Era de recomeços
Basta um anúncio de seleção de emprego para garimpar um mutirão de exemplos de trabalhadores na fila dos dispostos a seguir em frente, mesmo que o caminho seja diferente
Oacompanhamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) tanto para o volume de desempregados, quanto de trabalhadores “desalentados”, aqueles que desistiram de procurar trabalho, segue reunindo um contingente de milhões de brasileiros identificado de Norte a Sul do país. Tais indicadores, no entanto, não contabilizam a massa de profissionais dispostos a recomeçar e que são facilmente encontrados em qualquer processo seletivo anunciado.
No início deste mês, a Folha acompanhou por algumas horas uma dessas seleções para contratação imediata da rede de supermercados Condor. Um total de 35 vagas para operadores de caixa foi anunciado e mais de 300 pessoas se dirigiram ao endereço da seleção.
Um deles, foi o profissional de TI Tirone Cortiano, 42 anos. Apesar de estar desempregado há dois meses, após seis anos trabalhando com o monitoramento de banco de dados da empresa, que precisou reduzir o quadro por conta da crise, Cortiano resolveu expandir seus horizontes para um nova carreira, no varejo. “Tanto minha formação do 2º Grau, o atual Ensino Médio, quanto minha graduação foram na área da informáticas, mas vejo que com tanta mudança no mercado de trabalho, a realidade do emprego na minha área mudou, junto com a minha vontade tentar um novo caminho”, constata. Graduado em 2007, em Informática no Gerenciamento de Pequenas e Médias Empresas, Cortiano acredita que é na soma de toda a vivência profissional que ele reuniu ao longo de duas décadas trabalhando em diversas atividades e o desejo por fazer algo novo que reside o futuro profissional dele e de muitos trabalhadores na mesma situação. “Não via perspectiva de continuar trabalhando da mesma forma e acredito que posso trilhar uma carreira nova a partir do cargo de operador de caixa, até para que eu consiga conhecer cada setor nessa trajetória”, justificou.
Ainda que com histórico profissional diferente de Cortiano, a auxiliar de serviços gerais Eunice Sena, 40 anos, que foi selecionada, também vislumbra na oportunidade de operadora de caixa um novo direcionamento para a sua vida profissional. “Foram nove meses buscando trabalho, sendo que logo que saí da empresa anterior, onde estava há três anos, resolvi investir em um curso de liderança no Senac, porque quero crescer e, pelo que vi, estão pedindo cada vez mais qualificação”, comentou. Com a vaga, Eunice acredita que o investimento no cursos somado à vontade de evoluir é o caminho para o recomeço que ela deseja. “Não dá para desistir, nem desanimar. Quando saí da empresa por motivo de corte de custo, estava tão difícil conseguir trabalho, que nem como diarista estava aparecendo. Mandei currículo para uns 10 lugares e apenas três chamaram para entrevista. Mas, finalmente, estou retornando”, comemorou.
A coordenadora de RH da rede de supermercados Condor, Charmoniks da Graça Hauer, considera que os pontos fundamentais para se destacar em uma seleção é dede monstrar vontade de trabalhar e evoluir, ir para a entrevista com os documentos exigidos e conhecendo a empresa para qual se quer trabalhar. “Precisa existir uma identificação com o negócio para o qual se quer trabalhar, a fim de que a relação seja boa para contratante e contratado”, orienta. “A postura diante do recrutador é decisiva em qualquer seleção. No caso da vaga que abrimos e do negócio supermercado, uma boa comunicação e gostar de lidar com pessoas também se mostram indispensáveis, mas acho que acima de tudo é a força de vontade de produzir e fazer as coisas acontecerem o que garante toda a diferença para se tornar empregável”, resume Charmoniks.