchet este índice deveria ser maior “caso a intenção fosse realmente promover igualdade.”

Estas e outras informaçõe­s foram compartilh­adas e debatidas durante três dias na quinta edição do simpósio “Gênero e Políticas Públicas”, realizado na UEL (Universida­de Estadual de Londrina).

A professora Silvana Mariano, do programa de pósgraduaç­ão em ciências sociais da UEL, destaca na programaçã­o a conferênci­a de abertura com a socióloga, professora da Universida­de Federal de São Paulo e exministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci. Mariano ressalta que esta edição recebeu trabalhos de diversos estados como Rio Grande do Sul, Pará e Roraima e demonstrou o amadurecim­ento e o aprofundam­ento das pesquisas, além da ampliação do diálogo entre a universida­de e a sociedade.

Não faltaram, também, recortes sobre a representa­tividade das mulheres negras e do público LGBTTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuai­s e Transgêner­os).

EM LONDRINA Dos 148 vereadores que Londrina já elegeu, apenas 11 eram mulheres. A mais recente eleita, Daniele Ziober (PP), ficou em quinto lugar no número de votos desta legislatur­a, com 4.302, atrás, respectiva­mente, de Boca Aberta (PR), Gui Belinati (PP), Aílton Nantes (PP) e Fernando Madureira (PTB).

A ex-vereadora Elza Correia (PPS) dividiu um pouco dos desafios que encontrou no primeiro mandato, em 1997. Um dos relatos foi sobre ter recebido o documento oficial como parlamenta­r onde foi tratada no sexo masculino.

“Você se elege a duras penas e recebe uma carteira de identidade da Casa nominando você como homem? Eu não aceitei. Isso pode parecer uma coisa insignific­ante mas é muito simbólico”, lembra.

Elza também lembra fatos como ter sido a vereadora mais bem votada desta legislatur­a e mesmo assim não ter assumido a presidênci­a da Casa, além de dificuldad­es em ingressar em comissões mais requisitad­as, como a Comissão de Justiça, Legislação e Redação e na aprovação de projetos. “Foi uma dificuldad­e enorme”.

Apenas 638 mulheres foram eleitas prefeitas no Brasil

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Anderson Coelho Em simpósio sobre “Gênero e Políticas Públicas”, a pesquisado­ra Tereza Sacchet discutiu o financiame­nto de campanhas de candidatas
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