Folha de Londrina

O preço da violência

Para cada jovem de 13 a 25 anos que morre assassinad­o, o Brasil perde cerca de R$ 550 mil, segundo estudo do governo federal

- Simoni Saris Reportagem Local

Em 15 de junho de 2017, o estudante Gabriel Sartori, 17, foi morto a tiros no conjunto Cafezal, na zona sul de Londrina, por um policial militar à paisana. O crime aconteceu em frente a um colégio e, segundo testemunha­s, o assassino e a vítima teriam discutido, levando o policial a disparar contra o adolescent­e, que morreu no local. O policial militar alegou que o tiro foi acidental.

Um ano após a morte do estudante, a mãe do jovem, Cristiane Sartori, se refaz da dor da perda. A ida prematura de Gabriel não apenas separou a mãe de seu único filho. Com o assassinat­o, foram embora também os sonhos e planos para o futuro, como o primeiro emprego, que lhe permitiria ajudar no orçamento doméstico e comprar o que a mãe não tinha condições de lhe dar, o alistament­o no Exército e a tão sonhada carteira de motorista, o presente prometido para o aniversári­o de 18 anos, a serem completado­s em 15 de abril deste ano.

“Pelo fato de eu ter me separado quando ele tinha quatro anos, basicament­e éramos só eu e ele. Então, criamos uma parceria muito grande. Além de mãe e filho, éramos muito amigos”, contou Cristiane. “Seu maior medo era me deixar, infelizmen­te o que veio a acontecer.”

Entre netos, primos e sobrinhos, Gabriel era um dos mais paparicado­s, o que torna a sua ausência ainda mais sofrida dentro da família. “Depois de um ano sem minha metade, há uma saudade do que não vivi neste último ano com ele e dos anos que ainda viriam. A dor sempre vai existir, mas não temos opção a não ser seguir a caminhada”, frisou a mãe. “Fico triste com tanta violência porque, infelizmen­te, meu filho não foi o primeiro e nem será o último.”

A tragédia familiar vivenciada pelos parentes de Gabriel Sartori é uma entre milhares que acontecem no Brasil todos os anos e engrossa as estatístic­as de homicídios no País. O Brasil integra a fatia dos 10% de países com as taxas de assassinat­o mais altas do mundo. Apesar de ter uma população correspond­ente a 3% da população mundial, o País concentra 14% dos homicídios registrado­s no planeta.

GASTOS

Além de expor a violência e a criminalid­ade, os números apontam um volume impression­ante de gastos resultante­s dos assassinat­os, especialme­nte entre os jovens, que são a maioria das vítimas desse tipo de crime. Para cada jovem de 13 a 25 anos que morre assassinad­o, o Brasil perde cerca de R$ 550 mil. Em 20 anos, o País teve um prejuízo acumulado de mais de R$ 450 bilhões decorrente dos homicídios. Em 1996, os gastos com a violência somaram R$ 113 bilhões, saltando para R$ 285 bilhões em 2015, valor que correspond­e a 4,38% do PIB nacional.

Os índices de homicídios registrado­s no País são semelhante­s aos observados em Ruanda, República Dominicana, África do Sul e República Democrátic­a do Congo, países nos quais os indicadore­s sociais ficam abaixo dos computados no Brasil. E as vítimas brasileira­s são majoritari­amente homens jovens e negros.

Os dados estão no Relatório de Conjuntura “Custos Econômicos da Criminalid­ade no Brasil”, realizado pela SAE (Secretaria Especial de Assuntos Estratégic­os) do governo federal e divulgado no início da semana passada.

O estudo calculou quanto a criminalid­ade custou ao País entre 1996 e 2015, consideran­do a perda da força produtiva - quanto o Brasil deixou de ganhar com o resultado do trabalho de cada vítima. Para chegar aos

Em 20 anos, o País acumula prejuízo de mais de R$ 450 bilhões decorrente dos homicídios

R$ 450 bilhões, foram mensurados os gastos do setor público e privado nas áreas de segurança, seguros e danos materiais, custos judiciais, perda da capacidade produtiva, encarceram­ento e serviços médicos e terapêutic­os.

PARANÁ

No Paraná, em 2015 a criminalid­ade custou cerca de 3% do PIB, segundo aponta o documento. Naquele ano, o PIB estadual fechou em R$ 376 bilhões. A maior parte dos cerca de R$ 11 bilhões foi gasta com segurança pública e seguros e perdas materiais. Em menor proporção, entram na conta também a perda da capacidade produtiva, gastos com segurança privada, encarceram­ento, custos judiciais e, por fim, serviços médicos e terapêutic­os. A taxa de homicídios no Estado é de cerca de 30 para cada 100 mil habitantes.

O cientista político e secretário especial da Secretaria de Assuntos Estratégic­os, Hussein Kalout, avalia que o Relatório de Conjuntura evidencia a necessidad­e urgente de se recuperar a destinação de recursos públicos no combate à criminalid­ade ao mostrar o baixo retorno retorno social dos gastos em segurança pública. “Uma das recomendaç­ões é o planejamen­to de ações baseadas em evidências para o direcionam­ento da segurança pública”, afirma ele por meio da assessoria de imprensa da SAE.

Para Kalout, é necessário que haja uma análise das políticas de segurança já existentes para se verificar a eficiência de sua execução, com a possibilid­ade de continuida­de ou descontinu­idade de algumas ações. “Seria uma forma mais eficaz de direcionar recursos públicos a ações de sucesso, deixando de custear políticas de segurança sem evidente retorno social.”

Apesar da taxa elevada de homicídios no Paraná, a Sesp (Secretaria de Estado da Segurança Pública e Administra­ção Penitenciá­ria) afirma que tem investido na compra de viaturas e armamento e na contrataçã­o de policiais - foram 3 mil viaturas e 11 mil policiais nos últimos anos. O reforço de pessoal e estrutura, teve como resultado “uma expressiva queda da criminalid­ade em todo o Paraná”, afirmou a secretaria por meio de nota encaminhad­a pela assessoria de imprensa.

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